Lucas reúne nos primeiros dez versículos deste capítulo diversos dizeres de Jesus sobre algumas atitudes fundamentais para a vida de quem quer seguí-Lo pelo caminho do discipulado. Podemos dividir o trecho de hoje em duas partes: vv. 5-7 e vv. 8-10.
A primeira parte trata da questão da fé inabalável, que deve ser característica do discípulo. Inicia-se o diálogo com os apóstolos expressando diante de Jesus a sua insegurança quanto à sua fé: “Os apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta a nossa fé!” (v. 5). Tal pedido tem outros ecos nos evangelhos. Faz-nos lembrar do pai do moço epiléptico em Marcos: “Eu tenho fé, mas ajude a minha falta de fé!” (Mc 9, 24).
É a experiência de todo(a) discípulo(a) – acreditamos em Jesus, queremos seguir a sua pessoa e o seu projeto, mas a vida se encarrega de nos demonstrar como é fraca a nossa fé – quantas caídas, traições, incoerências, recaídas! O único recurso é pedir este dom gratuito de Deus, que ninguém pode exigir por seus próprios méritos, que é a fé inabalável. Do fundo no nosso ser gritamos com os Doze: “Aumenta a nossa fé!”
Com a hipérbole (exagero) típica do oriental, Jesus enfatiza tanto a necessidade da fé quanto a sua força, através das imagens do grão de mostarda (semente bem pequena), e do sicômoro – árvore mais ou menos grande que tem um sistema extensivo de raízes: “Se vocês tivessem fé do tamanho de uma semente de mostarda, poderiam dizer a este sicômoro: “Arranque-se daí, e plante-se no mar. E ela obedeceria a vocês.” (v. 6)
A segunda parte do trecho fala sobre a atitude correta de quem tem um ofício ou ministério dentro da comunidade cristã. Em outros trechos – como 12, 35-37 – Lucas enfatiza a gratuidade de Deus diante da escolha dos seus discípulos. Aqui temos o outro lado – a responsabilidade de quem foi chamado sem mérito algum da sua parte. Ser chamado para qualquer ministério, ordenado ou não, é para que sigamos o exemplo do Mestre, que não veio para ser servido mas para servir, e não para nos vangloriarmos como se fôssemos mais do que os outros membros da comunidade.
O ensinamento não é que os discípulos não valem nada, nem que o seu trabalho não tem valor. O ponto central é que o fato de terem desenvolvido bem as suas tarefas e missão não lhes dá o direito de exigir a graça de Deus por causa dos seus méritos. Tal graça é, e sempre será, um dom gratuitamente oferecido.
Hoje nós estamos na mesma situação dos apóstolos – fomos chamados à fé sem mérito algum da nossa parte. Agradecendo a Deus por este dom, assumamos a nossa parte – a de cumprir bem a missão recebida, sem nos gabarmos disso, pois se nós conseguimos fazer bem as coisas, também é porque podíamos contar com a graça de Deus (cf. 2 Cor 12, 1-10). Sem falsa humildade, mas também sem vaidade, devemos rezar: “Somos empregados inúteis; fizemos o que devíamos fazer” (v. 19)