Reflexão do Evangelho

Dificuldade de Abrir Mão: Reflexões sobre o Rico e o Reino de Deus em Marcos 10,17-30

Amadas e amados,

O texto de Marcos, capítulo 10, versículos 17 a 30 (Mc 10,17-30) nos faz refletir sobre a necessária adesão pessoal à dinâmica do Reino anunciado por Jesus, para aqueles que desejam se tornar discípulo do Mestre. Senão vejamos:

Conforme o texto (Mc 10,17-22) Alguém corre ao encontro de Jesus, ajoelha-se diante dele e questiona-o sobre o que fará para herdar a vida eterna. Este “alguém” não possui uma identidade, então estamos aqui diante de alguém sobre o qual nada sabemos ainda. No entanto, presumimos que seja um simpatizante da causa de Jesus e que, portanto, aproxima-se, reconhece-o como Mestre, ajoelhando-se diante dele (17). Jesus então cita a “lei” sobre a qual esse “alguém” diz ter guardado desde a juventude (20). Aqui estamos diante de mais um elemento para identificar esse alguém: é uma pessoa adulta, quiçá letrada, e observadora da lei, possivelmente um fariseu, tal qual Nicodemos que admirava Jesus e o encontrava a noite às escondidas (Jo 3,1-2). Ele também reconhece Jesus como mestre e que vem da parte de Deus. O texto nos diz que “fitando-o, Jesus o amou…”(21). Entretanto, Jesus observa que, o que esse “alguém” fala de sí mesma não seja suficiente para receber por herança a vida eterna, conforme deseja. Falta-lhe algo extremamente necessário para que ela adentre na dinâmica do Reino de Deus o qual Jesus anuncia. O que Jesus fala em seguida, e que é a síntese para aqueles que desejam segui-lo, vai deixa- lo atônito. Disse Jesus: “Uma só coisa te falta: vai, vende o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me”(21). Pesaroso, esse “alguém se retira entristecido, pois era possuidor de muitos bens. Esta última frase nos esclarece mais alguma coisa sobre essa pessoa; ela era rica. Não se trata necessariamente de um indivíduo, mas de um grupo social que vivei entre a contradição de ser um fariseu mas, por outro lado, acreditar que Jesus pudesse de fato ser o Messias, o enviado de Deus.

Os fariseus constituíam-se em um grupo de homens sábios e que se diziam cumpridores da Lei. No entanto, Jesus se referia a eles como que “sepulcros caiados” porque exigiam muito do povo simples e humilde e não praticavam nada daquilo que diziam. Esse “alguém” que se aproximou de Jesus, no entanto, é sincero de coração, tanto que Jesus percebe isso e olha para ele com ternura.

Jesus compreende que, embora o cumprimento da Lei seja muito importante, pois ela é normativa para a sociedade, isto não basta para alguém receber o Reino por herança. E aqui vem a grande novidade proposta por Jesus: em complemento à Lei é necessário abrir- se à dimensão do amor e da fraternidade, da justiça e da igualdade.

 

Agora que esse “homem rico” se foi, Jesus volta seu olhar parta os discípulos que o seguiam e manifesta-lhes o quanto é difícil um homem que tem riqueza entrar no Reino de Deus (23). Diante de tais palavras eles ficam espantados, sem compreender aquilo que Jesus está a dizer (24). Jesus, porém, reforça novamente esse conceito, citando, talvez, um dito popular de que “é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus”(25).

A observação de Jesus sobre o quanto é difícil um rico entrar no Reino de Deus choca aqueles que já são discípulos e que estão entrando naquela dinâmica do Reino de Deus a ponto de se perguntarem ‘quem pode ser salvo, dadas essas condições. A ótica dos discípulos é a mesma do interlocutor de Jesus. Suas mentes ainda estão presas àquele regime político, econômico e religioso para o qual a posse de bens significa bênçãos dos céus. As palavras de Pedro ecoam como uma forma de inconformismo uma vez que deixaram tudo para seguir Jesus (28) e agora descobrem que estão sem nenhuma garantia.

Pedagogicamente Jesus os reconforta e põe-se pacientemente a explicar o verdadeiro sentido de ‘perder’ e ‘ganhar’.

A situação daquele ‘jovem rico’ do começo da história retrata bem a atitude do povo diante da mensagem de Jesus e suas dúvidas quando a segui-lo pelo caminho.

Francisco Ribeiro
CEBI/RR

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