Reflexão do Evangelho

Reflexão do Evangelho: Exercitar nossa gratidão

Leia a reflexão sobre Lucas 2,22-40, texto de Ana Isa dos Reis.

Boa leitura!

Depois de recontarmos o nascimento de Jesus e nos emocionarmos na noite da véspera do Natal e no dia do Natal, temos a oportunidade de recontar um pouco a infância de Jesus. Quem de nós não se lembra de sua infância e da infância dos filhos?

Ao seguir a lei, José e Maria também expressaram sua fé. Rigorosamente trouxeram Jesus, mesmo bebê, ao templo e cumpriram os rituais prescritos. Quantas vezes não deixamos de trazer nossos filhos à casa de Deus, justificando que são bebês que incomodam, que o culto é muito cedo ou muito tarde?

Mesmo simples, humildes e pobres, os pais de Jesus não deixaram de ofertar, claro que em cumprimento à lei. Sabemos, no entanto, que Jesus questionou muitas vezes os abusos cometidos pelo templo.

Mas gostaria de olhar em outro sentido: a oferta não como obrigação ou cumprimento de leis, mas como gratidão. Somos convidados a exercitar nossa gratidão e essa se transformar do sentimento à ação de ofertar. Maria e José certamente também agradeciam pelo filho que, apesar do nascimento inusitado e em condições tão diferentes e carentes, está bem, e eles desejam que esse menino cresça também na fé. Na sociedade em que vivemos, somos desafiados a nos recordar de que “tudo o que temos vem do Senhor” (1 Coríntios 14) e, justamente por isso, ser agradecidos, doando um pouco do muito que temos recebido em prol da vida.

A infância de Jesus lembra-nos de sua condição: verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Na história da cristandade, alguns, especialmente os docetistas (o docetismo foi uma doutrina dos séculos II e III que negava a existência de um corpo material para Jesus Cristo, afirmando que seria apenas espírito), procuraram arrancar a humanidade de Jesus, afirmando que Jesus era homem somente na aparência. Retirar a humanidade de Jesus significa trair o evangelho. Justamente Lucas aponta a humanidade e a divindade de Jesus lado a lado, inspirando-nos a crescer não só em força, mas também em sabedoria e graça, deixando-nos orientar por Deus.

Essa orientação Lucas transcreve também por intermédio de Simeão e Ana. Pessoas simples, com seus problemas e dificuldades, mas que se sabiam criaturas, vasos nas mãos do oleiro, deixando que esse os conduzisse.

Pensando em nossa vida: quantas vezes não quero eu mesma dirigir a minha vida? Quantas vezes não afogo a voz que ecoa dentro de mim justamente por ela me levar para lá onde eu não espero? Quantas vezes minha incredulidade abafa a voz do Espírito Santo por achar que Deus não fala mais hoje, muito menos comigo? Ou espero apenas uma revelação cheia de show, de cor e imagem? A revelação do Espírito de Deus acontece de forma simples. Foi assim com Simeão e Ana. E veio da forma como eles, quem sabe, nem esperavam. Quem esperaria um Messias bebê? Poderia existir um Messias tão frágil quanto esse revelado na criança Jesus? E, mesmo assim, contra todas as aparências, Simeão e Ana, que se deixavam orientar pelo Espírito de Deus, reconhecem no inesperado o Messias, o Salvador. Somos capazes de perceber a revelação de Deus em nossa vida ainda hoje? E reconhecemos o Messias?

O templo foi lugar de revelação da graça e salvação de Deus a Simeão e Ana. A igreja ainda hoje continua a ser também lugar de revelação de Cristo. Desse Jesus que se revela na pregação da palavra, na administração dos sacramentos, nos empobrecidos e necessitados de hoje (continua valendo a palavra de Jesus relatada em Mateus 25,31ss). Às vezes, meus olhos parecem fechados. Não enxergam mais a graça de Deus, que vem embrulhada de forma tão inesperada como foi com Jesus de Nazaré.

Diante dos olhos, temos uma agenda cheia, um jornal cheio de notícias, um mundo carregado de possibilidades, família, comunidade e nós mesmos. E um ano cheio, com 365 dias pela frente. Quantos enchem o primeiro dia do ano com promessas e mais promessas e esperam o milagre sem nenhum esforço próprio? Quantos não conseguem mais enxergar a graça de Deus a cada novo dia? E pensando em projetos e promessas: quem sabe poderíamos nos inspirar em Simeão? Desejou ver o Messias antes de morrer. O que nós sonhamos? O sonho de Simeão ainda pode ser o nosso sonho, se entendemos que Cristo permanece entre nós da mesma forma inesperada e inusitada como foi no tempo de Simeão e Ana. E ainda hoje poderemos ter a graça de ter nossos olhos abertos e de reconhecê-lo na vivência da fé comunitária. E também hoje somos desafiados a confiar que Ele voltará, sempre alertas em vigília e cheios de trabalho, servindo na seara do Senhor.

E o que temos feito ao reconhecer Jesus? Nós o tomamos no colo e louvamos a Deus? Testemunhamos seu evangelho? Deixamo-nos transformar pela mensagem do Natal? Ou já apagamos tudo, abrimos todos os presentes, viramos a página e entramos no mesmo mundo duro que, por momentos, estava cheio da luz do menino Jesus?

Oração do dia:

Misericordioso Deus, agradecemos-te pelo presente que partilhas conosco: Jesus. Rogamos que teu Espírito Santo guie nossos passos, levando-nos à vivência comunitária da fé e a reconhecer Jesus. Dá que a alegria pelo encontro com o Messias nos desperte ao testemunho, ao louvor a ti, Senhor, e a ofertemos com gratidão e alegria. Abre nossos ouvidos, mente e coração, a fim de compreendermos tua Palavra e nos deixarmos transformar por tua ação misericordiosa. Por Jesus Cristo, o Deus Menino, o Messias esperado, nosso Salvador. Amém.

Bibliografia

CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo. São Paulo: Milenium, 1986.
COMISSÃO de Liturgia da IECLB. Celebrações do Povo de Deus (CPD). São Leopoldo: Sinodal, 1991.
EST/Depto. Bíblico. Roteiro para a Leitura da Bíblia. 2. ed. São Leopoldo: Sinodal, 1996. p. 92-93.
PAGOLA, José Antonio. Jesus – aproximação histórica. Petrópolis: Vozes, 2010.

Fonte: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2011 / Volume: 36 – www.luteranos.com.br/conteudo/lucas-2-22-40

Nenhum produto no carrinho.