Mesmo em países como o Brasil, onde não existem guerras e conflitos abertos entre religiões, diariamente, em alguma parte do Brasil, há notícias de discriminação e violências da parte de cristãos fundamentalistas contra pessoas ou grupos das religiões afrodescendentes. E esses atos de ódio e intolerância são perpretados em nome de Jesus que nunca discriminou ninguém e, ao contrário, elogiou a fé de uma mulher da religião cananeia, de um oficial romano e tomou um samaritano (herege) como modelo para uma de suas principais parábolas.
Essa realidade de conflitos interculturais e inter-religiosos confirma o que dizia o teólogo Hans Kung: “O mundo não terá paz se as religiões não se entenderem e, por motivos históricos e culturais, o diálogo entre as religiões não ocorrerá, se as Igrejas cristãs não se unirem”. Daí, se pode concluir que o ecumenismo, movimento pela unidade das Igrejas e pelo diálogo e cooperação das religiões a serviço da paz e da justiça no mundo diz respeito a todas as pessoas de boa vontade que querem um mundo mais justo e fraterno.
Como está organizado no mundo, o movimento pela unidade dos cristãos tem pouco mais de cem anos. Como os cristãos acreditam que a unidade é um dom divino, a primeira ação para se viver o diálogo e a unidade é a oração. Por isso, uma das iniciativas mais importantes da pastoral ecumênica é a “Semana de oração pela Unidade dos Cristãos”. No Brasil, ela é celebrada sempre em preparação à festa de Pentecostes. Neste ano, de 1° a 8 de junho. Ela é preparada e coordenada pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), com o apoio da conferência dos bispos católicos (CNBB). Nesse ano, os subsídios preparatórios para as celebrações e cultos ecumênicos foram preparados por cristãos de várias Igrejas do Canadá e tem como tema principal a palavra provocatória do apóstolo Paulo na carta aos coríntios: “Estará o Cristo dividido?” (1 Cor 1, 1- 13).
De fato, se cremos que todos os discípulos e discípulas de Jesus formam o Corpo de Cristo do qual Jesus é a cabeça, ao nos dividirmos, estamos dando um testemunho de que o próprio Cristo, embora não esteja, parece ao mundo como dividido. A Igreja sempre ensinou que o corpo de Cristo não está dividido porque mantém uma unidade fundamental entre todas as pessoas batizadas. São Paulo escreveu aos efésios: “Há um só Senhor, uma só fé, um mesmo e único batismo (em todas as Igrejas). Nós cristãos, somos todos chamados a uma única esperança” (Ef 4, 1- 4).
Mas, essa unidade não é visível. E nós oramos e trabalhamos pela unidade visível de todas as Igrejas cristãs. Há 50 anos, na Igreja Católica, o Concílio Vaticano II promulgava o Decreto sobre a unidade dos cristãos. Esse documento começava dando os principais motivos pelos quais todo cristão tem de considerar prioritário e essencial o esforço para a unidade visível das Igrejas:
- A divisão é contrária à vontade de Deus.
- É um escândalo para o mundo (os cristãos pregarem o amor e eles mesmos serem divididos).
- Por isso mesmo, a divisão é um obstáculo para a missão. (Jesus orou ao Pai: “Faze que todos os meus discípulos sejam Um para que o mundo creia!”(Jo 17, 19 – 21).
No século III, Cipriano, pastor da Igreja de Cartago, ensinava: “A unidade abole a divisão, mas respeita as diferenças”. A unidade dos cristãos não visa a uniformidade de uma só instituição eclesiástica, mas a diversidade reconciliada de Igrejas irmãs, como um ensaio de um mundo de diálogo e de paz.



