Reflexão do Evangelho

A Ressurreição de Jesus

Leia a reflexão sobre João 20,1-9, texto de Nélio Schneider.

Boa leitura!

Eis o meu segredo.
É muito simples: só se vê bem com o coração.
O essencial é invisível para os olhos.

Antoine de Saint-Exupéry

Introdução

Mais uma vez, nossa peregrinação litúrgica anual nos traz até diante do túmulo vazio de Jesus Cristo. Mais uma vez, comparecemos como comunidade cristã perante o segredo da renovação da vida, segredo este que não podemos ver com nossos olhos nem tocar com nossas mãos. Aí o entendimento busca a ajuda do coração para poder ver o essencial. Buscamos alento na fé, que nos vem pela palavra de testemunhas fiéis daqueles tempos idos. A mensagem da esperança nos foi legada por mulheres e homens que tiveram o privilégio de acompanhar nosso Senhor em suas andanças pela Palestina, presenciaram seu sofrimento e morte, puderam ainda ter comunhão com ele depois de ter voltado à vida. Mas, embora não tenhamos mais estes privilégios todos, queremos sair do culto da Páscoa consolados pelo evangelista João: Felizes os que creram, mesmo sem ver! (20.29) Cremos numa mensagem de vida e de paz, trazida para o mundo e oculta dentro de uma realidade de conflito e morte. A pequena luz da fé na ressurreição de Cristo brilha na escuridão do túmulo vazio, como a luz da esperança no fim do túnel da incerteza.

Apesar de Jesus ter feito e ensinado a fazer o bem, ele foi morto por crucifixão por autoridades judaicas e romanas. Pareceu que o bem não tem futuro, que o amor e a justiça são sonhos idealistas. Então nos deparamos com o segundo fato inusitado: Porém, Deus o ressuscitou no terceiro dia e também fez com que ele aparecesse a nós… Nós comemos e bebemos com ele depois que Deus o ressuscitou. Ele nos mandou anunciar ao povo a Boa-Notícia e dizer que Deus o pôs como Juiz dos vivos e dos mortos. Todos os profetas falaram a respeito de Jesus, dizendo que os que creem nele recebem, por meio dele, o perdão dos pecados.

Meditação

Não há descrição da ressurreição. Ninguém testemunhou o fato mais revolucionário da história. Estamos diante de um mistério. Algo aconteceu, é verdade. Olhando de longe, como Maria Madalena, podemos chegar a acreditar em boatos: Os discípulos vieram de noite e levaram o corpo de Jesus (Mt 28.13). Boatos geram incerteza, medo e tristeza.

Temos que chegar mais perto. Como comunidade cristã, temos de correr a corrida da fé, em busca da fé e da esperança. Como Pedro e o discípulo amado, corremos em velocidades diferentes. Nossas forças não são iguais; uns conhecem atalhos que outros ignoram. Mas corremos. Buscamos a presença de Jesus Cristo. Este é o nosso objetivo. Buscamos o corpo de Jesus. A corrida da fé em busca da fé nos leva a todos diante do túmulo vazio e escuro. De fora vemos que o corpo de Jesus não está mais ali onde pensávamos encontrá-lo. Inacreditável! Será que estamos vendo certo? Temos que verificar mais de perto ainda. Temos de entrar no túmulo vazio e escuro, temos de passar por ele. Temos de passar com Cristo pela morte (Jo 12.24; Mc 8.34-35). Somente dentro do túmulo se abrirão os nossos olhos: no escuro do túmulo vazio, na ausência do corpo de Cristo, veremos, qual luz no fim do túnel, o brilho da ressurreição. O que fora estava oculto aos nossos sentidos, dentro se evidencia aos olhos da fé. Deus o ressuscitou no terceiro dia! Crê somente!

Aos nossos sentidos se revela a realidade marcada pela morte em nosso tempo: no rosto dos desempregados, marcados pelo medo e pela incerteza; no rosto de crianças famintas de pão e de carinho; no rosto das moças que vendem sua vida por alguns trocados; no rosto de pessoas corruptas e gananciosas, que não hesitam em usar outros para seu próprio benefício; nas cicatrizes expostas da natureza depredada. Temos que passar pelo vale escuro, pelo túmulo vazio e olhar para além da nossa realidade.

Aos olhos da fé é revelada a possibilidade e a realidade de uma vida renovada, de um mundo renovado integralmente. Como Pedro e o outro discípulo, nós vamos para casa crendo. Saímos do túmulo repletos de fé e esperança. Saímos renovados. Fomos do túmulo à procura do corpo de Jesus e saímos de lá como corpo de Cristo. Nós somos o corpo que sumiu. Pela fé nos foi revelado que nossa única esperança está além do túmulo. Passamos por ele. Morremos com Cristo. Saímos dele. Fomos ressuscitados juntamente com Cristo e elevados acima da morte (Cl 3.1-4). Nosso corpo já não se presta para servir à morte, mas à libertação de todas as formas de morte e sofrimento.

Ocorreu um redirecionamento de nossa existência no mundo. Buscamos os valores que estão além e acima da morte. Não mais violência, corrupção, mentira, falta de dignidade, exploração, mas amor, fé, esperança, bondade, alegria. Sem ver a plenitude e a glória da ressurreição, sabemos que nossa vida está guardada em Deus e cremos na palavra de Maria Madalena e dos apóstolos. Nossa vida não é a glória, mas reflexo da mesma. Para o nosso tempo somos luzes no fim do túnel, que indicam para o sol da ressurreição e da vida renovada, que é Jesus Cristo.

Ao sairmos daqui, o que temos a fazer? Através de nossa maneira de viver vamos explicar, tornar presença, tornar corpo, tornar palpável, vivenciável a nova realidade da ressurreição, para que mais gente se sinta animada a dar o passo de fé para além do túmulo.

Fonte: Texto publicado no portal Luteranos. Nélio Schneider é graduado em Teologia pela Faculdades EST (1983) e doutorado em Teologia pela Kirchliche Hochschule Wuppertal, de Wuppertal, Alemanha (1989). Nélio também é autor de livros publicados pelo CEBI: Humanidade e planeta terra: quem precisa de quem? e Primeira Carta de Paulo aos Coríntios.

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