“Quando se divide o pão não se pode trair.”
No dia 28 de novembro de 2024 aconteceu um encontro inter-religioso e ecumênico na Paróquia Anglicana São Felipe, situada no setor Campinas, em Goiânia, o qual objetivou continuar os diálogos sobre o massacre imposto ao povo Palestino, por parte do estado de Israel. O evento reuniu pessoas muçulmanas, cristãs e do Comitê de Solidariedade ao Povo Palestino. Entre as denominações cristãs, registra-se a presença de pessoas da Igreja Anglicana (IEAB), Luterana (IECLB) e Católica Romana (ICAR).
O diálogo aconteceu em torno de uma mesa repleta de alimentos colocados em comum, e foi mediado por Ali Elzein Jomaa, médico libanês, cidadão brasileiro e defensor da causa Palestina, e Tareq Alladaa, Palestino, nascido na Faixa de Gaza, naturalizado brasileiro, casado com a goiana Bárbara Alladaa.
Ali e Tareq fizeram uma retrospectiva histórica e lembraram que desde a antiguidade, a Palestina é alvo de várias ondas de colonialismo, de sucessivas dominações estrangeiras, o que gerou um processo de diáspora (dispersão), sobretudo da população judaica. Porém, a grande maioria permaneceu na Palestina. Durante a década de 1930, com a instalação de um regime nazista na Alemanha, a migração dos judeus para a Palestina aumentou bastante. E, eles foram bem recebidos pelo povo local.
Tareq contou ainda que se lembra até hoje do cheiro da comida quando morava em Gaza, aos 11 anos. Lembra-se também das brincadeiras com os primos. E que muitas vezes saíram escondidos das mães para libertar a Palestina, jogando pedra nos soldados e seus veículos, no contexto da Primeira Intifada (Revolta Popular), em 1987. Tareq ressaltou que o Islã não autoriza guerra que não seja de defesa. Isso faz parte do princípio islão.
Tanto Ali quanto Tareq falaram sobre a realidade dos Campos de Refugiados dentro de Gaza, os quais são vigiados pelas tropas de Israel o tempo todo. Lembraram que a Faixa de Gaza é um território palestino econômica e politicamente estratégico, pois faz fronteira com o Egito e Israel, além de possuir saída para o Mediterrâneo. Ressaltaram que o massacre imposto ao povo Palestino possui interesse geopolítico e não religioso. Relataram o sofrimento do povo palestino diante do bloqueio das fronteiras e a contradição jurídico-política sobre o direito de ficar em Gaza e o direito de retornar.
Ressalta-se que a partir de perguntas feitas pelo próprio grupo, Ali e Tareq abordaram temáticas relacionas ao colonialismo, apartheid, Estado sionista de Israel, mito da terra prometida e resistência Palestina. Eles alertaram para a necessidade das igrejas cristãs ouvirem sobre a realidade da Palestina a partir dos povos originários de lá, e não ficarem somente com a versão de Israel. Tareq encerra a fala dizendo um pouco sobre o que é ser muçulmano na dimensão religiosa: “Eu não sou muçulmano se não acreditar na Torá, na Bíblia e na volta de Jesus”.
Para o ano de 2025, o grupo planejou continuar encontrando-se nas últimas quintas-feiras do mês, a fim de construir processos de convivência e escuta fraterna.
O próximo encontro será no dia 27/02/2025, na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), ocasião em que o grupo escutará parte da história de vida da Badia e estudará um texto do Alcorão.
O encontro encerrou-se com uma música popular cantada em árabe.
Movimento Ecumênico de Goiânia, novembro de 2024.