Reflexão do Evangelho

O Reino de Deus é semelhante a alguém que lança a semente sobre a terra – Mc 4, 26 – 34

“O Reino de Deus é semelhante a alguém que lança a semente sobre a terra”

 O texto destacado dessa semana é uma espécie de exemplificação das parábolas como Jesus se reportava ao povo. Sua preocupação principal era de explicar como seria o Reino de Deus. Primeiro, Ele compara com o lançamento de uma semente à terra e seu vertiginoso crescimento, com a sega que vem em seguida. Logo após comparou-o com o crescimento de um grão de mostarda que ainda que seja das menores sementes existentes, cresce a ponto de abrigar aves em sua ramagem. Assim, Jesus ensinava sobre o crescimento do Reino de Deus. Percebe-se que o autor do Evangelho faz questão de frisar que Jesus usava muito esse artifício de linguagem para instruir as multidões.

Notadamente, o fato de Jesus usar parábolas para se comunicar é só um detalhe. Ele já expressava tanto os valores desse Reino que, mesmo que Ele não falasse, todas as pessoas percebiam: Ele respirava, andava, se relacionava, se compadecia e amava baseado nesses valores. Absolutamente tudo que Ele fazia apontava nessa direção.

Isso nos leva a pensar como se faz a nossa forma de transmitir o Reino de Deus que está dentro de nós. Como falamos? Como o expressamos? Ou, ainda, qual reino as pessoas veem em nós?

Atribui-se a São Francisco de Assis a seguinte frase: “pregue o Evangelho, se necessário, use palavras”. Com certeza, essas palavras saíram da boca de uma vida que sabia como estava vivendo para poder falar: ele encarnou o Reino de Deus até o fim de seus dias. No entanto, não se quer dizer com isso que precisamos fazer como São Francisco que largou tudo e saiu nu da casa de seus pais para assumir uma vida de completa abnegação. Não, não é para tanto.

A simplicidade está no que somos e colocamos para que possa frutificar. Explico melhor. Jesus não falou, por exemplo, do caroço enorme de uma manga para dizer que quando ela é plantada, nasce uma super mangueira, mas de uma das menores sementes existentes no mundo – a semente de mostarda. Assim, não é preciso que sejamos advogados/as para lutar pelas causas justas; ou tenhamos acesso aos meios de comunicação para falar pelas pessoas excluídas; ou que sejamos fabricantes de próteses para ajudar o amputado a andar; ou que sejamos fabricantes de óculos para ajudarmos quem não enxerga um palmo adiante de seu nariz. Basta que queiramos ser semente, o resto é com Deus. Mais didático impossível.

O Reino de Deus torna-se como sementes de mostarda lançadas e crescidas quando não viramos o rosto ao necessitado; quando acolhemos aquele/a que precisa de um ouvido pronto a escutar; quando nos dispomos por aqueles que têm seus direitos negados; quando nos colocamos como a boca dos excluídos, as pernas dos amputados, os olhos dos que são cegos e não conseguem enxergar o que lhe estão fazendo ou estão privados de ler o mundo…

Às pessoas nos tempos de Jesus nem sempre conseguiam ter entendimento do que Ele ensinava em suas parábolas. O texto fala que somente aos discípulos Ele explicava o sentido do que havia dito. Mas nós somos privilegiados! Dois mil anos depois, apesar dEle ter usado uma figura de linguagem para se expressar, temos o privilégio de compreendê-la.

Resulta disso que possamos entender que nossas ações e palavras sejam como sementes, ainda que minúsculas, porque o importante é disponibilizá-las para que possam dar frutos e crescer, sem hierarquia de valores do que é mais ou menos importante, ou se apressar para saber o que pode vir em decorrência do que fazemos, precisamos (nos) lançar, o que vem depois disso é competência divina.

Para encerrar, vamos lembrar de mais uma parábola, a do semeador, que está em Mateus 13,1-23. Ao final dela, depois de explicar a importância de jogar as sementes nos mais diversos tipos de terra, Jesus diz que a boa terra produz a 30, a 60 e a 100 por um, ou seja, nem todas dariam o mesmo resultado. O que significa que os resultados não dependem de nós, mas que a terra sempre dá. Assim, não é da nossa competência saber o que virá, como iremos frutificar… A nós só nos cabe a disposição em estar e servir para frutificar. Dessa forma, nossa sementinha frutificará como diz a parábola.

Ana Valéria Gomes de Moraes
CEBI-Ce

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