No domingo, 25 de fevereiro, milhares e milhares de pessoas se reuniram no centro de São Paulo, lideradas pelos apóstolos do discurso do ódio, da violência e do armamentismo no Brasil. Nessa manifestação, pessoas que se envolveram em atos ilegais exigiram anistia para seus crimes. Invocaram a Democracia para terem o direito de destruí-la. Quando lhes é oportuno, usam a defesa da Democracia, mas não para os povos originários, não para as comunidades afrodescendentes, não para minorias sexuais. São contra a igualdade entre homem e mulher e não aceitam a diversidade de gêneros.
Todos os estudos sociais revelam que no mundo inteiro e também em nosso país, as desigualdades sociais têm se agravado. No Brasil, poucas famílias detêm renda equivalente quase à metade da população brasileira.
Cada dia fica mais claro que não é possível democracia social e política, sem democracia econômica e sem que se mude o atual modo de organizar o mundo que gera a fome e a miséria de milhões de seres humanos e a destruição progressiva da vida no planeta Terra. Independentemente de qualquer pertença religiosa ou de filiação política, é urgente escutar o que tem repetido o papa Francisco: “Atualmente no mundo, ou nos salvamos todos, ou ninguém se salva”.
No Brasil, com certeza, ao menos 80 % das pessoas que estão a favor da barbárie, se declaram cristãs e apoiam no Congresso as bancadas da Bíblia, do boi e da bala. Que companhia vergonhosa para a Bíblia! Que insulto para o Deus de Jesus que é Pai misericordioso e, como canta Maria, “derruba os poderosos de seus tronos e eleva os pequenos. Enriquece os famintos e despede os ricos sem nada”.
Como ensinava o reformador Martinho Lutero: “Deus prefere a blasfêmia e o insulto da pessoa que é justa ao elogio e agrado da pessoa que pratica injustiça”. Indiferente a isso, esses grupos cristãos fundamentalistas não aceitam que o Brasil seja um país laical, regido por uma Constituição e não pela Bíblia, ou por qualquer outro livro sagrado, compreendido e interpretado de forma literal e fanática.
Enquanto isso, nesses dias da Quaresma, a Conferência dos Bispos Católicos do Brasil (CNBB) propõe como programa pascal para esse ano que intensifiquemos a Fraternidade e aquilo que o papa Francisco chama de “amizade social”. Isso significa responder à propaganda do ódio e da violência através de uma cultura de diálogo e de colaboração entre as pessoas. De fato, mais de um ano depois de que, nas eleições, o discurso do ódio foi vencido, o Brasil ainda continua dividido e polarizado. Como sabemos que o “outro lado” não vai ceder nem mudar, somos nós que temos de tomar a iniciativa de nos dispor ao diálogo e de começar por nós, como propunha o Mahatma Gandhi o trabalho de humanização da vida. Não podemos, mesmo entre nós, desqualificar o adversário. Não é chamando de gado a multidão de gente que segue o neofascismo que vamos melhorar o mundo. No campo de concentração, enquanto esperava a morte, a jovem mística judaica Etty Hillesun escreveu no seu diário: “Os nazistas podem tudo, menos nos fazer odiar. Esse poder, eles não têm. Só nós e nós não podemos nem devemos cair nisso. Eles podem nos roubar tudo, menos a nossa humanidade”, ou seja, a nossa capacidade de amar, de perdoar e de dialogar.
No Rio de Janeiro, a deputada estadual Marina do PT propõe à Assembleia Legislativa do Estado que, anualmente, se crie na esfera pública e social um dia de abertura da Campanha da Fraternidade. Isso significa que sobre a urgência de uma cultura de Amizade Social não seja proposta da solidariedade não é apenas programa de Igreja, mas pode e deve ser assumida de forma laical e cidadã como política pública em todos os níveis.
Ao mesmo tempo que devemos felicitar a companheira Marina por mais esse exemplo que pode ser seguido por outros Estados, assumamos cada vez mais nós mesmos/as a responsabilidade de intensificar a cultura da Paz e da Não violência e retomar nas comunidades o trabalho da educação para a Paz e a Cidadania.
Marcelo Barros