Reflexão do Evangelho Segundo Mateus 21, 1-11
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A narrativa da chegada de Jesus em Jerusalém, interpretada pelas versões evangélicas da Bíblia, tradição a qual pertenço, nos traz o seguinte título: “A Entrada triunfal de Jesus em Jerusalém”. Sempre me perguntei que tipo de entrada triunfal seria aquela, estando Jesus assentado sobre um jumentinho emprestado e sendo aclamado pelos pobres e desvalidos?
Longe de ser triunfalista ou querer chamar a atenção pra si, Jesus nas suas andanças até aquele momento crucial da sua missão, nunca se mostrou sábio por si mesmo, nem se identificou com os títulos ou quaisquer instituições que o colocasse acima das pessoas humildes ou mesmo num lugar privilegiado com poder político ou econômico, como eram os reis e líderes da sua época. Ao contrário, sua missão se realizou junto as gentes humildes e frágeis que lutavam dia a dia pela sua sobrevivência num mundo marcado pelas injustiças e opressões.
Numa observação mais atenta das narrativas bíblicas sobre sua vida, é possível perceber que Jesus entrou na cidade de Jerusalém quando ainda era menino e no momento de sua morte. Suas aventuras missionárias se realizavam nos arredores da cidade, nas periferias, entre os marginalizados e mais fragilizados. Por isso ao chegar perto da cidade de Jerusalém pede pra trazer para ele um jumentinho, um animal típico das atividades camponesas. O Mestre não era um homem da cidade, identificado com o poder ou prestigio, não buscava para si fama, likes ou seguidores.
A imagem que se constrói dele a partir desta narrativa, é o avesso de tudo que uma sociedade do espetáculo produz. Ele não possuía bens ou propriedades, não tinha jóias de ouro nem de prata, não possuía roupas caras e nem andava em cavalos alados e bem alimentados. À semelhança daqueles que o aclamavam, era sem teto e sem-terra, carregava em seus ombros a responsabilidade e todas as implicações de ser anti sistema. Em seus olhos a esperança e a certeza de quem sabe que nem a morte pode destruir um sonho de um mundo melhor. Seus pés empoeirados trazia a cor da terra do seu chão, de onde veio e onde seu corpo iria descansar. Suas mãos vazias e seu coração cheio de fé na vida e no Deus que o trouxera até ali. Sua pele escurecida pelo sol do deserto trazia o suor e as lágrimas de todas àquelas gentes que clamavam por socorro, por justiça, por dignidade. Ele não foi ovacionado como um herói ou uma pessoa famosa. Ninguém gritando “Mito” ou palavras de ordem sem sentido.
O que se ouvia da multidão de pobres e sofredores era o grito por socorro, de pessoas cansadas de sofrer e serem exploradas pelo sistema de morte representado por roma e o judaísmo. Era em direção a esses poderes que caminhava Jesus, montado num simples jumentinho indefeso, sem armas, sem espada ou escudo; apenas a coragem e a fé no seu projeto de solidariedade, amor e bem viver. Sabia que caminhava para a morte, pois já havia incomodado tais poderes com seu modo de existir. Deveria sentir medo como muitas vezes sentimos, porém não recuou em nenhum instante e foi até o fim no seu propósito de ensinar o mundo a amar como se não houvesse amanhã.
Sua entrada nada triunfal é marcada por simbolismo que alimentam a fé daqueles e daquelas que não se identificam com os poderes e prestígios deste mundo e demonstra que a vida é o nosso bem maior e a justiça social nosso maior projeto. Com esta narrativa aprendemos que o simples deve ser visto como o mais importante, que a compaixão é fortaleza e ter bondade é ter coragem. Que neste domingo de ramos sejamos tocados pela simplicidade, por aquilo que parece ser invisível, pelas insignificâncias, pelas frágil, pelo comum, pois é neste lugar que se manifesta o sagrado e o mistério da vida.
Pastora Lilian Sarat