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A Paz Só Virá da Justiça Ecossocial

Em meio aos 110 conflitos violentos que a ONU considera de caráter internacional que, hoje, se abatem sobre a humanidade nos diversos continentes, nesses dias, explodiu mais uma etapa da extrema violência com a qual, há mais de 70 anos, o Estado de Israel tenta aniquilar o povo palestino. Dessa vez, o instrumento que veio colaborar com a política repressiva de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, foi o ataque do grupo Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) a uma festa noturna em Gaza, provocando a morte de muitas pessoas. Conforme notícias internacionais, vários dias antes, o governo de Israel foi avisado por fontes seguras de que o Hamas faria esse atentado a Gaza. Deixou-o acontecer para legitimar o aumento da repressão e da violência contra o povo palestino, mesmo sabendo que o Hamas não representa o governo nem o povo da Palestina. Matou todos os militantes do Hamas que estavam em território israelita e cobriu o território palestino de bombas.

Conforme o blog de Ricardo Noblat, na noite de 7 de outubro, para cada bomba lançada pelo Hamas, o Estado de Israel lançou milhares de mísseis. Conforme a ONU, em uma semana, os bombardeios israelenses em Gaza destruíram 11 mesquitas, 90 escolas e 2.835 unidades habitacionais. Outras 1.800 unidades foram danificadas e tornaram-se inabitáveis. A retaliação de Israel matou 1.500 palestinos. A idade média dos habitantes de Gaza é 17 anos. Algo como 45% dos moradores de Gaza tem 14 anos ou menos. Metade das mortes em Gaza até agora são de crianças e mulheres palestinas.

Conforme testemunhos sérios, o Hamas foi criado em 1987, por líderes do grupo Fraternidade Islâmica, financiados pelo Estado de Israel para minar a autoridade de Yasser Arafat e desmoralizar a OLP (Organização para a Libertação da Palestina).

Já no começo dos anos 1970, Dom Helder Camara distinguia dois tipos de violência: a violência número 1, praticada por governos, com todo o poder da máquina do Estado. A violência número 2 seria a cometida por grupos dissidentes, como reação e tentativa de defesa contra a violência institucionalizada. Mesmo quem é contra toda e qualquer violência não pode equiparar a violência de um Estado com a reação desesperada de um grupo particular.

O Hamas é considerado como grupo fanático e terrorista, mas até hoje, Israel é um dos únicos Estados do mundo que não se rege por uma Constituição aprovada pelo Congresso. Conforme os judeus ortodoxos, o Estado se dirige pela Torá bíblica. Grupos cristãos fundamentalistas apoiam o Estado de Israel e sua política desumana, porque veem nas ações de Israel o cumprimento de profecias do Apocalipse. Não percebem a contradição disso com a aceitação de Jesus, como Cristo e Messias.  

Toda vida é sagrada e em cada vítima de ataques terroristas, a humanidade inteira é ferida. O papa Francisco tem insistido que toda guerra é loucura e nenhuma guerra trará paz ou segurança a nenhum lado. Ao contrário, cada vez mais, qualquer conflito local tem consequências no mundo inteiro. Ninguém terá paz enquanto 10% das pessoas se fecham no conforto de suas ilhas de luxo, ao custo da miséria e do sofrimento de mais de um bilhão de seres humanos.

Nesse contexto atual, é importante retomar o apelo à Paz que o papa Francisco e o Grande Imã Ahmad Al-Tayyeb, autoridade da fé muçulmana, fizeram juntos a toda a humanidade:

«(…) Em nome dos órfãos, das viúvas, dos refugiados e dos exilados das suas casas e dos seus países; de todas as vítimas das guerras, das perseguições e das injustiças; dos fracos, de quantos vivem no medo, dos prisioneiros de guerra e dos torturados em qualquer parte do mundo, sem distinção alguma.

Em nome dos povos que perderam a segurança, a paz e a convivência comum, tornando-se vítimas das destruições, das ruínas e das guerras.

Em nome da “fraternidade humana”, que abraça todos os seres humanos, une-os e torna-os iguais. Em nome desta fraternidade, dilacerada pelas políticas de integralismo e divisão e pelos sistemas de lucro desmesurado e pelas tendências ideológicas odiosas, que manipulam as ações e os destinos dos homens.

Em nome de todas as pessoas de boa vontade, presentes em todos os cantos da Terra. Em nome de Deus e de tudo isto, (…) declaramos adotar a cultura do diálogo como caminho; a colaboração comum como conduta; o conhecimento mútuo como método e critério” (Fratelli Tutti, 285).  

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