A declaração ocorreu no Ato de Juristas pela Legalidade e Democracia, que ocupou o Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, na noite de hoje (17). Segundo Semer, a imprensa tem antecipado os processos e os testemunhos, causado a exposição de réus, além de transformar as manifestações em espetáculo.
“Temos que ter muito certo que não é possível apurarmos, julgarmos, investigarmos, passando por certos limites e pela lei”, disse. O juiz explicou que o grampo telefônico é uma violação da privacidade, a qual é um direito constitucional, porém, há a possibilidade legal de interceptação telefônica dentro de uma investigação criminal.
O grampo, portanto, serviria somente como prova do processo criminal e apenas as pessoas que trabalham nesse processo poderiam ter acesso às conversas interceptadas. “Mesmo que os processos não sejam sigilosos, as escutas são, a lei determina isso. Porque você só pode quebrar a privacidade de uma pessoa por um interesse muito maior, processual, mas não para divulgar para as pessoas”, disse Semer. “O grampo não é ilegal, mas a exposição dessas pessoas é extremamente nefasta”.
Para o juiz, há ilicitude toda vez que há um vazamento de grampos. “Se o delegado vazou, está errado. Se o promotor vazou, está errado. Se o advogado vazou, está errado. Se o réu vazou, está errado. Agora a questão a se perguntar, e eu deixo essa questão em aberto, é o que fazer quando é o próprio juiz que encaminha [as interceptações]?”.
Efeito político
“As decisões da Lava Jato, que aparentemente eram republicanas no início, perderam totalmente esse caráter republicano e se tornaram decisões politicamente orientadas. O Ministério Público, a Polícia Federal e particularmente a figura do juiz [Sérgio] Moro estão querendo produzir um efeito nas massas, que é um efeito de comoção social, visando alcançar fundamentalmente dois objetivos”, disse Fornazieri.
Os objetivos citados pelo professor são a derrubada do governo Dilma e a inviabilização da candidatura do ex-presidente Lula em 2018. “Os atos que ocorreram ontem e hoje, ontem pela parte do Moro e hoje de manhã por parte de um outro juiz de primeira instância [Itagiba Catta Preta Neto, que suspendeu, em liminar, a posse de Lula como ministro-chefe da Casa Civil], confirmam uma tese que venho defendendo há algum tempo: está em curso um golpe judicial no Brasil e nós temos um estado de exceção judicial”.
Defesa da democracia
“Eu penso que os democratas não devem temer. Cabe aos democratas não provocarem, não estimularem a violência, mas cabe também não se acovardar e defender a democracia nas ruas”, concluiu o professor.