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Unidos, movimentos sociais vão às ruas contra o impeachment e pela saída de Cunha

Unidos
Milhares de pessoas foram às ruas, no final da tarde desta quarta-feira (16), na Capital, contra o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), aberto pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB). O ato fez parte do dia de manifestações em todo o país em defesa do mandato da presidente e da democracia, contra o ajuste fiscal e pela saída de Cunha.

Organizada pela Frente Brasil Popular e pela Frente Povo Sem Medo, a manifestação em Porto Alegre começou em frente à prefeitura. No local, representantes de centrais sindicais, de movimentos sociais, como Via Campesina, Movimento Nacional de Luta pela Moradia, dos estudantes de diferentes universidades, de matriz africana foram se juntando ao protesto. Enquanto manifestantes chegavam, outros preparavam faixas ou seguravam cartazes, a maioria com a frase “Fora, Cunha.”

O metalúrgico Eduardo Ramos era um deles. No cartaz que segurava, além da saída do presidente da Câmara dos Deputados, reivindicava mais saúde e educação. “Acho que tudo começa pela educação. Saúde e educação são fundamentais”, justificou ele, que é diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre. Sobre Cunha, o metalúrgico disse ser inadmissível que, apesar das denúncias de manutenção de contas secretas na Suíça e desvio de dinheiro público apontado pela Operação Lava Jato, ele continue no cargo. “Será que só pobre vai para a cadeia, rico também tem de ir”, questionou Ramos. Alguns manifestantes levaram bonecos de Cunha com os bolsos cheios de dólares numa referência às contas clandestinas mantidas pelo chefe da Câmara.
Enquanto os manifestantes se organizavam para partir em marcha pelas principais ruas da Capital, integrantes dos movimentos sociais se encarregavam de puxar os cantos: “Não vai ter golpe, vai ter luta”, “Ai, ai, ai, empurra o Cunha que ele cai”, “Pisa ligeiro, pisa ligeiro, quem não pode com a formiga não atiça o formigueiro”. Ao mesmo tempo distribuíam panfletos informando sobre os motivos do ato.

Depois, os manifestantes cruzaram o Largo Glênio Peres, a essa altura já com a participação também do movimento cultural da cidade, e seguiram em marcha pelas ruas centrais dos arredores. Com muitas faixas em defesa da democracia, bandeiras de diferentes cores e representações, camisetas e adesivos com “Fora, Cunha”, eles gritavam empolgados “Não vai ter golpe, vai ter luta”. Aos comerciantes que estavam em frente às lojas e ao público, faziam um apelo: “Vem, vem, vem pra rua vem, que é contra o golpe”. Em alguns momentos, interromperam os cantos para explicar à população os motivos da marcha: “Nós, trabalhadores e trabalhadoras, viemos dialogar com os nossos: Não vai ter golpe, vai ter luta”, disse um dos manifestantes.

“Os golpistas que querem o impeachment são os mesmos que querem flexibilizar a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que querem retirar direitos”, completou outra integrante da marcha, ao microfone, enquanto passavam por paradas de ônibus lotadas. O ato se encerrou na Esquina Democrática com manifestação de inúmeras lideranças, desde representantes de partidos de esquerda, de centrais sindicais até de diversos movimentos sociais. Presidente estadual do Partido dos Trabalhadores (PT), Ari Vannazzi admitiu que o próprio partido tem críticas ao governo da presidente Dilma, contudo é inadmissível “um golpe.”

“Não se esqueçam de falar para os colegas, os vizinhos que os golpistas do impeachment são os mesmos que querem estender a terceirização sem limites, são os mesmos que dizem que a valorização do salário mínimo não é compatível com o país”, alertou o presidente estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Claudir Nespolo, entidade que integra a Frente Brasil Popular. O dirigente sindical frisou, ainda, que os defensores do processo de impeachment também são críticos dos investimentos nos programas Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida, os classificando como “gastança.” “Nós vamos colocar os golpistas em seu devido lugar”, concluiu Nespolo.

Representante da União Nacional dos Estudantes (UNE), Lucas Maróstica começou sua fala comunicando que o procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, havia, no final da tarde desta quarta-feira, feito um pedido de afastamento de Cunha da presidência da Câmara ao Supremo Tribunal Federal (STF), motivo de muita comemoração pelos manifestantes e agitação das bandeiras. Em seguida, ele focou na importância dos movimentos sociais irem para as ruas. “Não se trata de apoiar o governo Dilma, trata-se dos avanços que estão em jogo”, argumentou o estudante. “Todos que têm compromisso com a democracia têm de se multiplicar”, reforçou a presidente do Centro dos Professores do Rio Grande do Sul (Cpers), Helenir Schürer.

Já a coordenadora estadual do Movimento Negro Unificado, Ana Honorato, aproveitou para convocar todos a participarem do lançamento da Frente Negra em Defesa da Democracia, na próxima segunda-feira (21), às 18h, na Assembleia Legislativa. “É mais uma frente que se soma à defesa da democracia”, completou ela. Da União Brasileira de Mulheres, Tite Alves afirmou que os defensores do impeachment são os “que refutam as conquistas brasileiras.” “Com democracia não se brinca, estaremos nas ruas gritando mais alto”, avisou ela, num recado a movimentos pró-impeachment.

Ao final, um dos organizadores do ato pela Frente Povo Sem Medo, Mateus Portela, avaliou a manifestação como “um avanço” devido à “unidade” dos diversos movimentos socais que se juntaram à marcha. Também, segundo ele, foi importante “dialogar com a população” sobre o momento que o país passa e os reflexos da política econômica. “Os banqueiros lucram e a população paga esse lucro”, observou o jovem, que também integra o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB).

Os agentes da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) calcularam que 4 mil pessoas participaram do ato. Já os organizadores estimaram em 8 mil manifestantes.

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