Partilhas

O sentido do Texto é revelado no sentido da Vida

— Vocês ouviram o que foi dito aos antigos: “Não mate.”E ainda: “Quem matar estará sujeito a julgamento.”

Eu, porém, lhes digo que todo aquele que se irar contra o seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem insultar o seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem o chamar de tolo estará sujeito ao inferno de fogo.

Portanto, se você estiver trazendo a sua oferta ao altar e lá se lembrar que o seu irmão tem alguma coisa contra você,

deixe diante do altar a sua oferta e vá primeiro reconciliar-se com o seu irmão; e então volte e faça a sua oferta.

— Entre em acordo sem demora com o seu adversário, enquanto você está com ele a caminho, para que o adversário não entregue você ao juiz, o juiz entregue você ao oficial de justiça, e você seja jogado na prisão.

Em verdade lhe digo que você não sairá dali enquanto não pagar o último centavo.

— Vocês ouviram o que foi dito: “Não cometa adultério.”

Eu, porém, lhes digo: todo o que olhar para uma mulher com intenção impura, já cometeu adultério com ela no seu coração.

— Se o seu olho direito leva você a tropeçar, arranque-o e jogue-o fora. Pois é preferível você perder uma parte do seu corpo do que ter o corpo inteiro lançado no inferno.

E, se a sua mão direita leva você a tropeçar, corte-a e jogue-a fora. Pois é preferível você perder uma parte do seu corpo do que o corpo inteiro ir para o inferno.

— Também foi dito: “Aquele que repudiar a sua mulher deve dar-lhe uma carta de divórcio.”

Eu, porém, lhes digo: quem repudiar a sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a se tornar adúltera; e aquele que casar com a repudiada comete adultério.

— Vocês também ouviram o que foi dito aos antigos: “Não faça juramento falso,mas cumpra rigorosamente para com o Senhor o que você jurou.”

Eu, porém, lhes digo: não jurem de modo nenhum;nem pelo céu, por ser o trono de Deus;

nem pela terra, por ser estrado de seus pés;nem por Jerusalém, por ser a cidade do grande Rei.

Não jure pela sua cabeça, porque você não pode fazer com que um só cabelo fique branco ou preto.

Que a palavra de vocês seja: Sim, sim; não, não. O que passar disto vem do Maligno.

Mateus 5:21-37

– A Palavra de Deus não está delimitada pelo texto, pela literatura ou pela tradição e nem pela teologia.

→ “- Vocês ouviram o que foi dito aos antigos…eu, porém, voz digo..! Afirmava Jesus de Nazaré.”

Pensar assim faz toda a diferença porque nos livra da armadilha literalista e do uso do texto como pretexto para intenções carregadas de desejo de domínio construído para privilegiar grupos e pessoas mal intencionadas ou, na melhor das hipóteses, para disfarçar a falsa ideia de que se é melhor e mais perfeito do que os demais seres humanos. Estratégia, aliás, muito utilizada pelo fundamentalismo religioso cristão para criar doutrinas e disseminar discursos e práticas moralistas baseadas em textos arrancados do seu contexto.

O perigo maior se estabelece quando este tipo de leitura é transformada em Palavra de Deus inerrante, “impossível” de ser contestada por ser “Palavra” de Deus! Foi assim que os religiosos da tempo de Jesus estabeleceram seus ritos e leis tradicionais como dogmas sagrados baseados na autoridade simbólica do templo, portanto, sem possibilidade de contestação e quase sempre usadas alienar, oprimir e justificar a exploração violenta do Povo.

Quando Jesus diz “eu, porém, voz digo,” ele ressignifica o que fora dito no passado, trazendo a tona um sentido totalmente novo e transformador do texto assumindo-se, ao mesmo tempo, como fonte da verdade que estava verbalizando. É nessa direção que alguns biblistas, eu diria até que vários deles, entre eles, este que vos fala, gostam de pensar que a Palavra de Deus não é um texto ou uma liturgia religiosa, mas, um pessoa encarnada na história que se revela, nas ações, fruto de seus pensamentos e sentimentos, como o Texto vivo revelando o Deus de Amor que criou o universo. A Palavra de Deus que se revela feito gente, tem endereço no tempo e na história, nasceu em Belém da Judeia, cresceu no Egito e floresceu na favela de Nazaré da Galileia. De lá, da Galileia dos gentios, região mestiça e desprezada pelos ricos e pela classe média de Jerusalém, a Palavra inciou a proclamação do Evangelho de Deus ao mundo.

Gosto do termo Evangelho, não apenas por ser a essência da Escritura Sagrada cristã, mas, por ser a essência da própria vida, afinal, Evangelho significa Boa Nova! Isso é por demais libertador quando somos assolados todos os dias por notícias velhas, com cheiro da morte, emboloradas pela cultura da mentira e do ódio. Boa nova, que é Boa notícia, é novidade que liberta e transforma o ser pela transformação das suas relações. Por isso, o Evangelho é a boa nova que liberta a mente da mesmice fundamentalista, articulada nos dogmas e doutrinas dissociadas da vida, para perceber e celebrar a divina relação entre a Palavra de Deus testemunhada no texto sagrado e esta mesma Palavra inscrita no dna da Vida!

Quando os escribas do Templo de Jerusalém tentaram aprisionar a Palavra nas tradições e nas leis sacerdotais do Templo, perderam a conexão com o Deus de Amor que se revela nas relações mais humanas e simples da vida. Esse diálogo entre texto e vida desvela a força restauradora do sentido do texto e do sentido da vida: “ouviste o que foi dito,,,, eu, porém, vos digo,” ensinava Jesus.

Seu ensino deu significado novo às relações que antes desfiguravam a humanidade das pessoas pela hipocrisia da religião de rituais, doutrinas e tradições, porém longe da prática da misericórdia, do perdão e da partilha do pão que existe em toda verdadeira religião. Na Boa nova de Jesus não há espaço para se tripudiar, violentar ou matar, ainda que com crueldade das palavras mal ditas, a dignidade humana dos nossos semelhantes, pois, é esta dignidade que torna cada ser humano à imagem e semelhança do Deus vivo, algo que, no Evangelho de Jesus de Nazaré, é mais importante do que todo projeto de poder que hoje governa o mundo.

Que o Espírito de Jesus nos ajude a sermos Evangelhos vivos que noticia a presença libertadora da Deus da vida a cada respiro que sair do nosso corpo. Que seja assim! Amém. Amém. Amém.

Pr Lenon Andrade é membro da Comunidade Batista do Caminho e membro do CEBI na Paraíba.

 

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