Reflexão de João 4, 1-15; 28-42, no dia 20/05/2015, 19:30, na Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), Paróquia São Pedro, em Guarapari – ES, por ocasião da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.
Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão com o Espírito Santo esteja com todos vocês. Amém.
Estimada comunidade ecumênica. Nós acabamos de ler uma história bonita: o encontro de duas pessoas: um homem e uma mulher. Um homem e uma mulher de culturas diferentes: Samaria e Judeia/Galileia.
Por muitos motivos, também de intolerância, os samaritanos eram discriminados, considerados um povo não puro, cheio de religiões estranhas, muita mistura. Um povo inferior. A rejeição a Samaria era tão grande que havia até caminhos secundários, atalhos, para não cruzar pelo território samaritano.
Jesus vem da Judeia e vai em direção à Galileia e decide não seguir os atalhos, mas o caminho oficial. Assim, não somente passa pela Samaria, mas fica nela e dialoga com a sua gente, neste caso, uma mulher.
Nós também temos Samarias, ali onde vivemos, onde não queremos cruzar: os lugares pobres, as favelas, a vida das mulheres que sofrem de violência, o assassinato de jovens… São Samarias que não queremos cruzar, que não estão no nosso roteiro.
Temos Samarias dentro de nós mesmos, aqueles lugares que nunca queremos tocar, analisar, lugares onde moram as nossas intolerâncias, as indiferenças, o nosso orgulhos e más ideias… É preciso chegar ali, cruzar ali, dar uma parada e encontrar-se ali com o outro, buscar outros valores, modos de ser… Melhorar. Isso é necessário se queremos seguir o caminho do Ecumenismo. Ver e superar as Samarias que atrapalham a nossa unidade. Não buscar os atalhos.
A Samaritana, uma mulher sem nome, está junto ao poço. Ela vem buscar água. Ela tem sede. Rejeitada como povo e como mulher, vai sozinha. Ninguém está com ela.
Jesus também tem sede, está cansado, exausto. O encontro entre os dois gera surpresa, pois não era comum estrangeiros desejarem ter contato com os samaritanos. Jesus, por outro lado, quis e precisava passar pela Samaria. Era parte de seu ministério. Seu ministério incluía o encontro com o outro, com a cultura diferente, com religiosidades diferentes. Jesus sabia que o amor de Deus não se restringe a um povo. No horizonte de Jesus estava a diversidade, a pluralidade e não a pobreza da homogeneidade. Jesus também sabia que as divisões, intolerâncias, os preconceitos, os julgamentos são contrários ao Reino de Deus. Era preciso enfrentá-los. E mais do que apenas analisar, era preciso fazer com que a paz voltasse a reinar. Assim aprendemos que nosso encontro com o outro deve abrir o caminho, deve destravar estranhamentos, desbloquear mal entendidos, deve gerar comunhão, deve ajudar a superar conflitos para que a paz reine. Esse é o papel de cada líder, a função de todos nós que seguimos Jesus rumo à Samaria.
Dá-me de beber, diz Jesus! Todos nós temos sedes. Isso nos torna iguais. Todos nós temos sedes e água a oferecer. Temos baldes, temos um poço, algo que possa ser oferecido ao mundo, para que ele seja um bom lugar para todos viverem, não somente meus amigos próximos. Saber-se com sede é algo importante na vida. Nós necessitamos da ajuda e do dom da outra pessoa. Não somos autossuficientes. Deus fez o mundo interconectado. Não estou fora desta teia de relações que é a vida. Se me excluo, não compartilho o que sei e quem eu sou, estarei fazendo falta, alguém sofre esta minha falta. Somos chamados a aceitar água do poço de quem é diferente e também a oferecer um pouco de nossa própria água. Na diversidade, nos enriquecemos e garantimos o bem-viver. O ecumenismo requer o compromisso de cada um/a.
E nós, temos sede de que? Sede de água, mas outras sedes, de sentido, de vida. A mulher, neste caso, tinha sede de ser valorizada, de ser reconhecida como pessoa em sua integridade, valorizada e amada. E isso realmente ocorre. No final do texto, ela vai a sua cidade e dá testemunho. Ela deixou o pote, o que mostra que a sede de sentido, de salvação, era maior do que a sede de água. Tanto assim que ela deixa o pote e se assume como discípula, seguidora de Jesus. Ela teve uma experiência de libertação, de salvação. Teve a sua sede de sentido e de dignidade saciada. Por isso Jesus é a água viva!
Que nós possamos ter esta experiência de deixar os nossos potes. Que o nosso saciar seja além da sede física.
Que tenhamos sede de vida, sede de superar as barbáries de nossos tempos.
Falando da realidade das mulheres, o Brasil ocupa o sétimo lugar no mundo em homicídios/assassinatos de mulheres. É o Espírito Santo o primeiro estado do Brasil em índice de assassinato de mulheres, o que é a forma mais brutal de violência.
Em relação às demais violências, os índices são ainda mais alarmantes: 70% das mortes ocorrem dentro de casa, ou seja, por pessoas próximas. A mulher samaritana também passou por isso. O texto diz que ela teve 5 maridos. Quantas experiências de frustração, inclusive violência, estão por trás de todos estes relacionamentos. Por isso ela tem esta sede toda, sede de um mundo não patriarcal, onde homens e mulheres se amem e se respeitem.
Nós precisamos ir até o poço, não tem mais como negar isso. A história, o nosso país requer isso. É preciso sentar juntos, compartilhar da mesma água e buscar a água viva, aquela que vai saciar as nossas sedes mais profundas, de comunhão, de amor, de superação de violência, de intolerâncias, de paz. Saciados da água viva, podemos largar os nossos potes, aqueles que matam somente nossas sedes pessoais, e poderemos saciar as sedes de nossas Samarias e samaritanas.
Que Deus assim nos ajude! E que a paz de Deus que supera todo o entendimento, guarde os vossos corações e mentes em Cristo Jesus. Amém.