“A pedagogia de Judite também é inovadora
E é dela nasce uma nova teologia.
A teologia da esperança, da libertação, da fé e da mulher”.
(SANTIAGO, 2023, p. 53)
A memória, a visita, o afeto, o reconhecimento e a amizade, a fraternidade e a ternura, são palavras geradoras de vida e de vida em abundância. Porque são palavras impregnadas do Evangelho da Vida. São práticas que se tornaram bons hábitos, porque foram apreendidas na caminhada. Nada é mais revelador dos valores do reino e nada constrói mais vínculos de pertencimento que caminhar juntos. Nenhum lugar é mais sagrado que o caminho. Ninguém nos fala mais de Deus e nos revela mais o seu rosto que as pessoas que encontramos pelo caminho ou com as quais caminhamos. Estas palavras geradoras são membros de uma mesma família e expressam a mesma fé, porque nascem da mesma espiritualidade: a Espiritualidade Libertadora. Caminhar é libertador. São palavras cuja gentidade é a base para a acolhida, a partilha a fraternidade e a ternura. Assim como duas pessoas se unem e formam outra pessoa, dão vida à outra pessoa parecida com elas, com muitas características semelhantes, mas com identidade psíquico-físico-biológica própria, o mesmo acontece com as palavras. Todos e todas nós conhecemos o Padre Jaime na caminhada e caminhamos com ele. O Papa Francisco, no “Evangelho da Vida Nova – Seguir Cristo, servir o homem”, nos faz o seguinte alerta: “As tentações que procuram ofuscar o primado de Deus e do seu Cristo são: “legiões” na vida do pastor: vão da tibieza, que acaba na mediocridade, à busca de uma vida sossegada, que se desvia de renúncias e sacrifícios”. (FRANCISCO, 2015, p. 26). O Padre Jaime enfrentou e venceu com dignidade profética estas tentações.
Na mente e na inteligência amorosa de um de nossos mais geniais teólogos, fraternidade e ternura ao se unirem, criaram a palavra fraternura. É fraternura o que o Padre Jaime Antonio Schmitz significa e representa em toda a sua vida profética. Simplicidade no agir e no modo de viver; fraternidade aos que sofrem nos momentos de turbulências e incertezas; humor autêntico, na linha de Peter Berger. “(…) Como afirmado anteriormente, o cômico invade e subverte as estruturas naturalizadas da vida social” (BERGER, p. 170). Com o Padre Jaime é exatamente assim. Impossível não associá-lo a três dimensões constituintes de sua presença-ação e da sua marcante vida de evangelizador: o humor inteligente, criativo e cativante; seu violão sempre em perfeita simbiose com ele; e o tradicional e partilhado, kit-chimarrão.
Pois bem, hoje, é o dia primeiro de maio, de 2024, dia do Trabalhador e da Trabalhadora. Essa data tão marcante na vida do Padre Jaime, assim como na vida de todos e todas nós que fazemos parte do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos – CEBI -; e das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs -, e nos traz muitas memórias boas. Nos últimos trinta anos nós estivemos juntos, juntas, caminhando pelas ruas, pelas praças, em cima de caminhões de som, carregando faixas, banners e gritando o nosso grito de trabalhadores e trabalhadoras. Destes gritos nasceram muitas conquistas. Hoje, então, nós fomos fazer uma visita pastoral especial ao Padre Jaime Antonio Schmitz, na sua casa, na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, em Piraquara. Cícero de Roma, narra parte de uma conversa entre Lélio e Cipião, sobre a Amizade, que nos serve de apoio. “Nada é mais difícil, apesar de tudo, dizia ele, que conservar intacta uma amizade até o último dia da vida”. (CÍCERO, 2009, p. 96). É por isso, Padre Jaime, que nós estamos aqui. Mas é também por gratidão. Como lembraram Salete Bez e Luiz Bastos, é também porque a tua amizade é um tesouro inestimável.
Celebramos o milagre da partilha, inspirados em Jesus de Nazaré, registrado pelos três Evangelhos Sinóticos: Mateus, Marcos e Lucas e pelo Quarto Evangelho de João. (Mt 14,13-21; Mc 6,30-44; Lc 9,10-17; Jo 6,1-15). Como é característico à mística das do CEBI e das CEBs, cada um, cada uma levou um prato-cheio (cinco pães e dois peixes?) e partilhou. Todos comemos à saciedade e sobrou uma quantidade razoável de alimentos. Sob a batuta de Cláudio Hernandes e sua voz afinadamente marcante e o resfolengo maravilhoso da sanfona de Antonio, cantamos o hino “Rainha do Paraná”, dedicado à Nossa Senhora do Rocio, Madroeira do Paraná, cuja composição é do mineiro José Ferreira Lemos (Nízio). Além do grupo que participou da visita ao Padre Jaime, número semelhante justificou, em forma de lamento, não poder participar.
