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Leia a reflexão de Marcelo Barros.
Boa leitura!
As notícias nos alertam sobre o repique da Covid 19 no Brasil e uma nova onda com mutação diferente do vírus em alguns países do mundo. Enquanto aumenta o número de pessoas contaminadas e a cada dia é maior a taxa de mortalidade, empresas internacionais e governos disputam quem pode lucrar mais com a venda de vacinas e equipamentos para a proteção da vida. Por conta da pandemia, quase um terço da humanidade afunda no desemprego e na pobreza. Enquanto isso, afirma Ladislau Dowbor em seu livro “A era do capital improdutivo”: 42 pessoas possuem uma riqueza maior do que a metade de toda a humanidade. Um relatório da OXFAM prova que 3, 7 bilhões de seres humanos não conseguem alcançar a renda da qual desfrutam 42 grandes bilionários do mundo. Só Jeff Bezos, o dono da Amazon.com possui uma riqueza pessoal estimada em 200 bilhões de dólares.
Neste quadro da pandemia, governos cancelam festas de finais de ano e limitam ao máximo a possibilidade de concentrações humanas. No entanto, neste contexto, mais do que nunca é necessário que os cristãos celebrem o Natal. E devolvam a esta celebração o sentido original da festa. Não se trata de festejar aniversário do menino Jesus. Desde que no século IV, as comunidades cristãs decidiram celebrar o Natal, o objetivo era lembrar que Deus assume a realidade humana e vem fazer do mundo inteiro um novo presépio de sua inserção no meio de nós.
O Espírito Santo, como Mãe de Ternura, vem inspirar novas testemunhas, encarregadas de lembrar ao mundo que o projeto divino é contrário à sociedade do desvínculo e da indiferença social. Mais do que qualquer pregação religiosa, celebrar o Natal é expressar a amorosidade da vida, traduzida em solidariedade, como expressão de que o Cristo se faz carne neste mundo atual. Lembramos o natal de Jesus em Belém para testemunharmos hoje o Natal do Cristo cósmico que nos faz ver a presença divina na natureza, nos seres vivos e na história do nosso povo.
No Brasil, vamos viver este Natal, solidários aos quase dois milhões de pessoas infectadas e chorando a morte de mais de 180 mil pessoas. Desta, muitas podiam não ter morrido se o governo brasileiro não insistisse em uma política que parece aproveitar o vírus para dizimar comunidades indígenas, quilombolas e populações de periferia. Tudo se torna mais difícil porque não adianta culpar apenas o presidente. Atrás dele, há uma elite escravagista e uma mídia interesseira que fazem qualquer coisa para garantir os seus privilégios. E o pior de tudo é que em nome de Jesus e gritando Deus acima de todos, católicos e evangélicos apoiam e sustentam esta iniquidade.
Esta celebração do Natal de Jesus vem nos dizer algumas coisas boas e outras desafiadoras. A boa é que o Senhor vem sim, está no meio de nós. É fonte de libertação e de vida nova para nós e para a humanidade. O aspecto desafiador é que é um Deus que vem a nós como veio no Natal, isso é como recém-nascido pobre em uma manjedoura. O Natal nos lembra que o nosso Deus é um Deus impotente. Não adianta termos as reações de Pedro e de muitos dos discípulos que sempre imaginavam que o Cristo viesse impor o seu poder e transformar o mundo. Não adianta das nossas prisões de hoje, fazer como o profeta João Batista que da prisão mandou perguntar a Jesus: É você mesmo, ou temos de continuar esperando outro que venha para resolver essa realidade? Ele só pode nos salvar através da cruz nossa de cada dia, Cruz dos irmãos e irmãs que aceitam assumir essa missão do Natal de uma humanidade nova.
Podemos sim, como Maria, receber o anúncio de que estamos todos/as grávidos e grávidas de um novo modo de ser. Esse novo modo de ser transforma-nos interiormente. Deve criar um modo novo de ser Igreja e um modo novo de ser humanidade. E aí, apesar de todos os Bolsoneros da vida, feliz Natal! Teremos então luz e força para encontrar as vacinas eficazes para as muitas pandemias que precisamos vencer: além a da Covid 19, as do desamor, da indiferença, do individualismo e de uma economia que mata. Na Argentina, nos anos 80, cantava Mercedes Sosa em sua Canción de cuña navideña: “
Todos tan alegres, llegó Navidad
y en mi rancho pobre, y en mi rancho pobre
tristeza sonó igual.
No llores mi niño, ya no llores más
que nadie se acuerda, que nadie se acuerda
que no tienes pan.
Allá en un pesebre, dicen que nació
un niñito rubio, rubio como el sol.
Dicen que es muy pobre, pobre como tú,
destino de pobre, destino de pobre
destino de cruz”.
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