Clique no link e ouça a reflexão em áudio: https://creators.spotify.com/pod/show/cebi-nacional/episodes/041—Dia-da-pessoa-trabalhadora–Reflexo-Tg-5-1-6–por-Tiago-e32712q
“E agora vocês, ricos: comecem a chorar e a gritar
por causa das desgraças que sobre vós virão”
Olá, queridos irmãos e queridas irmãs na fé do Senhor Jesus.
O texto que nos é apresentado para reflexão, alguns o apresentam como o mais violento texto do novo testamento contra os ricos; mostra o grito dos injustiçados representado na discórdia: pobres x ricos. Podemos observar, ao lermos a Carta de Tiago, que esse tema conflituoso é sempre apresentado pelo autor (1,9-11; 2,1-13; 4,13-17; 5,1-6), pois tratava-se de uma comunidade de judeus pobres, em sua maioria, e ricos convertidos; por isso, exigia-se que ao entrar na comunidade ocorresse uma profunda transformação de mentalidade e ações. No entanto, para se identificar como comunidade cristã de fato, teria que ter como vocação a prática da fé embasada no amor ao próximo, sendo misericordioso para com os pobres e marginalizados, principalmente. Hoje diríamos; abraçar a fé em Jesus, buscando encontrar caminhos na construção de uma sociedade economicamente justa, politicamente democrática, socialmente igualitária, culturalmente plural, ecologicamente sustentável e preocupada com o bem viver e o bem conviver de todos e todas. Diante disso; a existência de pessoas necessitadas de tudo, de favoritismos, sentimento de auto-suficiência, exploração, acúmulo de riquezas, etc., no seio da comunidade, demonstra uma traição a sua vocação, perdendo sentido de ser fermento transformador da sociedade e de ser chamada cristã.
Hoje o discurso dos defensores do capitalismo neoliberal e do mercado econômico, com uma brutal concentração de riqueza e renda, é de que devemos trabalhar mais e consumir mais; trata-se de tempos difíceis para a classe trabalhadora no Brasil e no mundo, realidade não muito diferente da época de Tiago que registrou a retenção do fruto do trabalho dos pobres pelos ricos, que levavam uma vida pomposa em virtude da exploração dos trabalhadores da vinha (os vinhateiros), oprimindo e matando os pobres; também denunciou a prática da corrupção usada para aquisição de riquezas subornando, controlando e influenciando as cortes na aplicação da lei, impedindo dessa forma que a justiça fosse feita.
Presenciamos no mundo do trabalho um processo de desregulamentação e flexibilização das leis trabalhistas que acarretaram o aumento da insegurança e inquietações no seio das famílias, desemprego, perda de direitos e de proteção social, desigualdade social, salários baixos, terceirização, uberização, e outras; além do surgimento cada vez maior de trabalhadores(as) desenvolvendo trabalho análogo à escravidão. O objetivo desse ataque à classe trabalhadora que também é uma violação dos Direitos Humanos é um só: redução dos gastos e aumento dos lucros do patrão. Bem semelhante à época de Tiago, conforme se deduz desse texto de terrível injustiça social.
Todas essas ações, que aos olhos de Deus são pecaminosas, passarão por um julgamento verdadeiro e justo da ‘revisão da vida toda’ (que não é a aplicada aos beneficiários do INSS). Essa será aplicada pelo próprio Deus, o justo juiz, conhecedor do coração de cada pessoa, cuja sentença é construída por nós mesmos durante a caminhada terrena e que ninguém escapará. Quais testemunhas serão chamadas para esse julgamento final, como nos fala Tiago? Primeiro as próprias riquezas enferrujadas, as roupas comidas pelas traças revelando a avareza do coração, as riquezas armazenadas serão testemunhas contra eles para condená-los; segundo, o salário retido com fraude também será testemunha; terceiro, os trabalhadores oprimidos irão testemunhar contra os ricos poderosos. Assim, não haverá chances para levantar testemunhas falsas e subornar o juiz, então a justiça será feita.
A igreja primitiva colocou a solidariedade e a partilha dos bens como o modo prático de viver a fé cristã, seguimento de Jesus. São Lucas apresenta, em Atos 2,42-47; 4,32-37, uma síntese de como viviam as primeiras comunidades, frisando que entre eles não havia nenhum necessitados. Esta proposta acompanhou fortemente os primeiros séculos da igreja, sendo um ensinamento contundente de vários Padres da Igreja, como São João Crisóstomo, que ao comentar o Salmo 18, refere-se ao rico que morre e deixa a casa de luxo, disse: “Quantos órfãos não terão ficado nus! Quantas viúvas não terão sofrido iniquidades e quantos Operários não teriam sido lesados em seus salários!”
Por fim, as riquezas e o poder, deveriam ser usados como instrumentos para ajudar os necessitados, única forma cabível de justificar sua posse. Devemos então parar e pensar sobre como lidamos com o dinheiro: Somos honestos no trato com ele? Temos em nossas mãos alguma coisa que não nos pertence? Os bens que temos foram conseguidos honestamente? Temos usado nossos bens para ajudar outras pessoas ou temos acumulados para o nosso deleite e conforto?
Ronaldo Rosendo – CEBI Ceará – 01/05/2025


