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Festa da Sagrada Família

Confira a reflexão do evangelho para o próximo domingo, dia 30 de dezembro. O texto fala sobre Lucas 2,41-52 e pertence a Tomaz Hughes (em memória).

Boa leitura!

Na Igreja Católica, hoje é celebrada a festa da Sagrada Família. Portanto, o trecho de Lucas põe em relevo os três membros da família de Nazaré, embora o seu tema principal seja um ensinamento sobre quem é Jesus, a sua relação com o Pai e com a sua família humana.

A história começa enfatizando a identidade da família humana de Jesus como judeus piedosos. Os regulamentos sobre as peregrinações ao Templo de Jerusalém, para a festa de Páscoa, se encontram em Êxodo 23,17; 34,23 e em Levítico 23,4-14. Como consequência, entendemos que o ambiente em que Jesus cresceu, e em que descobriu a sua vocação e missão, é aquele dos “pobres de Javé”, os devotos que esperavam a libertação de Israel, através da vinda do Messias davídico prometido. Esta viagem prefigura a grande viagem de Jesus a Jerusalém em Lucas 9,51 a 19,27, que ele fará com os seus discípulos, e onde ele revelará, por palavras e ações, o seu relacionamento com o Pai, prefigurado no versículo 49 de nosso texto.

A narrativa salienta certas atitudes de Jesus. É bom prestar bem atenção aos verbos. Lucas diz que Jesus estava no templo entre os doutores, “escutando e fazendo perguntas” (v. 46). A atitude de Jesus é a de um discípulo muito inteligente e não de um mestre. Ele não está “ensinando no Templo”, como muitas vezes dizemos em nossas tradições. Aqui, Lucas antecipa para os doze anos de Jesus o que realmente ocorrerá mais tarde, quando Jesus realmente ensina no Templo e sofre a rejeição e a perseguição por parte de doutores da Lei e Sumos Sacerdotes (Lucas 19,47-48; 21,37-38; 22,53).

Encontramos o ponto central do texto no versículo 49: “Porque me procuravam? Não sabiam que eu devo estar na casa do meu Pai?”.

Aqui, Lucas relata as primeiras palavras de Jesus no seu Evangelho. Agora, não é Gabriel, nem Zacarias, nem Maria quem diz quem é Jesus, mas ele mesmo. A palavra que nós traduzimos como “devo”, em grego dei, transmite o tema de “necessidade”, que aparece no Evangelho 18 vezes e nos Atos dos Apóstolos 22 vezes. Essa palavra “expressa um senso de compulsão divina, frequentemente visto como obediência a uma ordem da escritura ou profecia, ou na conformidade de eventos com a vontade de Deus. Aqui, a necessidade consiste no relacionamento inerente de Jesus em relação a Deus, que exige obediência.” (Marshall, “The Gospel of Luke”).

No versículo 50, fica claro que os seus pais não entenderam que o seu relacionamento com o Pai celeste tomava precedência sobre a sua relação com eles: “Eles não compreenderam o que o menino acabava de lhes dizer”.

A “espada” sinaliza a dor de sentir este distanciamento sem poder compreendê-lo e que já começa a aparecer. Também o velho Simeão a ela se refere em Lucas 2,35. Maria não compreende plenamente, retomando o tema de v. 19, e continua a sua caminhada de fé, meditando sobre o sentido da missão e da identidade de seu filho. Essa experiência de Maria é encorajadora para nós. Quantas vezes acontecem coisas nas nossas vidas que não compreendemos e nelas não conseguimos ver a vontade de Deus? A exemplo de Maria e José, com atitude orante e contemplativa, aceitemos esta escuridão, continuemos a caminhada. Nunca, porém, deixemos de “conservar no nosso coração todas essas coisas”.

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