Leia a reflexão sobre Mateus 16.13-19, texto de Tomaz Hughes.
Boa leitura!
Como evangelho deste domingo, escolheu-se a história do caminho de Cesareia de Felipe. O relato mais antigo está em Marcos 8,27-38, que se tornou o pivô de todo aquele Evangelho. A estrutura de Mateus é diferente. Porém, o relato tem a mesma finalidade, ou seja, clarificar quem é Jesus e o que significa ser seu discípulo.
A pedagogia do relato é interessante. Primeiro Jesus faz uma pergunta aparentemente inócua: “Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?” Assim recebe diversas respostas, pois esta pergunta não compromete, uma vez que tem a ver a compreensão de terceiros. Mas, a segunda pergunta traz a facada: “E vocês, quem dizem que eu sou?” Agora, não vêm muitas respostas, pois quem responde em nome pessoal, e não dos outros, se compromete com as consequências. Pedro, representante dos Doze, se arrisca e proclama a verdade sobre Jesus: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. Aparentemente, Pedro acertou. E realmente, em Mateus, Jesus confirma a verdade do que Pedro proclamou. Jesus afirmou que foi através de uma revelação do Pai que Pedro fez a sua profissão de fé. Mas, para que entendamos bem o trecho, é necessário que continuemos a leitura pelo menos até v. 25. Pois, o assunto é mais complexo do que possa parecer.
Após afirmar que Pedro tinha falado a verdade, Jesus logo explica o que significa ser o Messias. Não era ser glorioso, triunfante e poderoso, conforme os critérios deste mundo. Muito pelo contrário, era ser fiel à sua vocação como Servo de Javé. As consequências dessa fidelidade ao Pai eram prisão, a tortura e o assassinato, dando a vida em favor de muitos. Jesus confirmou que, de fato, era o Messias, mas não do jeito que Pedro quis. Ele, conforme as expectativas do povo do seu tempo, esperava um Messias forte e dominador. Não um que pudesse ir e levar os seus seguidores com ele até a cruz. Por isso, Pedro tenta demover Jesus, pedindo que nada disso acontecesse. Como recompensa, ganha uma das frases mais duras da Bíblia: “Fique atrás de mim, satanás, você é uma pedra de tropeço para mim, pois não pensa as coisas de Deus, mas dos homens!” (v. 23). Pedro, cuja proclamação de fé em Jesus como filho de Deus e cujo reconhecimento de Jesus como pedra angular da Igreja (vv. 16.18), é agora chamado de Satanás – o Tentador por excelência – e “pedra de tropeço” para Jesus. Pedro tinha os títulos certos para Jesus, mas a prática errada.
Assim, Jesus usa o equívoco de Pedro para explicar o que significa ser seguidor dele: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me” (v. 24). Ter fé em Jesus não é, em primeiro lugar, um exercício intelectual ou teológico, mas uma prática: o seguimento dele na construção do seu projeto, até as últimas consequências.
Hoje, a segunda pergunta de Jesus ainda ressoa forte para nós: quem é Jesus para vocês, para cada um de nós pessoalmente? No fundo, a resposta se dá, não com palavras, mas pela maneira como vivemos e nos comprometemos com o seu projeto – Ele que veio para que todas as pessoas “tivessem a vida e a vida plenamente” (João 10,10). Cuidemos para que não caiamos na tentação do equívoco de Pedro, a de termos a doutrina certa, mas a prática errada; de cairmos na tentação de substituir o caminho humilde e serviçal da cruz pela pompa e ritual; de esquecermos os valores do Reino de Deus para substituí-los com os valores da sociedade vigente. Pedro aprendeu ao longo da vida o que é ser discípulo, pois terminou crucificado também, mas não foi fácil a mudança de mentalidade. Paulo também teve que despojar-se de toda a sua formação farisaica, quando descobriu que a Lei não salva ninguém, mas somente a graça de Deus mediante a fidelidade de Jesus.
Esta opção é pedra de toque para a nossa fidelidade como cristãos. Torna-se, portanto, importante lembrar o ensinamento de Jesus sobre o discipulado: Ele não veio para ser servido, mas para servir (Mt 20,28).