Falando sobre as “Periferias Existenciais”, tema tão caro à Teologia do Papa Francisco, tão presente nas ações das CEBs e do CEBI, o Cardeal José Tolentino Mendonça, diz, “Cada pessoa vive com a sua história, as suas turbulências, com os enigmas que a habitam, com o seu desejo e a sua solidão, a sua felicidade e a sua desventura”. MENDONÇA, 2018, p. 139). As CEBs nos ensinaram, juntamente com o CEBI, sobretudo nos Círculos Bíblicos, à luz do Primado da Palavra que, fraternidade é uma Fraterna Irmandade que nos faz carregar os fardos uns dos outros. É por isso que nós nos visitamos, que nós fazemos nossos encontros em nossas casas. É por isso que nós partilhamos não somente os alimentos, mas a mesa, a casa e a vida. Afinal, somos a Igreja Povo de Deus. ”A Igreja visível é feita de gente que se encontra, se organiza, celebra e pratica a compaixão”. (SANTIAGO, 2023, p.91). E esse encontro foi também para comunicar ao Padre Jaime Schmitz que o Nono Encontro Intereclesial das CEBs do Regional Sul2, será na Arquidiocese de Curitiba. Previsto para abril de 2026. O Padre Jaime tem muitas experiências vividas nas CEBs e no CEBI. Inclusive esteve na coordenação do Intereclesial das CEBs em Curitiba, no ano de 1996. Aproveitando, Padre Jaime, nos dias 01 e 02 de junho próximo, acontecerá o Seminário da Região Sul do CEBI e será no Seminário Nossa Senhora da Salete. Viemos dizer-lhe que as CEBs e o CEBI o convocam para novas missões.
Na esteira de Agenor Brighenti, as CEBs acreditam que, “A Igreja existe para servir o mundo, para que o mundo seja cada vez mais justo e solidário (…) O Reino de Deus, em sua dimensão imanente, se confunde com uma nova sociedade, justa e solidária, um mundo onde caibam todos”. (BRIGHENTI, 2016, p. 77). O Padre Jaime contribuiu muito para este mundo mais justo e mais solidário. As CEBs iniciam, assim, uma jornada visitas. de encontros, de memórias e de reconhecimentos de pessoas que fizeram e fazem de suas vidas uma oblação, de entrega e de dedicação radical ao Reino de Deus. O Padre Jaime Schmitz, é uma dessas pessoas. O Padre Jaime Schmitz é um elo forte de uma corrente profética que une as CEBs e o CEBI, como duas asas que devem bater juntas e solidariamente para que a utopia de Deus, que o paraíso tenha seu início aqui, e se concretize na sua Igreja, o seu povo. “Ser Pastor, é se arriscar e até morrer pelas ovelhas; é usar o cajado para bater ou espantar o lobo e não para castigar as ovelhas; é ter preferência pelas ovelhas mais fracas, às vezes machucadas”. (SANTIAGO, 2020, p. 20).
Referências:
BÍBLIA. Tradução Ecumênica da Bíblia – TEB. São Paulo-SP: Loyola, 1994.
– CÍCERO, Marco Túlio. Cícero – Saber Envelhecer – Seguido de A Amizade. Porto Alegre-RS: 2009.
– FRANCISCO, Papa Francisco. O Evangelho da Vida Nova – Seguir Jesus, Servir o Homem. Petrópolis-RJ: Vozes, 2015.
– MENDONÇA, José Tolentino. Elogio da Sede – Prefácio do Papa Francisco. São Paulo-SP: Paulinas, 2018.
– SANTIAGO, João Ferreira. Teologia Pastoral – A Arte do Seguimento e do Discipulado de Leigos e Leigas. São José dos Pinhais-PR: NVC, 2020.
– SANTIAGO, João Ferreira. A Fé a Esperança de JUDITE como Inspiração e Esperança para a Libertação das Mulheres Hoje. Curitiba-PR: APRIS, 2023.
– SANTIAGO, João Ferreira. Hermenêutica, Eclesiologia e Teologia Pública. Rio de Janeiro-RJ: Freitas Bastos, 2023.
Curitiba, 01 de maio de 2024 – quarta feira dia do Trabalhador e da Trabalhadora
João Ferreira Santiago
Teólogo – Poeta e Militante.
Assessor das CEBs na Província de Curitiba.
Coordenador Estadual do CEBI-PR.
Doutorando em Teologia pela PUC-PR.