Prefiro morrer na luta do que morrer de fome!
(Rose Nunes – acampada da Fazenda Anonni, 1987)
Carta às Comunidades
Nós, romeiros e romeiras da 40ª Romaria da Terra, realizada no Assentamento Fazenda Anonni, município de Pontão, queremos saudar a você e sua Comunidade. E, ao mesmo tempo, partilhar o que vivemos, vivenciamos e assumimos nesta Romaria.
São 40 anos que caminhamos em Romaria da Terra, no Rio Grande do Sul. Já avistamos muitos horizontes, contemplamos muitas matas e paisagens, percorremos muitos quilômetros, denunciamos muitas injustiças, comemoramos e celebramos muitas conquistas, fizemos memória de muitos mártires e companheiros de luta, especialmente, entre nós, a Rose e o índio Sepé Tiaraju.
Comemorando os 40 anos de Romarias da Terra no RS, somos como o Povo de Deus que vagueia pelo deserto em busca da Terra Prometida.
Ao celebrar essa bela caminhada das Romarias da Terra, tivemos como lema: Terra de Deus, Terra de Irmãos! É isso mesmo! Cremos que Deus continua presente com aqueles que lutam pela terra dos irmãos e a vida abundante para todos.
E com São Sepé Tiaraju reafirmamos: Alto lá! Esta terra tem dono!
Desde o Assentamento da Fazenda Anonni, revivemos o momento de sua ocupação, em 1985, o tempo de acampamento, a 9ª Romaria da Terra, de 1986, o assentamento das 423 famílias, com toda a sua produção.
Contemplamos as maravilhas que aconteceram neste tempo de vida e de organização do MST, na região e no Estado. Sentimos de perto os frutos da Reforma Agrária, especialmente através da Feira dos produtos dos Assentamentos do RS.
Como fizemos desde a 1ª Romaria da Terra, continuamos a denunciar todo o sistema econômico, social e político vigente em nosso País, o agronegócio, intrinsecamente perverso, da lógica de acumulação, da ganância, que gera divisões sociais, exploração, opressões, sofrimento e morte.
A partir desta 40ª Romaria da Terra, reafirmamos nossos compromissos:
>> Apoio e compromisso com a Reforma Agrária popular;
>> Incentivo a toda forma de agricultura familiar e camponesa, associativa e cooperativa;
>> Busca de uma organização social e sindical para garantir os direitos negados;
>> Estímulo a toda forma de produção de alimentos saudáveis e agroecológicos;
>> Produção de sementes crioulas para não sermos dependentes de empresas multinacionais;
>> Combate à desmoralização, a criminalização e a repressão dos Movimentos Sociais;
>> Engajamento na luta das mulheres e dos jovens contra todo tipo de violência;
>> Compromisso com o protagonismo dos jovens nas esferas eclesiais e sociais;
>> Defensa da biodiversidade e dos biomas brasileiros, em especial nosso Pampa;
>> Fortalecimento do trabalho de base e da aproximação dos explorados e excluídos;
>> Luta por uma educação no campo e na cidade que valorize a inclusão social e econômica;
>> Participação da juventude e dos trabalhadores nos espaços de construção de políticas públicas;
>> Demarcação das terras indígenas e quilombolas e respeito às suas culturas;
>> Resgate dos saberes populares, como a medicina e a alimentação alternativas;
>> Trabalho de conscientização dos direitos humanos e sociais;
>> Preparação de militantes das causas sociais e comunitárias;
>> Formação de Comunidades Eclesiais de Base e organização das Pastorais Sociais;
>> Trabalho ecumênico a partir das lutas concretas e de base, na defesa da vida e da ecologia;
>> Construção relações de gênero sem discriminações e preconceitos, em igualdade e fraternidade.
Com o sonho de Rose, continuamos acreditando na terra de Rose. Com São Sepé Tiaraju, os povos indígenas, os quilombolas, os Sem Terra, os agricultores familiares, os ecologistas e tantos irmãos e irmãs, continuamos acreditando e construindo uma terra sem males.
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Fonte: www.cptnacional.org.br.