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O Espírito do Senhor está sobre mim

Leia a reflexão do evangelho sobre Lucas 1,1-4; 4,14-21. O texto é de autoria de Tomaz Hughes.

O espírito do Senhor está sobre mim

Segundo Lucas, o texto relata a primeira experiência da Vida Pública de Jesus. Deu-se na sua terra de criação – Nazaré. Na linguagem de hoje, Jesus foi para a capela da comunidade e foi convidado a fazer parte da equipe litúrgica, para fazer a segunda leitura! Naquela época, o culto da sinagoga tinha duas leituras – a primeira tirada da Lei, a segunda dos Profetas.

Jesus, abrindo o livro do Profeta Isaías, encontrou a passagem que diz: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me consagrou para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar um ano da graça do Senhor” (4,18-19).

Não que Ele encontrasse esta passagem por acaso! Pelo contrário – Jesus procurou até achar, pois Ele identificava a sua missão com aquela descrita pelo profeta. Por isso, na hora da homilia, começou com a frase chocante: “Hoje, se cumpriu essa passagem da Escritura que vocês acabam de ouvir” (4,21). Jesus identificou a sua missão com a do Capítulo 61 de Isaías. Nós, como discípulos dele, temos a mesma missão. Olhemos mais de perto cada elemento do texto:

  • a) “Anunciar a Boa Notícia aos pobres”: O evangelho é Boa Notícia – não uma série de leis, nem uma lista de práticas rituais, nem uma moral, mas uma experiência de Deus que traz alegria, felicidade, – especialmente para os pobres! Portanto, Jesus toma posição – o que é boa notícia para uns, é má-notícia para outros! O que é boa notícia para o oprimido, é má notícia para o opressor, a não ser que mude de vida! Não existe uma Boa Notícia neutra, igualmente boa para todos! E quem são os “pobres” citados por Jesus? Aqui, não é o pobre de espírito, nem de coração, nem de fé… É o pobre mesmo, aquele/a que não tem o necessário para uma vida digna (Lucas usa o termo grego ptochois, que significa “indigentes”). Com certeza, na nossa sociedade o termo inclui todos os excluídos.
  • b) “Proclamar a libertação aos presos”: Não só aos na cadeia, mas que estão sem a liberdade dos filhos de Deus – presos hoje pelas consequências do neoliberalismo, do desemprego, do salário mínimo; pelas correntes de racismo, machismo, clericalismo, e tudo que oprime! Também aos presos no seu próprio egoísmo. A Boa Notícia de Jesus vai libertá-los. Porém, esta libertação passa pela mudança radical na sua maneira de viver.
  • c) “Aos cegos a recuperação da vista”: Quanta gente cega hoje! E não por doença dos olhos, mas cegada pela ideologia dominante que não deixa ver a realidade do mundo e dos sofridos; pelas falsas utopias alienantes e pela manipulação de informação pelos meios de comunicação, dominados pela elite, que “fazem a cabeça”; quantos cegos diante da possibilidade de mudança através da força histórica dos oprimidos! Vale a pena notar que o texto enfatiza a “recuperação” da vista – não a doação dela. Ou seja, trata-se de ajudar os/as que uma vez viram a realidade com os olhos de Deus, mas foram cegados pela ideologia dominante ao ponto de não enxergarem mais a verdade.
  • d) “Libertar os oprimidos”: Aqui está condensado o eixo fundamental de toda a Bíblia – o Êxodo, como processo permanente. No livro de Êxodo, Deus se identificou como o Deus que liberta os oprimidos (Êxodo 3,7-10). Jesus se coloca – e coloca todos os seus seguidores – neste mesmo compromisso. Hoje, a época é diferente, mas a opressão continua, e Deus nos conclama para que todos nós nos empenhemos nesta luta para concretizar a libertação dos oprimidos.
  • e) “Proclamar o ano de graça do Senhor”: O Ano da Graça – o Ano Jubilar! Memória da proposta de Levítico 25, o ano do perdão das dívidas, da libertação dos escravos, da devolução das terras aos seus verdadeiros donos!

Como concretizar, na realidade do Brasil de hoje, esta visão? O que significa hoje o perdão das dívidas, a libertação dos escravos e a devolução das terras aos donos originais? Questões evangélicas da fé, que têm fortes consequências políticas e econômicas e desafiam a tendência que incentiva uma religião intimista, individualista e desencarnada da realidade. Pois, júbilo, alegria não é resultado de decretado. Tem que brotar de algum motivo profundo.

Aqui, o próprio Jesus fala da sua missão e que é também a nossa. Pois, fomos todos “consagrados com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres, para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar o ano da graça do Senhor” (Lucas 4,18-21).

Texto partilhado pelo autor (em memória).

 

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