Neste texto do evangelho de João (6,41-51), Jesus diz: “Eu sou o pão que desceu do céu”. “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou, não o atrair”. “Quem ouve o Pai e é instruído por Ele, vem a mim”. “Só aquele que vem de Deus é que viu o Pai”. Os judeus não entenderam esse discurso de Jesus e começaram a murmurar dizendo: “mas esse não é Jesus, o filho de José, o carpinteiro, sua mãe não é Maria? Não conhecemos seus pais? Como ele pode ter descido do céu?”.
Até hoje, como é difícil entender e aceitar o mistério da encarnação! Aceitar um Jesus humano como nós, que se despoja de sua divindade e se faz um de nós, que se encarna, que se faz gente como nós. Assim também no deserto, eles murmuraram contra Moisés, preferindo voltar à vida de escravidão e morte do Egito, a aceitar a liderança de Moisés, que era humano como eles. É mais fácil espiritualizar o divino que aceitar esse Deus cujo nome é “Eu Sou”, que vê a fome, que ouve os gemidos, que conhece a realidade de opressão em que vive com o povo, que conhece os seus sofrimentos e que desce para libertar, para caminhar com ele. Jesus ao se definir “Eu Sou”, é esse Deus libertador cuja carne é dada para alimentar o povo nessa caminhada de libertação, para dar vida plena a todo o planeta.
Assim também no deserto, eles murmuraram contra Moisés (Ex 16) e foi-lhes dado o maná, mas os que comeram o maná, morreram, porque o maná não é o pão de vida eterna, saciou a fome física momentânea, mas não alimentou para a vida eterna. O projeto de Deus é pão em todas as mesas. O maná foi recolhido e partilhado com igualdade e quem recolheu mais que o necessário, para acumular, apodreceu.
Quem come a minha carne terá a vida eterna, permanecerá em mim e Eu nele e vai continuar fazendo o que fiz, dando a sua vida para a vida do mundo, ensina Jesus.
Essa palavra continua sendo incompreendida até hoje, porque celebrar a eucaristia é partilhar a vida, os sonhos, é partilhar o pão, é entregar a vida como Jesus fez na última ceia e que se concretizou na cruz. Celebrar a eucaristia não é apenas um ritual sem compromisso, mas a eucaristia subtende a partilha do pão como alimento que mata a fome, o pão da subsistência, o pão que alimenta a esperança, o pão da igualdade, da fraternidade, da justiça. É celebrar o compromisso com o projeto de Deus, de vida plena para toda a humanidade,
Como diz o canto: “comungar é tornar-se um perigo.” Como entender a eucaristia como projeto de vida plena, de pão partilhado, de vida doada, para acabar com a fome nas nossas comunidades, nas nossas cidades, para que de fato se concretize a frase de Jesus: “O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo” (Jo 6,51).
Conceição Evangelista CEBI/Pará