Domingo da Epifania
Mateus 2,1-12
05 de Janeiro de 2024
A festa celebrada neste fim de semana faz parte da quadra litúrgica do tempo do natal do Senhor, uma palavra pouco usada em nosso dia-a-dia à acompanha, a solenidade “ Epifania”, manifestação, iluminação, sopro divino, a revelação do Cristo aos povos. Deus, encarnado na fragilidade de uma criança, de uma família de refugiados e desabrigados que nasce em meio à sujeira de uma estalagem, um lugar nada convencional para a chegada de um Rei. Os Magos, figuras citadas no evangelho segundo Mateus (Mt 2.1) são homens de vasto saber, estudiosos das estrelas, pessoas das ciências, que ligam antigas profecias ao nascimento do “Emmanuel”, o Deus conosco.
Jesus a face da misericórdia não é encontrado nos templos suntuosos, lá, em muitas vezes, encontramos Herodes, que representa a inveja e a luxúria, desnorteado e cheio de si, não aceita que Deus se fez criança, e que nasceria na periferia da cidade de Belém, o que adiantava ter acesso às escrituras, conhecer as profecias, mas viver cercado de si mesmo, ignorando as mensagens de Deus? Herodes tinha no palácio os estudiosos das escrituras para lhe dizer o óbvio, onde encontramos o messias? Belém, a casa do pão (Mt 2,5). A perturbação de Herodes é o primeiro sinal que nenhum reino é eterno, sua busca pelo sigilo (Mt 2,7) é a marca de um líder que não tem coragem de expressar seus sentimentos, sussurrando vai ao encontro dos magos e pede a eles uma informação caríssima, a localização do menino.
Ao ver o sinal de Deus, a estrela (Mt 2,10) os encheu de alegria, somos convidados e convidadas a nos encher de alegria todos os dias, em nossas fraquezas encontramos a vontade de Deus, pois é na dificuldade que devemos nos perguntar: o que Deus quer dizer? Hoje sua mensagem vem por meio da estrela. Mas do que guiar os magos, elas nos guiam em meio à escuridão da noite, para que tenhamos a sua luz a nossa frente na certeza que Deus está conosco. Quem encontra o caminho em Jesus, não pode voltar pela mesma estrada de antes,(Mt 2,12) estrada essa que leva à riqueza dos palácios e a morte. Seguir Jesus é mudar a rota da vida, não é fácil abandonar-se à misericórdia de Deus, mas precisamos mudar os planos se quisermos estar em comunhão com a família de Nazaré, e essa é uma escolha que nos transforma para sempre, e tenhamos a certeza que é no meio do povo.
As vezes ficamos perdidas, no lado obscuro da alma, dias e noites de sombras. Porque precisamos aprender a escutar, ver os sinais de Deus! “ouvir o silêncio” a nossa recompensa é a contemplação de um Deus inocente feito criança, no colo de sua mãe (Mt 2,11). Ao colocarem-se diante do menino, os magos ofereceram presentes, ouro, em sua realeza , incenso para sua divindade e mirra para sua humanidade (Mt 2,11). Um Rei diferente dos outros que não idolatra o dinheiro ou o acúmulo de bens, Herodes está nessa história para evidenciar isso. O Incenso, oferecido, a santidade de Deus que não foi queimado no palácio ou nos suntuosos templos, mas no casebre da periferia de Belém, a Mirra, árvore espinhosa, presente nas terras da mãe África, sua essência é o prenúncio do que, mais tarde, seria um dos óleos a preparar o corpo de Jesus.
Os textos que acompanham a reflexão, do livro do profeta Isaías, no cap. 60, 2 “Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti.” são sinais que nenhuma pessoa ficará abandonada se confiar plenamente na luz do Senhor, Jerusalém será elevada, não pela pureza da raça, como imaginavam os ditos eruditos das escrituras, mas pela mistura dos povos! A manifestação do Senhor é a completude, todos e todas são bem-vindas à festa das luzes, todos e todas na grande roda da vida “ ficarão radiantes, com o coração vibrando e batendo forte” (Is. 60,5).
Na carta de Paulo aos Efésios, Deus nos dá a conhecer os seus planos, diferente do pensamento do império, que conspira em sussurros, todos são chamados a ser “ membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho.” (Ef 3, 6) A alegria da festa que celebramos, este manifestar de Deus em nosso meio, no Brasil é regada à música e lindas manifestações de folclore, ladainhas, sambas, visitas e partilha do pão, em vários lugares desse vasto país, homens e mulheres vestidos com o colorido de fitas, reforçam a importância do celebrar o Deus conosco.
Textos de apoio.
(Is 60,1-6) / (Ef 3,2-3a.5-6) / (Mt 2,1-12)
Gilson Dias
Geógrafo, Mestre em Educação e Biblista do CEBI-AM @cebi.am
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