A leitura do evangelho de hoje nos provoca a uma mudança no modo de enxergar a vida, a fé e a nossa relação com Deus e os irmãos e irmãs.
A perícope, ou pequeno recorte de Jo 14,1-14, nos chama atenção para as relações entre as pessoas, as nossas opções de vida e a nossa relação com o sagrado tendo como modelo Jesus. Esse trecho faz parte de um contexto maior: O livro da Glória. É que o evangelho joanino segundo os estudiosos, assim está organizado: do capítulo de 1 a 12 temos o livro dos Sinais de Jesus; e do capítulo 13 a 20 o livro da Glória, terminando o evangelho com o capítulo 21, um epílogo.
Na leitura que nos é oferecida para a meditação de hoje, Jesus está num diálogo com seus discípulos no cenáculo em Jerusalém. É a última ceia. Nesse diálogo, está Jesus, Tomé e Filipe interagindo. É um discurso de despedida. Jesus chama atenção para que os discípulos não se perturbe e pede sua confiança mediante o que está para acontecer: o seu martírio. O cumprimento da missão que o Pai lhe confiou. A sua glória.
Interessante notar que Jesus afirma sua fidelidade aos seus discípulos inclusive nas “moradas” do Pai. E revela para eles, mais explicitamente, sua relação intrínseca com o Pai afirmando com isso sua unidade e sua singularidade. Dessa relação se pode intuir que, quem ver Jesus agir, é o mesmo que ver o Pai agir. Porque ambos têm o mesmo agir e sentir. É só olhar o que o Pai (Javé) faz e que está registrado nas Escrituras: liberta o seu povo da ‘casa da escravidão’, escuta o clamor do pobre, da viúva, do estrangeiro. Dá vida onde a vida se esvaiu como vemos na experiência do salmista. Assim também como Pai, age Jesus: dá vista aos cegos, ressuscita os mortos, cura os doentes, empodera a mulher humilhada, socorre a viúva, aproxima o povo de Deus a quem chama de Pai.
Desse modo ele, Jesus, é o caminho. Caminho enquanto modelo de um novo ser humano que é acolhedor, que escuta, que move seu ser em empatia e compaixão pelo seu semelhante; é caminho que reestabelece relações humanas, fraternas, solidária, amorosa, comprometida. Jesus não é um mestre de autoajuda, e muito menos guia exotérico. Ser caminho é muito mais que isso… Jesus é a verdade. Mas que verdade? Não é uma verdade de filosofia, ou de um enunciado religioso, ou muito menos de um dogma. Quando Jesus se põe como modelo de verdade, está indicando não uma doutrina específica, mas está se colocando como seta que aponta para Deus. Isto é, Jesus se mostra a verdade enquanto forma de nos relacionarmos com a divindade e com o ser humano.
Quer se relacionar com Deus, o Pai? Olha para Jesus! Ele é o verdadeiro modelo de como nos relacionarmos com o sagrado, com o mistério, com o “Pai”. Jesus também é a vida. Mas de que vida se fala aqui? Ele é vida e modelo de vida enquanto “sentido” da existência. É o que nos faz entender são Paulo, por exemplo, com seus hinos cristológicos em suas cartas. Jesus é vida e modelo de vida pela sua própria vida no meio do povo; ele é vida dom de Deus para nós por excelência. Por sua existência e por sua vida cotidiana podemos perceber o que é ter vida: viver uns para os outros numa relação amorosa de escuta, acolhida, fraternidade, solidariedade, de compaixão e empatia. Jesus é vida enquanto sentido mais genuíno e pleno que preenche nossa própria vida.
Assim, o evangelho nos faz levantar através desse diálogo e discurso de Jesus vários questionamentos: Enquanto pessoa, também como coletivo, através dos movimentos, pastorais, grupos de estudos, grupos dos mais diversos que se juntam em torno de uma causa comum – como estamos compreendemos a pessoa e a prática de Jesus? Que modelos mentais da personagem Jesus nos motiva e alimenta a fé, alimenta nosso compromisso e engajamento na luta, na comunidade, nas relações interpessoais? E esse “Jesus” de nossa “leitura” é condizente com o que nos mostra o evangelho sobre “Jesus”?
E mais… no seguimento e discipulado de Jesus: Quais as “opções” que constitui o “caminho, a verdade e a vida” de minha própria vida e do grupo ou comunidade onde faço meu engajamento e militância? Também como se dá o meu, o nosso relacionamento com o sagrado e a divindade? Também aqui Jesus é modelo?
Boa leitura e meditação para você. Essas linhas são linhas de provocações a partir da escuta do texto e da realidade contextual de nossa caminhada comum. Axé! Shalom! Pax e Bem!
Autor: Sebastião Catequista – CEBI/PE