Afastou-se deles e foi levado ao céu.
Chegamos ao último trecho do Evangelho de Lucas. Quase todo este capítulo é encontrado somente em Lucas, e revela bem o seu pensamento. Podemos dizer que o Evangelho todo culmina na postura dos discípulos, descrita no versículo 52: “Eles o adoraram”. Esta é a primeira e única vez que Lucas diz que os discípulos adoraram Jesus. Aqui há uma aproximação entre a cristologia de Lucas e a de João em Jo 20,28.
O trecho abre com uma frase que faz lembrar os dois discípulos na estrada de Emaús: “Jesus abriu a mente deles para entenderem as Escrituras.” (v. 45). Vale a pena salientar que ele fez que eles “entendessem” as Escrituras – não que as “conhecessem”, pois estavam bem a par de tudo que as Escrituras falavam! O problema deles – como dos dois de Emaús – era de entender como as Escrituras podiam iluminar a sua caminhada, na sua situação concreta.
Lucas frisa que o anúncio do Evangelho incluirá a grande Boa Nova do perdão dos pecados. Essa Boa Notícia “será anunciada a todas as nações, começando por Jerusalém” (v.47). Aqui explica como a salvação chegará aos outros povos – através da pregação e testemunho das comunidades cristãs. Por isso devemos entender a frase “E vocês são testemunhas disso” (v.48) como referente não só aos Onze, mas a todos os discípulos e discípulas de Jesus! Podemos lembrar-nos de Lc 24,9. 33 – onde enfatiza que além dos Onze, estavam também presentes “os outros”. Isso é importante para que não caiamos na cilada de achar que a missão de testemunhar os valores do Reino seja algo reservado aos ministros ordenados. O Documento de Aparecida insiste muito que não é possível ser discípulo/a de Jesus sem ser missionário/a. Essa incumbência, e privilégio, vêm do nosso batismo! As comunidades poderão contar com um poderoso ajudante nesta missão gostosa, mas árdua – o Espírito Santo, prometido pelo Pai: “Agora eu lhes enviarei aquele que meu Pai prometeu” (v.49). O comprimento dessa promessa será graficamente descrito na continuação da obra de Lucas, nos primeiros dois capítulos dos Atos dos Apóstolos.
O último parágrafo contém numerosas referências a Lc 1,5 – 2,25. O texto grego usa o verbo que no Antigo Testamento é usado para descrever o Êxodo, quando diz: “Jesus levou os discípulos para fora da cidade” (v.50). Para Lucas, Jesus está prestes a completar o seu Êxodo ao Pai. Mas antes, “Ergueu as mãos e os abençoava”(v. 50b). É a única vez que no Evangelho de Lucas se diz que Jesus abençoou alguém. No fim da liturgia da sua vida, Jesus dá a sua bênção final aos que vão continuar a sua missão! Os discípulos sentem grande alegria – um tema destacado no início da vida de Jesus, no seu nascimento em Belém, quando os anjos trouxeram notícias de grande alegria! A alegria prometida no início está presente no fim! Por isso, os discípulos se encontram no Templo, onde Jesus foi apresentado e onde Simeão louvou a Deus. O Evangelho de Lucas conclui afirmando que eles também “Estavam sempre no Templo, bendizendo a Deus.” (v. 53). O autor termina enfatizando a resposta que os seus leitores devem dar, na medida em que eles aceitam que em Jesus chegou a nossa salvação, através da ação gratuita do Deus misericordioso! Esta resposta de bendizer a Deus não é somente com os lábios, mas com uma vida dedicada e missionária, no seguimento de Jesus de Nazaré e comprometida com a construção de comunidades e sociedades alternativas, baseadas na partilha e na solidariedade. Esse é um dos grandes temas da segunda parte do Evangelho de Lucas, que nós conhecemos como “Atos dos Apóstolos”, um dos livros bíblicos preferidos no estudo bíblico nas comunidades de hoje.
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