Perseguição e Martírio por Causa do Reino
O Evangelho de Mateus nasceu de uma comunidade que já havia experimentado a violência da perseguição por causa do anúncio evangélico de Jesus.
As pessoas cristãs sentiam as contrariedades e as perseguições por causa da sua fé, do testemunho de Jesus e pela atuação em favor do Reino de Deus, por isso o convite à coragem para a vivência da fé cristã. O testemunho dos profetas, a palavra de Jesus e a práxis dos primeiros cristãos, dizem não ser possível ser Igreja de Cristo sem passar pela perseguição, martírio e a cruz, consequência da fidelidade ao Projeto de Deus. Necessitamos de muita coragem diante das adversidades deste mundo, para sermos seguidoras de Jesus de Nazaré, pois Ele nos pede resistência, resiliência, persistência e amorosidade para testemunhar corajosamente e seu Reino. As cristãs, enquanto seguidoras de Jesus, sabiam que as discípulas não estavam acima do Mestre e que quem quisesse segui-Lo também deveria carregar a cruz, por isso o convite, a insistência de não ter medo, confiar no Pai-Mãe e continuar anunciando e testemunhando sem se calar e com muita coragem.
Não Tenham Medo, mas Anunciem!
Contar com Jesus, tendo a experiência de Deus como Pai, sentindo-o presente, faz reagir, reanimar as forças para vencer o medo que deixa o discípulo paralisado. Muitas foram as passagens que mostram Jesus libertando as pessoas do medo. Na época, o terror do poder do Império, as ameaças dos mestres da Lei, as cobranças dos sacerdotes e até a imagem de um Deus Juiz, cheio de ira, tudo isso, criava uma situação de medo e pavor. Hoje, muitos se sentem inseguros na sua vida, no seu trabalho, assustados/as com as crises política, econômica, medo da conjuntura; tensos diante da necessidade de assumir posições e tomar iniciativas, falta de liberdade interior e medo do que dizem, ou seja, sofrendo o medo em segredo. “O medo causa muito dano, onde cresce o medo, perde-se Deus de vista e se afoga a bondade que há no coração das pessoas. A vida se apaga, a alegria desaparece” (Pagola, 2013b, p.121).
E quando o medo toma conta, atitudes como: consumo de mais mercadorias, diversões e prazeres a qualquer custo, fazem esquecer os problemas e o que os desafia. Outros ainda mergulham na resignação, passividade e desencanto com a vida, deixando tudo como está, outros ainda, com desejo de voltar ao passado, torcem pela volta das liturgias da Idade Média, das relações autoritárias, conservadoras e centralizadoras. Jesus nos lembra: “Não tenhais medo dos que matam o corpo”, o Pai acompanha e cuida de nós muito mais do que dos pardais. Jesus está nos encorajando para a Criatividade e a Liberdade, para retomarmos ações e iniciativas nas quais já sentimos o gosto do mundo novo que queremos para todos, todas e todes.
A luta pela justiça do Reino, esbarra na resistência dos que não querem mudanças sociais. Por isso, a afirmação de Jesus tem dois aspectos: primeiro diz respeito a coerência da comunidade com o Projeto de Deus. Segundo aspecto diz respeito as consequências do testemunho corajoso: acusação dos que continuam eliminando vidas humanas.
Não Tenhais Medo da Perseguição
Disse Jesus: “Dizei à luz do dia o que vos digo na escuridão, e proclamai de cima dos telhados o que vos digo ao pé do ouvido”. “Porque não há nada encoberto que não venha a ser revelado”. “Todo aquele que der testemunho de mim diante dos outros, também eu darei testemunho dele diante de meu Pai que está nos céus”.
Deus está dentro da história humana e do universo, por isso, o encontro, a comunhão com Jesus, nos faz sentir confiança nesse Deus que nos ajuda a enfrentar as forças do mal e os poderes do mundo que constituem um forte anti-Reino, fazendo surgir o bem do próprio mal, encontrar caminho correto pelas vias tortuosas da sociedade, não nos abandonando jamais. “Esta fé firme em Deus não leva à evasão ou a passividade. Traduz-se pelo contrário, em coragem para tomar decisões e assumir responsabilidades. Leva a enfrentar riscos e aceitar sacrifícios para ser fiel a si mesmo e a própria dignidade. A verdadeira pessoa crente não se caracteriza pela covardia, pela resignação, mas pela audácia e criatividade”(Pagola, 2013b, p.123-124). Mesmo encontrando forças contrárias, o cristão sabe que, mais cedo ou mais tarde, a perseguição do anti-Reino chega: pelas ameaças, pela indiferença, pela omissão, pelos braços cruzados por não apoiar, por deixar tudo como está, “O ser humano precisa encontrar uma esperança definitiva e uma força que dê sentido à sua luta diária. Precisa descobrir uma ação para viver, uma confiança para morrer”, diz Pagola(id., p.125) E terá a certeza de que, na prestação de contas diante de Deus, conta com Jesus: “Eu darei testemunho dele diante do Pai que está nos Céus”.
Não Temer Conflito
“Não pensem que vim trazer paz à terra. Não vim trazer paz, mas espada”(v.34); diante desta afirmação, a fé nos questiona: a palavra meditada e o pão partilhado em nossas comunidades, tem nos dado coragem para agir no mundo com testemunho profético e cristão? Como nos tornar defensores e promotores da Vida e da Paz numa sociedade carregada de ódio, feminicídio, racismos, relações do patriarcado, agressão a natureza e aos povos originários, aporofobia (rejeição aos pobres), violências diversas?
Diante desta realidade somos chamados/as a ser discípulos/as de Jesus na construção de novas relações para o bem-estar de toda a Criação e futuro do Planeta.
Canto:/:A verdade vos libertará, Libertará:/ – De Antonio Cardoso.
Leonides Ana Marsaro – Chapecó/SC – Coordenação CEBI/SC.
Lindolfo Luiz Welter – Chapecó/SC- CEBI Região Chapecó/SC.