– Mais uma vez a liturgia da palavra insiste sobre a importância da oração. E por que faz isso? Porque a oração, a espiritualidade e a fé são o combustível para nossa missão. Sem oração, sem fé, sem uma espiritualidade bem trabalhada, dificilmente venceremos as batalhas da vida. Não podemos fraquejar ou esmorecer, pois se isso ocorrer, nós enfraqueceremos também nas lutas diárias, pois os desafios são muitos. É preciso ser persistente na oração, pois quem pede recebe, e a porta é aberta para quem bate. Pedir com insistência significa pedir com fé, mesmo que isso possa parecer impertinência a Deus. Somente quem tem fé não desanima diante da suposta demora de Deus em atender seu pedido. Porém, não basta rezar, é preciso rezar com perseverança e agir, pois, como toda ação sem oração é estéril, toda oração sem ação também não produz frutos.
– Esta firmeza e persistência aparece de forma ainda mais clara na parábola da viúva e do juiz que não temia a Deus e não se importava com as pessoas. É um homem surdo à voz de Deus e indiferente ao sofrimento dos oprimidos. A “viúva” é uma mulher sozinha, sem apoio social nenhum. Na tradição bíblica, estas viúvas são, junto com os órfãos e os estrangeiros (refugiados), o símbolo das pessoas mais indefesas. Os mais pobres entre os pobres. Toda vida da viúva torna-se um grito: “Faze-me justiça”. Durante muito tempo este juiz perverso não reage, não se deixa comover, não quer atender aquele brado incessante. Depois reflete e decide agir. Não por compaixão nem por justiça. Simplesmente para evitar incômodo e para que as coisas não piorem. Se um juiz tão mesquinho e egoísta acaba fazendo justiça a esta viúva, será que Deus Pai compassivo, atento aos mais indefesos, “não fará justiça a seus eleitos que lhe suplicam noite e dia”? Os pobres não estão abandonados à própria sorte. Deus não é surdo aos seus clamores. Eles podem ter esperança. Sua intervenção final é certa. Daí a pergunta inquietante do evangelho. Precisamos invocar a Deus de maneira incessante e sem desanimar, precisamos “suplicar-lhe” que faça justiça àqueles que ninguém defende. Mas quando vier o Filho do homem, será que encontrará fé nesta terra?
– É nossa oração um grito a Deus, pedindo justiça para os pobres do mundo, ou será que substituímos por outra, cheia de nosso próprio eu? Ressoa em nossa liturgia o clamor dos que sofrem ou nosso desejo de um bem-estar sempre melhor e mais seguro?
– O que a mulher pede não é um capricho. Só reclama justiça. Seu pedido é o de todos os oprimidos injustamente. Um grito que está na linha daquilo que Jesus dizia: “Buscai o reino de Deus e sua justiça”. É certo que Deus tem a última palavra e fará justiça aos que clamam a ele noite e dia. Para a grande maioria da humanidade, a vida é uma interminável noite de espera. Milhões de pessoas só experimentam os abusos de seus irmãos e o silêncio de Deus. E muitas vezes somos nós mesmos, os crentes, que ocultamos seu rosto de Pai, cobrindo-o com nosso egoísmo religioso.
– As viúvas pertenciam a uma das categorias mais vulneráveis do tempo de Jesus. Elas estavam à mercê da sociedade e dos juízes e se estes fossem injustos, elas perdiam tudo e morriam na miséria, mendigando o próprio pão. A viúva sabe que se ela desistir não terá seu pedido atendido. O juiz não se incomoda com a situação da viúva, mas se sente incomodado pela insistência dela. Às vezes desistimos facilmente, basta encontrar resistência ou portas fechadas. Quem não tem fé desiste logo na primeira barreira. A viúva tem fé, seu pedido tem fundamento. Ela quer justiça; ela acredita na justiça e isso a faz lutar pelos seus direitos. O evangelho encerra mostrando que se o juiz, que não temia a Deus, acabou por atender à viúva, diante de sua insistência, Deus, que ama, fará muito mais por nós. Portanto, não desistamos de pedir, de rezar, de exercitar nossa fé e confiança em Deus. Ele é amor, misericórdia e bondade. Ele vai atender sempre as nossas preces, desde que sejam justas como eram justos e legítimos os pedidos da viúva.
– Que movidos pela persistência e pela força da oração, possamos ser por toda parte e em todos os momentos, “Missionários da Esperança entre os povos”.
Frei Carlos Raimundo Rockenbach, OFMCap.


