Domingo XXIII do Tempo Comum
Reflexão sobre Lucas 14,25-33
Por Gilson Dias, biblista do CEBI Amazonas, membro da Paróquia Romana menino Jesus de Praga em Manaus-AM
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As reflexões deste fim de semana, nos convidam a pensar sobre a sabedoria, desapego e prudência ao confrontar com o que realmente importa. Iniciamos com o livro da sabedoria, (Sb 9,13-18), a comunidade autora da bíblia, desafia a pessoa leitora “ Quem pode conhecer os desígnios de Deus? (V.13) desde o início o ser humano insiste em querer “adivinhar a Deus”, muitos ditos profetas do passado e do presente se adonam de arrogância em afirmar que “ Deus me revelou isso” ou “Deus me mostrou aquilo”, alguns púlpitos e altares estão sendo dominados de aberrações apocalípticas sobre um fim desastroso da obra da criação, isso sem falar das maneiras mais escandalosas que buscam a divisão da nação. É claro que isso assusta nosso povo e cria no meio dos mais simples o pensamento que tudo está fadado ao caos. Ora, a própria comunidade autora afirma que “ Mal podemos conhecer o que há na terra, e com muito custo compreendemos o que está ao alcance de nossas mãos” (V.16) é só observarmos que ainda hoje a natureza, nos surpreende a cada dia, a criação está dando sinais que não suporta mais tanta exploração e ganância, a verdadeira sabedoria é fruto da graça. A mensagem do livro da sabedoria para nós é: tenhamos os pés firmes no chão de nossas vidas, buscando comunhão entre o sagrado e humano, isso sim é sabedoria! E não tenhamos a petulância de tentar decifrar a Deus, ou encaixá-lo às nossas necessidades. Somos chamados ao serviço de forma coletiva, comunitária e pastoral, ao colocar o Espírito Santo em nossa jornada, é alinhar os desafios de ontem e os de hoje e assim fazer mais leve nosso peregrinar.
Na carta de Paulo a Filemom (Fm 9b-10.12-17) nos deparamos com um bilhetinho, de um pedido de acolhimento, não de um escravo, mas de um irmão em Cristo, é importante destacar que na época um escravo era uma propriedade do patrão, ele poderia castigá-lo de todas as piores formas possíveis, e sabemos que a maldade humana é capaz de qualquer coisa, ainda mais em uma situação de fuga. Paulo, porém intercede por Onésimo, que convertido encontrou a liberdade, aquela que é dada por Cristo Jesus, afinal agora ele é um “irmão querido, muitíssimo querido para mim” (V. 16) a vida é a centralidade do amor e do respeito, coração do Evangelho, destacado por Paulo. Filemom era um líder justo, da comunidade de Colossos, que recebeu as viagens do apóstolo, sabendo que seu escravo fugira por roubo preocupou-se com seu retorno agora sobre a proteção de Paulo, nesse caso uma ação com prudência, logo após a conversão de Onésimo, que nos une a todos em uma só comunidade, afinal o próprio Paulo já havia escrito a Gálatas 3:28 “Não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos são um em Cristo Jesus.”
O Evangelho da comunidade de Lucas (Lc 14,25-33) Jesus fala às multidões, dando uma catequese que parece radical, mas é bem simples, saber dar a verdadeira dimensão do desapego, desapegar-se não é simplesmente deixar pra lá, mas saber o que realmente vale a pena levar na caminhada, deixar “pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida” (V. 26) é um convite para saber o que levar, alguns interpretam como um chamado vocacional, pode até ser, mas ele está também voltando sua fala para a vida comunitária, saber perder para ganhar! Entregar-se por completo, não carregando pesados fardos do passado, precisamos aprender nessa mensagem que em nossa jornada é preciso desapegar-se de coisas que não somariam na viagem, na lógica, ter menos para ganhar mais, isso é sabedoria! que vai na contramão do pensamento moderno que visa apenas o ter e o acumular.
A condição dada por Jesus de “carregar a sua cruz” não pode ser vista como uma punição, mesmo que a cruz seja um instrumento de tortura e dor, que em Cristo foi ressignificado, mas a cruz deve ser vista, como um exercício da vida cotidiana que é cheia de pesadas exigências, mas a mensagem da cruz não é um caminhar solitário, mas uma mensagem de sempre andar juntos e juntas, a cruz fica mais leve quando partilhamos a vida, as perdas e ganhos, a sabedoria de Deus exige uma vida nova, um estilo desconcertante aos olhos do mundo.
Hoje em nosso país, fazemos lembrança da independência do Brasil, que seria uma separação entre a colônia e a metrópole, mas será que somos independentes? O grito dos excluídos e excluídas deste ano aponta o desafio de “Vida em primeiro lugar!” e o lema “Cuidar da Casa Comum e da democracia é luta de todo dia” mensagem mais clara que essa impossível, em tempos de polarização, alguns querem de volta as amarras da colonização, chegando ao ponto de agradecer pelas taxações que o Brasil recebeu e outros querem um país livre e soberano, mas de fato o que nós queremos mesmo é comida na mesa, Igualdade social e respeito a criação! Recentemente o papa Leão XIV em um telegrama enviado aos bispos da Amazônia reunidos em Bogotá (agosto de 2025) disse “Não ser escravo ou adorador da natureza” rapidamente “exército” da tradição, iniciou seus ataques tentando distorcer a fala do santo padre, indicando que ele seria contra a “laudato si”, antes de ser papa o Bispo Robert, é um profundo conhecedor da realidade dos povos da floresta, onde ela viveu por mais de 20 anos, ele alerta sobre a dependência das cidades as grandes empresas, em explorar os mais simples e humildes, gerando fome e destruição.
A Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, COP 30, que será realizada em Belém, em novembro, apresenta-se diante de um grande dilema, como conciliar o cuidado com a criação diante dos avanços do capital que só deseja o consumo? a resposta é simples, uso da sabedoria. Colocar o Espírito Santo, criador e agente de toda a graça, em nossas decisões, em nossa jornada devemos ser leves e bem atentos aos dons deixados por Deus a nós.
Textos de apoio
Primeira Leitura (Sb 9,13-18) Segunda Leitura (Fm 9b-10.12-17)//Evangelho (Lc 14,25-33) https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2025-08/papa-leao-xiv-bispos-conferencia-eclesial-amazonia-ceama-2025.html
