Reflexão do Evangelho

Manter viva a consciência da missão!

Leia a reflexão sobre Marcos 1,40-45, texto de Carlos Mesters e Mercedes Lopes.

Boa leitura!

Nos versículos 16 a 45 do primeiro capítulo, Marcos descreve o objetivo da Boa Nova e a missão da comunidade, apresentando os critérios para as comunidades do seu tempo poderem avaliar a sua missão. Tanto nos anos 70, época em que Marcos escreveu, como hoje, época em que nós vivemos, era e continua sendo importante ter, diante de nós, modelos de como viver e anunciar o Evangelho e de como avaliar a nossa missão.

COMENTANDO

Mc 1,40-42: Acolhendo e curando o leproso, Jesus revela um novo rosto de Deus

Um leproso chega perto de Jesus. Era um excluído. Devia viver afastado. Quem tocasse nele ficava impuro também! Mas aquele leproso teve muita coragem. Transgrediu as normas da religião para poder chegar perto de Jesus. Ele diz: “Se queres, podes curar-me!” Ou seja: “Não precisa tocar-me! Basta o senhor querer para eu ficar curado!” A frase revela duas doenças: 1) a doença da lepra que o tornava impuro; 2) a doença da solidão a que era condenado pela sociedade e pela religião. Revela também a grande fé do homem no poder de Jesus. Profundamente compadecido, Jesus cura as duas doenças. Primeiro, para curar a solidão, toca no leproso. É como se dissesse: “Para mim, você não é um excluído. Eu o acolho como irmão!” Em seguida, cura a lepra dizendo: “Quero! Seja curado!” O leproso, para poder entrar em contato com Jesus, tinha transgredido as normas da lei. Da mesma forma, Jesus, para poder ajudar aquele excluído e, assim, revelar um rosto misericordioso de Deus, transgride as normas da sua religião e toca no leproso. Naquele tempo, quem tocava num leproso tornava-se um impuro perante as autoridades religiosas e perante a lei da época.

Mc 1,43-44: Reintegrar os excluídos na convivência fraterna

Jesus não só cura, mas também quer que a pessoa curada possa conviver. Reintegra a pessoa na convivência. Naquele tempo, para um leproso ser novamente acolhido na comunidade, ele precisava ter um atestado de cura assinado por um sacerdote. É como hoje. O doente só sai do hospital com o documento assinado pelo médico de plantão. Jesus obrigou o fulano a buscar o documento, para que ele pudesse conviver normalmente. Obrigou as autoridades a reconhecer que o homem tinha sido curado.

Mc 1,45: O leproso anuncia o bem que Jesus fez; ele e Jesus se tornam excluídos

Jesus tinha proibido o leproso de falar sobre a cura. Mas não adiantou. O leproso, assim que partiu, começou a divulgar a notícia, de modo que Jesus já não podia entrar publicamente numa cidade. Permanecia fora, em lugares desertos. Por quê? É que Jesus tinha tocado no leproso. Por isso, na opinião da religião daquele tempo, agora ele mesmo era um impuro e devia viver afastado de todos. Já não podia entrar nas cidades. Mas Marcos mostra que o povo pouco se importava com estas normas oficiais, pois de toda a parte vinham a ele! Subversão total!

O duplo recado que Marcos dá às comunidades do seu tempo e a todos nós é este: 1) anunciar a Boa Nova é dar testemunho da experiência concreta que se tem de Jesus. O leproso, o que ele anuncia? Ele conta aos outros o bem que Jesus lhe fez. Só isso! Tudo isso! E é este testemunho que leva os outros a aceitar a Boa Nova de Deus que Jesus nos trouxe. 2) Para levar a Boa Nova de Deus ao povo, não se deve ter medo de transgredir normas religiosas que são contrárias ao projeto de Deus e que dificultam a comunicação, o diálogo e a vivência do amor. Mesmo que isso traga dificuldades para a gente, como trouxe para Jesus.

ALARGANDO

O Anúncio da Boa Nova de Deus feito por Jesus

A prisão de João fez Jesus voltar e iniciar o anúncio da Boa Nova. Foi um início explosivo e criativo! Jesus percorre a Galileia toda: as aldeias, os povoados, as cidades (Marcos 1,39). Visita as comunidades. Ele muda de residência e vai morar em Cafarnaum (Marcos 1,21; 2,1), cidade que fica no entroncamento de estradas, o que facilita a divulgação da mensagem. Ele quase não pára. Está sempre andando. Os discípulos e as discípulas com ele, por todo canto. Na praia, na estrada, na montanha, no deserto, no barco, nas sinagogas, nas casas. Muito entusiasmo!

Jesus ajuda o povo prestando serviço de muitas maneiras: expulsa maus espíritos (Marcos 1,39), cura os doentes e os maltratados (Marcos 1,34), purifica quem está excluído por causa da impureza (Marcos 1,40-45), acolhe os marginalizados e confraterniza com eles (Marcos 2,15). Anuncia, chama e convoca. Atrai, consola e ajuda. É uma paixão que se revela. Paixão pelo Pai e pelo povo pobre e abandonado da sua terra. Onde encontra gente para escutá-lo, ele fala e transmite a Boa Nova de Deus. Em qualquer lugar.

Em Jesus, tudo é revelação daquilo que o anima por dentro! Ele não só anuncia a Boa Nova do Reino. Ele mesmo é uma amostra, um testemunho vivo do Reino de Deus. Nele aparece aquilo que acontece quando um ser humano deixa Deus reinar, tomar conta de sua vida. Pelo seu jeito de conviver e de agir, Jesus revelava o que Deus tinha em mente quando chamou o povo no tempo de Abraão e de Moisés. Jesus desenterrou uma saudade e transformou-a em esperança! De repente, ficou claro para o povo: “Era isso que Deus queria quando nos chamou para ser o seu povo!”

Este foi o começo do anúncio da Boa Nova do Reino que se divulgada rapidamente pelas aldeias da Galileia. Começou pequena como uma semente, mas foi crescendo até se tornar árvore grande, onde o povo todo procurava um abrigo (Marcos 4,31-32). O próprio povo se encarregava de divulgar a notícia.

O povo da Galileia ficava impressionado com o jeito que Jesus tinha de ensinar. “Um novo ensinamento! Dado com autoridade! Diferente dos escribas!” (Marcos 1,22.27). Ensinar era o que Jesus mais fazia (Marcos 2,13; 4,1-2; 6,34). Era o costume dele (Marcos 10,1). Por mais de 15 vezes o Evangelho de Marcos diz que Jesus ensinava. Mas Marcos quase nunca diz o que ele ensinava. Será que não se interessava pelo conteúdo? Depende do que a gente entende por conteúdo! Ensinar não é só uma questão de ensinar verdades novas para o povo decorar. O conteúdo que Jesus tem para dar transparece não só nas palavras, mas também nos gestos e no próprio jeito de ele se relacionar com as pessoas. O conteúdo nunca está desligado da pessoa que o comunica. Jesus era uma pessoa acolhedora (Marcos 6,34). Queria bem ao povo. A bondade e o amor que transparecem nas suas palavras fazem parte do conteúdo. São o seu tempero. Conteúdo bom sem bondade é como leite derramado.

Marcos define o conteúdo do ensinamento de Jesus como “Boa Nova de Deus” (Marcos 1,14). A Boa Nova que Jesus proclama vem de Deus e revela algo sobre Deus. Em tudo que Jesus diz e faz, transparecem os traços do rosto de Deus. Transparece a experiência que ele mesmo tem de Deus como Pai. Revelar Deus como Pai é fonte, conteúdo e destino da Boa Nova de Jesus.

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