Leia a reflexão sobre Jo 2,1-11 , texto de Valmir Assis.
Que sinais e personagens uma festa de casamento pode nos apresentar? Aliança, festa, proximidade, amor recíproco… convidados, garçons, noivos… é assim que o tempo comum, ou melhor, o tempo do discipulado e da missão recomeça nas comunidades, com a narrativa de uma festa de casamento.
O texto nos avisa que este é o princípio dos sinais de Jesus e que por eles seus discípulos creram. Há uma esperança de que nós, cotidianamente, engrossemos o coro desses crentes.
O Reino de Deus é a grande festa! A aliança que em Jesus é reestabelecida. Mas sem reciprocidade, não há festa, não há amor. O cenário da festa é Israel, lugar onde o amor a deus tem virado artigo de luxo. O Povo sofre com a corrupção dos governantes, a distância de seus sacerdotes e a miséria que assola a vida das pessoas. Não há vinho que não seque, não há alegria que não se esvaia.
Mas voltemos pra cena: uma festa de casamento, Maria já está na festa, aqui ela não é a personagem Maria, mas a representação do povo de Israel, Jesus chega à festa com seus amigos. Logo mais, a mãe anuncia uma lástima: Não tem mais vinho! A festa fica em suspenso. Qualquer festa é interrompida se a alegria não está mais no recinto. Todos e todas nos temos convivido com a suspensão das festas mais animadas que vivenciamos, uma vez que não estamos em tempo de relaxar com a dor de muita gente e com os cuidados que ainda devemos tomar. O que segue no evangelho nós conhecemos. Jesus é apressado a realizar aquele sinal, os funcionários da festa escutam e executam suas ordens e de novo a festa possui vinho.
Por mais que queiramos buscar outros sentidos para este episódio da vida de Jesus, precisamos recordar essa boa nova: Jesus resgata a aliança com seu povo através da solidariedade. Não adianta ouvir o apelo apenas, é preciso agir. A festa corre risco de terminar numa humilhação completa. A solidariedade gera festa! Gera Alegria! Gera reciprocidade e aliança!
O mestre sala nem dá conta que o vinho faltou. Mas não era obrigação dele? Quantos por aí se arvoram a ser mestre sala nas comunidades sem perceber a realidade em volta? Cuidam do cerimonial mas não conseguem perceber que seu povo já não tem vinho a muito tempo… Quatas comunidades de fé pararam pra perceber que a festa de casamento só poderia recomeçar após o serviço e ação solidária? È verdade que vimos muitos grupos agindo, mas infelizmente, também assistimos a inércia de muitas Igrejas e comunidades no momento em que mais deveria agir: Eles não tem mais vinho!
Diante disso Jesus age junto aos garçons da festa, os que estavam servindo. A aliança é feita através da cena narrada: O povo constata que não tem mais vinho, Jesus se solidariza e a festa retoma com aqueles que servem. A Aliança é diaconal, ou seja, no serviço baseado nas palavras de Jesus. Os serviçais escutaram as ordens de Jesus.
Alguém continua perdido: o mestre sala. A ponto de se voltar para o Noivo e cumprimentá-lo por guardar o vinho melhor para o final. O noivo, ou melhor, aquele que nos convida a uma nova aliança, é o próprio Deus e ele nos oferece o melhor, seu filho Jesus. Ao contrário de tanta carranquice e murmúrio de tanta gente que prega uma fé tristonha, nosso Deus faz festa e aumenta a dose de vinho toda vez que sente que podemos ser seus diáconos e diaconisas para o Reino. Nas bodas, mais vinho, com o filho pródigo, festa larga, com a moeda encontrada, euforia com as vizinhas e amigas, Com Zaqueu, jantar e conversão… festa, festa, festa.
As bodas de Caná é um convite a ouvirmos mais uma vez a voz de Jesus e, junto com Ele, sermos solidários em um mundo ainda arrasado pela pandemia, assumindo o serviço que restaura a aliança de Deus com seu povo, a criação, o planeta. Me recorda a canção “Viramundo” de Gilberto Gil, onde se pode bradar a plenos pulmões: Ainda viro esse mundo em festa, trabalho e pão. O evangelho em faz pensar que essa frase poderia ser gritada pelo próprio Deus. Está na hora de resgatar a aliança, minha gente! Tá na hora da revolução da Boa Nova! É hora de virar esse mundo em festa, trabalho e pão!
O Reino de Deus é uma festa de casamento!