O Fariseu e o Cobrador de Impostos

Domingo XXX do Tempo Comum
Lucas 18,9-14
Antonio de Pádua Rocha, CEBI-MG

O texto na Bíblia de Jerusalém começa assim: “ Contou ainda essa parábola para alguns que convencidos de serem justos, desprezavam os outros”( versículo 9). Parece que o texto está no contexto da frustração diante da parúsia (segunda vinda de Jesus), que não aconteceu imediatamente, e a comunidade teme que a espera seja em vão. Diante do grupo com quem se fala há um problema na comunidade: aquela turma cheia de normas e regras, mas que parece ainda não estar claro, se convence de que tudo tem que ser normatizado. A espera de um Messias que vai salvar os “cumpridores” da lei.

Vejo a semelhança com as nossas liturgias atuais. Tantas roupas, tantos ritos, tantas vênias e tantos objetos que as pessoas se perdem. A maioria do povo que frequenta as celebrações não sabe para que serve e qual o objetivo de tanta parafernália. Por outro lado, temos os grupos que estão nas ruas, vivendo sabe-se lá como, crendo em algo que também não sabem, mas que confiam e esperam no Senhor. São aqueles que rezam e se acham o último dos últimos, porque as portas dos templos, as condições básicas de vida, não são oferecidas a eles. É como se alguém dissesse: você é um pecador, pelo simples fato de ser um morador de rua, alguém que comete vários delitos, que lutam pela sobrevivência e estão afastados do convívio.

Às vezes, por causa de suas atitudes não muito ortodoxas, são considerados os ‘impuros”, os “publicanos”, os temidos, porque não estão na esfera do chamado “reino dos céus. É um alerta deste texto para a compreensão de que, quem está mais distante da mesa, pode ser o convidado especial para o banquete. A esperança é deles, porque eles só tem a esperança do perdão pelas faltas. Observe que ele já se encontra na situação de “pecador”, ele se reconhece ser “menor”, enquanto que o fariseu continua na expectativa da recompensa imediata, porque, afinal, é um “cumpridor dos mandamentos”. A oração do excluído chega até os ouvidos de Deus, porque mesmo estando no pecado, se reconhece como menor. E se colocando como o menor, necessita do “copo d’água”. E Jesus é esse copo d’água que sacia o humilde, o desprezado pela sociedade , sociedade do consumo, onde o legalista, o “santo”, se acha o primeiro a ser escolhido.

Há que se refletir sobre nossas atitudes enquanto servidores, leitores da Bíblia se estamos na posição de quem ainda tem muito que ouvir e aprender ou se já nos sentimos donos da palavra. Em que situação nos encontramos? De quem estuda e se coloca na atitude humilde? Ou acreditamos que só basta levantar a voz e bater no peito, discriminando o outro?

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