Leia a reflexão sobre Mateus 2,1-12, texto de Ana Maria Casarotti
Boa leitura!
Na Festa da Epifania (manifestação) continuamos celebrando o nascimento do Filho de Deus na cidadezinha de Belém.
Não é por acaso que Jesus não nasce em Jerusalém, centro do poder político e religioso. Ele nasce em Belém, uma pequena cidade na periferia, um lugar pobre, cujo único orgulho possível era ser a terra natal de Davi, onde ele foi ungido rei. Por isso, Belém tinha uma história régia.
O profeta Miqueias, na sua defesa aos mais pobres e carentes, já falava sobre este nascimento numa pequena e desconhecida cidade: “Mas você, Belém de Éfrata, tão pequena entre as principais cidades de Judá! É de você que sairá para mim aquele que há de ser o chefe de Israel” (5,1-2).
O texto não oferece quase nenhum dado sobre os magos, somente sabemos que eles são guiados por uma estrela e que não são judeus. Eles nomeiam Jesus como “o rei dos judeus”, nome que será dado novamente na narrativa da paixão.
Em Jerusalém, a estrela que os guia desaparece, e então eles se encontram com Herodes, que pode ser considerado como falso rei. Para Herodes, os magos e a estrela são perigosos, porque desafiam a sua estabilidade política. Ele tenta usar as informações dos magos, mas não consegue, porque eles tomam outro caminho.
Ao sair de Jerusalém, a estrela reaparece e continua guiando-os para Belém. É, sem dúvida, questionador que Deus tenha escolhido nascer entre os pobres, que a irrupção de Deus na história da humanidade tenha acontecido no silêncio e na solidão de uma gruta, sendo testemunhas o céu e os pequenos da terra.
Por que o Deus escondido, que quis se dar a conhecer em Jesus, o faz de forma tão humilde, tão despercebida, tão humana? (Romanos 16,26).
Talvez seja para que o busquemos, para que saiamos ao seu encontro. Ele não impõe a sua presença, só se apresenta de diferentes maneiras. E a mais humilde, plena e terna é em seu Filho Jesus.
Deus nos criou para si. Toda pessoa leva dentro de si o desejo de Deus, de conhecê-lo, de se encontrar com ele, de viver uma vida em plenitude, de um amor infinito.
Todo ser humano leva a marca da eternidade que o impulsiona sair de si em busca dela.Como reza poeticamente Santo Agostinho: “Fizeste nosso coração para ti e inquieto está nosso coração enquanto não repousa em ti”.
Essa sede de eternidade, essa busca, muitas vezes sem saber, de Deus, é a estrela que cada um de nós leva dentro de si. É a presença do Espírito que nos movimenta, que nos põe a caminho de Deus, como aqueles magos do Oriente que Mateus cita no seu evangelho.
Deus nos ama. Ele vem ao nosso encontro na pessoa de Jesus e infunde seu Espírito em nós para que, iluminados pela sua presença, possamos livremente sair na sua busca e viver a alegria de ser encontrados por Ele!
Podemos perguntar-nos: como é possível reconhecer a presença do Espírito?
Uma das maneiras mais simples é por meio dos presentes que ele nos dá, e um deles é a alegria (Gálatas 5,22). Por isso, é que o evangelho nos diz que “ao verem de novo a estrela, os magos ficaram radiantes de alegria”.
Reconhecemos a presença do Espírito em nós? Em que momentos?
Façamos agora uma singela oração ao Espírito que nos habita, agradecendo sua presença e pedindo-lhe que sejamos dóceis às suas orientações.
É importante reconhecer a ação do Espírito, para poder colaborar com ele, aderir a ele. Jesus, no evangelho de João, nos diz que o Espírito nos conduzirá à verdade plena (João 16,13), que é ele! (João 14,6).
Deus atua em nós, mas requer nossa disponibilidade. Cada um de nós pode optar entre seguir a voz do Espírito de liberdade ou seguir outras vozes que nos levam à escravidão do poder, do medo, do egoísmo, da infidelidade.
Os magos são fiéis ao caminho sinalizado pela estrela e vão de Jerusalém a Belém. Finalmente, a estrela parou, e eles são envolvidos no mistério de Deus que se fez presente numa criança: “Viram o menino com Maria, sua mãe” (Lucas 2,11).
Reconhecem nele o Messias esperado de todos os tempos, o Salvador de toda a humanidade. Ao vê-lo, se ajoelham, o adoram, o amam. Estes Magos simbolizam também a presença de toda a humanidade na manifestação de Jesus aos povos.
Depois, não voltaram para Jerusalém, mas partiram para suas terras para comunicar que tinham encontrado e visto o Salvador.
Junto com os magos, tenhamos uma atitude de adoração e acolhida do mistério de Deus que se nos comunica na gruta de Belém e, assim, “cheios” do Espírito Santo, possamos exclamar olhando o menino: É o Senhor! (1 Coríntios 12,3).
O encontro com Jesus nos leva a partir para uma nova vida, no lugar onde cada um/a vive, trabalha, estuda. Convida-nos a ser comunicadores da ternura e do amor de Deus, que se faz presente na fragilidade de uma criança!
Como nos lembra Leonardo Boff: “Haverá sempre uma Estrela no caminho de quem busca. Importa, pois, buscar, com mente pura e sempre atenta, os sinais dos tempos como o fizeram os magos”.
Oração
Nesta festa, façamos nossa esta oração de Edith Stein, judia, filósofa religiosa e mártir (1891-1942).
Quem és tu, luz que me inundas e iluminas a noite do meu coração?
Tu me guias como a mão de uma mãe. Mas, se me deixas, eu sozinha não seria capaz de dar um só passo.
Tu és o espaço que circunda o meu ser e o protege. Se me abandonas, caio no abismo de nada, de onde me chamaste a ser.
Tu, mais próximo a mim do que eu mesma, mais íntimo a mim do que a alma minha. E, no entanto, és intangível e de todo nome quebras as cadeias: Espírito Santo, Eterno Amor.
Referências
BORTOLONI, José. Tire suas dúvidas sobre a Bíblia. São Paulo: Paulus, 1997.
CRB, Nacional. Que nossos olhos se abram! Uma leitura de Mateus em perspectiva do Tesouro. Brasília: Conferência dos religiosos do Brasil/Nacional, 2011.
STEIN, Edith. La mística della Croce. Antologia organizada por W. Herbstrith. Roma: Cittá Nuova, 1991.
SUSIN, Luiz Carlos. Jesus Filho de Deus e Filho de Maria. São Paulo: Paulinas, 1997.
Fonte – IHU