Leia a reflexão sobre Marcos 10,35-45, texto do Mesters e Lopes
Boa leitura!
ABRIR OS OLHOS PARA VER
O texto de hoje traz a discussão dos discípulos pelo primeiro lugar. Pelo jeito, os discípulos continuavam cegos! Enquanto Jesus insistia no serviço e na doação, eles teimavam em pedir os primeiros lugares no Reino, um à direita e outro à esquerda do trono. Sinal de que a ideologia dominante da época tinha penetrado profundamente na mentalidade dos discípulos. Apesar da convivência de vários anos com Jesus, eles não tinham renovado sua maneira de ver as coisas. Eles olhavam para Jesus com o olhar antigo. Queriam uma retribuição pelo fato de seguir a Jesus.
COMENTANDO
- Marcos 10,35-37: O pedido pelo primeiro lugar
Os discípulos não só não entendem, mas continuam com suas ambições pessoais. Tiago e João pedem um lugar na glória do Reino, um à direita e outro à esquerda de Jesus. Querem passar na frente de Pedro! Não entenderam a proposta de Jesus. Estavam preocupados só com os próprios interesses. Isto reflete a briga e as tensões que existiam nas comunidades no tempo de Marcos, e que existem até hoje nas nossas comunidades.
- Marcos 10,38-40: A resposta de Jesus
Jesus reage com firmeza: “Vocês não sabem o que estão pedindo!” E pergunta se eles são capazes de beber o cálice que ele, Jesus vai beber e se estão dispostos a receber o batismo que ele vai receber. É o cálice do sofrimento, o batismo de sangue! Jesus quer saber se eles, em vez do lugar de honra, aceitam entregar a vida até a morte. Os dois respondem: “Podemos!” Parece uma resposta da boca para fora, pois, poucos dias depois, abandonaram Jesus e o deixaram sozinho na hora do sofrimento (Mc 14,50). Eles não têm muita consciência crítica, nem percebem sua realidade pessoal. Quanto ao lugar de honra no Reino ao lado de Jesus, quem o dá é o Pai. O que ele, Jesus, tem para oferecer é o cálice e o batismo, o sofrimento e a cruz.
- Marcos 10,41-44: Entre vocês não seja assim
Neste final da sua instrução sobre a cruz, Jesus fala, novamente, sobre o exercício do poder (cf. Mc 9,33-35). Naquele tempo, os que detinham o poder, não prestavam contas ao povo. Agiam conforme bem entendiam (cf. Mc 6,17-29). O Império Romano controlava o mundo e o mantinha submisso pela força das armas, e, assim, através de tributos, taxas e impostos, conseguia concentrar a riqueza dos povos na mão de poucos lá em Roma. A sociedade era caracterizada pelo exercício repressivo e abusivo do poder. Jesus tem outra proposta. Ele diz: “Entre vocês não deve ser assim! Quem quiser ser o maior, seja o servidor de todos!” Ele traz ensinamentos contra os privilégios e contra a rivalidade. Inverte o sistema e insiste no serviço como remédio contra a ambição pessoal.
- Marcos 10,45: O resumo da vida de Jesus
Jesus define a sua missão e a sua vida: “Não vim para ser servido, mas para servir!” Veio para dar sua vida em resgate para muitos. Ele é o Messias Servidor, anunciado pelo profeta Isaías (cf. Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-9; 52,13–53,12). Aprendeu da mãe que disse: “Eis aqui a serva do Senhor!” (Lc 1,38). Proposta totalmente nova para a sociedade daquele tempo.
ALARGANDO
A fé é uma força que transforma as pessoas
A Boa Nova do Reino anunciada por Jesus era como um fertilizante. Fazia crescer a semente da vida que estava escondida no povo, escondida como fogo em brasa debaixo das cinzas das observâncias sem vida. Jesus soprou nas cinzas e o fogo acendeu, o Reino desabrochou e o povo se alegrou. A condição era sempre a mesma: crer em Jesus.
Mas quando o medo toma conta, a fé desaparece e a esperança se apaga. Na hora da tempestade, Jesus reclamou da falta de fé dos discípulos (Mc 4,40). Eles não acreditavam, pois tinham medo (Mc 4,41). Por falta de fé dos moradores de Nazaré, Jesus não pôde fazer aí nenhum milagre (Mc 6,6). Aquele povo não quis acreditar, porque Jesus não era como eles queriam que ele fosse (Mc 6,2-3). Foi ainda a falta de fé que impediu os discípulos de expulsar “um espírito mudo” que maltratava um menino doente (Mc 9,17). Jesus os criticou: “Ó gente sem fé!” (Mc 9,19). E indicou o caminho para reanimar a fé: “Essa espécie de demônios não pode ser expulsa a não ser pela oração” (Mc 9,29).
Jesus estimulava as pessoas a ter fé nele e, por conseguinte, a criar confiança em si mesmas (Mc 5,34.36; 7,25-29; 9,23-29; 10,52; 12,34.41-44). Ao longo das páginas do Evangelho de Marcos, a fé em Jesus e na sua palavra aparece como uma força que transforma as pessoas. Ela faz receber o perdão dos pecados (Mc 2,5), enfrenta e vence a tempestade (Mc 4,40), faz renascer as pessoas e aciona nelas o poder de se curar e de se purificar (Mc 5,34). A fé consegue vencer a própria morte, pois a menina de 12 anos ressuscitou graças à fé de Jairo, seu pai, na palavra de Jesus (Mc 5,36). A fé faz o cego Bartimeu enxergar de novo: “Tua fé te salvou!” (Mc 10,52). Se você disser à montanha: “Atire-se ao mar!”, ela vai cair no mar, contanto que você não duvide no coração (Mc 11,23-24). “Para quem tem fé tudo é possível!” (Mc 9,23). “Tende fé em Deus!” (Mc 11,22). Pelas suas conversas e ações, Jesus despertava no povo uma força adormecida que o próprio povo não conhecia. Assim, Jairo (Mc 5,36), a mulher do fluxo de sangue (Mc 5,34), o pai do menino epilético (Mc 9,23-24), o cego Bartimeu (Mc 10,52) e tantas outras pessoas, pela fé em Jesus, fizeram nascer vida nova em si mesmas e nos outros.