É Natal, mas ainda há crianças sofridas

Domingo I do Natal – Mateus 2,13-23
Valdir Miguel Tromm
CEBI-SC

Estamos vivendo, no mundo cristão, as alegrias do Natal, celebrando o nascimento de Jesus de Nazaré. O evangelista Mateus, assim como Lucas, narra de modo particular alguns fatos da infância de Jesus. Enquanto Lucas dá destaque ao anúncio do anjo a Maria, Mateus destaca a figura de José, esposo de Maria.

O texto que iremos meditar neste domingo é a sequência da narração da visita dos magos do Oriente ao menino Jesus. Esta visita ocorreu após a conversa entre eles e o rei Herodes, que não gostou da pergunta dos magos: “Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer”?

Ao voltar da visita ao menino em Belém, os magos são divinamente avisados para não dar informações sobre ele a Herodes. Quando o rei percebeu que os magos haviam voltado à suas terras sem dar-lhe satisfações, resolveu decretar a morte das crianças até dois anos, tanto em Belém como em seu entorno. Desta forma, a alegria do casal José e Maria interrompe-se por causa da brutalidade dos poderosos.

O texto de Mateus nos diz que para evitar que Jesus fosse morto, um anjo aparece em sonho a José. Apenas este evangelista menciona esta manifestação do anjo a José, e o faz por quatro vezes, sendo três neste texto que lemos (vv 13.19.22). José recebe duas vezes a ordem: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe…” e, obediente, por duas vezes age: “Levantou-se, tomou o menino e sua mãe…”. A atitude pronta e decidida de José nos mostra o quanto precisamos estar atentos para ouvir a voz de Deus e agir sempre em defesa da vida.

Enquanto aquela pobre família foge de sua terra para escapar da morte, muitas crianças são inocentemente assassinadas, para desespero de suas mães. Esta crueldade de Herodes era uma característica sua, já que não media esforços nem escondia sua perversidade diante da sede de poder, sendo que até seus parentes o temiam. Por suspeita de traição mandou que fossem mortos membros de sua própria família, como sua esposa e alguns filhos.

Após algum tempo, o rei tirano acaba morrendo também, no entanto, o perigo não termina para Jesus, Maria e José, pois o mal não está apenas na pessoa, mas também na instituição que ele representa. Sendo assim, para garantir o poder e o sistema de opressão e domínio, alguns líderes não se importam em matar, destruir, promover guerras e bombardear crianças, como acompanhamos na Faixa de Gaza e em outros lugares. Olhando a realidade do mundo atual vemos líderes de nações defendendo seus interesses pessoais e sua posição na hierarquia de poder, sem levar em conta a vida das pessoas, nem da ecologia como um todo.

No lugar de Herodes, assume como rei da Judeia seu filho Arquelau, que continuará a serviço do opressor império romano. O novo rei, por sua vez, foi mais perverso que seu pai e por isso o próprio imperador romano o destituiu do cargo alguns anos depois. Mas isso não diminuiu o sofrimento do povo.

A viagem errante daquela pequena família torna-se uma longa jornada em busca de uma terra, um lugar para morar e viver em paz. O que José queria era apenas dar um abrigo a sua família com dignidade, a partir do seu trabalho. Hoje muitos jovens iniciam uma vida a dois sonhando com filhos, um lar que seja seu, um trabalho que lhes garanta o sustento e paz. Ao mesmo tempo que o salário não garante as necessidades básicas, a distribuição dos bens dados por Deus a seus filhos e filhas, é negado à maioria do povo, concentrando-se nas mãos de uns poucos. A ganância e o acúmulo de bens é a maior vergonha que vemos hoje na humanidade, pois a distância entre os que mais tem e os pobres tem aumentado cada vez mais.

As injustiças e violências que continuam acontecendo nesta nossa Casa Comum, violentam e matam crianças indígenas que morrem contaminadas com o mercúrio que polui os rios de suas aldeias; crianças vítimas das bombas e armas que não reconhecem os inocentes; crianças vítimas nas periferias onde as políticas públicas que garantem os bens básicos não chegam; crianças sem acesso à saúde pela falta do alimento básico, da negação das vacinas, do atendimento médico necessário; crianças violentadas e marginalizadas quando a educação com qualidade não lhes é oferecida; crianças refugiadas e deslocadas, muitas vezes sem o pai ou mãe, que buscam um futuro de paz e segurança.

Tenhamos os olhos e ouvidos abertos para reconhecer os Herodes de hoje, para os quais, seus semelhantes são apenas instrumentos na sua ânsia de enriquecer e acumular poder.

Somos convidados a agir como anjos, sendo mensageiros e agentes de uma sociedade mais justa, pacífica, solidária e cristã. Que nossa atitude seja de apoio às políticas públicas voltadas às crianças, para que cresçam protegidas, saudáveis, felizes e amadas.

 

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