Domingo XXXII do Tempo Comum
João 2,13-22
João Ferreira Santiago – CEBI Paraná
O título dado a este texto encontra-se na liturgia do lecionário católico do XXXII Domingo do Tempo Comum (Jo 2,13-22). Jesus subiu para Jerusalém, pouco antes da Páscoa dos judeus e através de uma sincronia entre gestos e palavras, deixa uma mensagem codificada e de difícil compreensão naquele momento. Tanto assim, que os judeus jamais a entenderam e até mesmo os seus discípulos somente compreenderam aquela mensagem em sua plenitude após a ressurreição.
Este é um texto repleto de controvérsias e portanto, cheio de exigências para sua correta interpretação. A começar pela transformação do Templo, como a Casa de Deus, em um casa de negócios. O que restaria dos templos de hoje em dia caso esta proibição fosse levada a sério? Ou dito de outra forma, qual é a outra dimensão dos templos atuais que é tão falada, divulgada e praticada quanto o comércio? O que é mais facilmente visível nos interiores dos templos atuais, são cartazes com mensagens sobre o dizimo ou sobre escolas bíblicas, dominicais, ou não? São cartazes e faixas divulgando festas e bingos ou sobre cursos de estudos bíblicos? O que é que reúne mais pessoas nos templos atuais, são as celebrações litúrgicas ou as festas com finalidade comercial? Quais são a vozes que se levantam contra estas contradições tão bem registradas pelo Evangelho de João? São questões que não seriam bem vindas em uma reunião do Centro de Planejamento da Paróquia.
Outra questão envolvida diretamente com o poder em suas tres dimensões fundamentais: poder popular que apoia e defende a estrutura da Igreja com devoção rara; o poder político que faz das instituições religiosas agentes financeiros; e o poder policial, no sentido da segurança, não raro, com guardas armados. Será que Jesus foi protegido pelo Pai para fazer tamanha afronta ao Templo, como o símbolo do poder, inclusive financeiro, e mesmo assim sair ileso? Mesmo hoje, seria possível que alguém atacasse com violência, mesmo que em nome de Deus e defendendo a sua casa, e saísse vivo? Enfim, vamos procurar os sentidos mais pedagógicos para este texto. Jesus pode estar nos pedindo um olhar mais amoroso e respeitoso, não apenas para com o templo, mas para com a fé e com a espiritualidade.
Não são poucas e nem raras de se veem as profanações que se fazem com o templo, com as liturgias e com a Igreja para atender a interesses próprios. Usa-se o nome da Igreja, usa-se o nome de Deus e serve-se muitas vezes ao inimigo de Deus. É preciso que tenhamos a coragem de, a exemplo de jesus, servirmos e não sermos servidos, fazer a vontade do Pai e não a nossa vontade ou a vontade de quem pode nos oferecer algum privilégio na Igreja.
Lembremo-nos que, em última instância, o templo, ontem como hoje, é a casa do Pai e o que é do Pai é também do Filho. O verdadeiro templo é o corpo humano que deve ser preservado da profanação da fome e das mazelas das intempéries, por exemplo. A Igreja não é lugar de comércio e tampouco a fé é uma mercadoria. Considerando a atitude indignada de Jesus com os vendilhões do Templo, podemos imaginar qual seria a atitude dele chegando em uma de nossas paróquias num certo Domingo à tarde. Defender a casa do Pai, é manter a vida em primeiro lugar.
Curitiba, 05 de novembro de 2025
João Ferreira Santiago
Teólogo Poeta e Militante.
Coordenador do CEBI-PR.


