Reflexão do Evangelho

Uma Nova Comunidade de Não-Violência e Santidade

Neste 7º Domingo do Tempo Comum, Ano A, na liturgia da ICAR, continuamos com a comunidade de Mateus junto a Jesus no Monte. Faz três domingos que estamos por aqui com Ele. Ele conversa conosco sobre esse projeto novo que anceia implementar na história que, sempre muito entusiasmado, chama de “Reino ou Reinado de Deus”: o Sermão da Montanha é seu discurso inaugural (Mt 5-7).

As leituras anteriores têm cheiro de santidade. Na Primeira Leitura: “Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo” (Lv 19,2); e na Segunda Leitura: “Acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós?” (1Cor 3,16). Em todas elas a santidade é uma preocupação com a vida e as atitudes na comunidade.

É nesta perspectiva, de fundar ou refundar uma nova comunidade, baseada em um compromisso ético, ou seja, mais orientada por ação que por palavras (“O que foi disto”), que Jesus conversa conosco no Sermão da Montanha, conduzindo comunidade e sociedade para além de seus parâmetro, para além do que achavam que era certo ou correto fazer e agir:

  • Para além da ética zelota ou a não-violência (Mt 5,38-42): A situação de dominação do Império Romano alimentou um clima de “zelo” (por isso, “zelota”) entre o povo pela cultura e fé que gerou grupos e revoluções armadas importantes, mas também muito ódio e violência. Na nova comunidade a violência não será alimentada. Como diria Gandhi: “Olho por olho e o mundo acabará cego”; assim, a não-violência é mais forte. Jesus desafia ao cuidado, temperança e resiliência em situação adversas.
  • Para além da ética farisaica ou a santidade (Mt 5,43-48): A observância da Lei era realizada e recomendada como critério de obediência a vontade de Deus. Na comunidade alguns se apresentavam como “modelos de observância”, entre eles estavam os fariseus, irmandade leiga de homens “santos” ou “separados” (e por isso seu nome) para/pela fidelidade a lei, mas observavam mais a “letra” que a lei, enquanto palavra e vontade de Deus. Ora, a nova comunidade de Jesus deverá ser observante da Palavra de Deus, mas também atenta a lei de Deus que emerge da vida da comunidade; por isso, se propõe, mesmo que seja difícil, amar o inimigo, que também é um filho de Deus e, por isso, um irmão. Tem, por sua vez, como referência a santidade que vem de Deus, não a de alguns grupos ou pessoas que na comunidade se apresentam como santos. Nesta perspectiva, não somos “separados”, mas “misturados” para a realização do Reino de Deus, que implica na observância do amor, irmandade, sororidade, ou seja, uma santidade prática.

Hoje somos nós essa nova comunidade de Jesus e ele está conversando agora conosco sobre não-violência e santidade, atitudes fundamentais do Reino de Deus, verificáveis na vida, transformadoras da sociedade; onde o que “foi dito pelos antigos” precisa ser atualizado e inculturado para que todos e todas tenha vida. O Sermão da Montanha desafia nossa sociedade da “cultura do ódio”, por um lado, e da “santidade intimista”, por outro, para que todos sejamos santos e santas na construção do Reino de Deus aqui e agora.

Reflexão de Mt 5,38-48

Márcio L. d’Oliveira
Cebi Bahia

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