A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 13,24-43 que corresponde ao 16º Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Ao cristianismo foi muito prejudicial ao longo dos séculos o triunfalismo, a sede de poder e a ânsia de impor-se aos seus adversários. Todavia há cristãos que anseiam por uma Igreja poderosa que encha os templos, conquiste as ruas e imponha a sua religião a toda a sociedade.
Temos de voltar a ler as pequenas parábolas em que Jesus deixa claro que a tarefa dos seus seguidores não é construir uma religião poderosa, mas colocar-se a serviço do projeto humanizador do Pai – o reino de Deus – semeando pequenas «sementes» de Evangelho e introduzindo-as na sociedade como pequeno «fermento» de uma vida humana.
A primeira parábola fala de um grão de mostarda que se semeia na horta. Que tem de especial esta semente? Que é a mais pequena de todas, mas, quando cresce, converte-se num arbusto maior que as hortaliças. O projeto do Pai tem um início muito humilde, mas a sua força transformadora não podemos agora nem imaginar.
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A atividade de Jesus na Galileia semeando gestos de bondade e de justiça não é nada de grandioso nem espetacular: nem em Roma nem no Templo de Jerusalém são conscientes do que está sucedendo. O trabalho que realizamos hoje seus seguidores parece insignificante: os centros de poder o ignoram.
Inclusive os mesmos cristãos podemos pensar que é inútil trabalhar por um mundo melhor: o ser humano volta uma e outra vez a cometer os mesmos horrores de sempre.
Não somos capazes de captar o lento crescimento do reino de Deus.
A segunda parábola fala de uma mulher que introduz um pouco de levedura numa grande massa de farinha. Sem que ninguém saiba como, a levedura vai trabalhando silenciosamente a massa até a fermentar inteiramente.
Assim sucede com o projeto humanizador de Deus. Uma vez que é introduzido no mundo, vai transformando silenciosamente a história humana. Deus não atua impondo-se a partir de fora. Humaniza o mundo atraindo as consciências dos seus filhos para uma vida mais digna, justa e fraterna.
Temos de confiar em Jesus. O reino de Deus sempre é algo humilde e pequeno nos seus inícios, mas Deus está já a trabalhar entre nós promovendo a solidariedade, o desejo de verdade e de justiça, a ânsia de um mundo mais ditoso. Temos de colaborar com Ele seguindo Jesus.
Uma Igreja menos poderosa, mais desprovida de privilégios, mais pobre e mais próxima dos pobres sempre será uma Igreja mais livre para semear sementes de Evangelho e mais humilde para viver no meio das pessoas como fermento de uma vida mais digna e fraterna.
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Fonte: Publicado pelo Instituto Humanitas, 21/07/2017.