No mês de setembro meditamos sobre a campanha “setembro amarelo”, em que milhares de vozes ecoam seu grito voluntário em favor da vida, do cuidado com a mente, do cuidado com as pessoas que estão vivendo processos depressivos e crises de ansiedade. E, ao olhar essa realidade que está bem perto de nós, nos reportamos a Jesus e sua prática. Ele, em seu pensar e agir, luta cotidianamente pela vida, pela inclusão, pela saúde, pois a ‘saúde’ é uma realidade e palavra correlata com a palavra ‘salvação’. Dizer que Jesus salva ou cria situações de salvação é dizer que Jesus traz e cuida da saúde. Mas o contrário também acontece! Há sempre forças que, apesar de serem “do bem,” estão sempre nos oprimindo, comprimindo-nos, nos tornando cativos. E essas forças, situações e realidades têm sempre uma narrativa, inclusive religiosa e/ou política. É o que ouvimos no evangelho de hoje.
No evangelho de hoje, Jesus é confrontado pelos poderes religiosos na figura dos fariseus e pelos poderes políticos na figura dos herodianos. Eles, a mando de seus líderes, provocam um diálogo e uma situação para “pegar” Jesus. Querem tirá-lo de cena, querem inviabilizar sua ação pastoral em favor da vida e das relações com o sagrado. E aí introduzem a pergunta: “é permitido ou não pagar impostos a César?” A pergunta inocente esconde por trás uma complexa questão, uma vez que seu povo está debaixo da tutela romana. César representa tudo que é contrário a liberdade e a vida do povo de Israel; representa “forças” que sugam, que inviabilizam a vida de viver, de seguir seu curso livre; César é “senhor” de tudo e de todos. Exige sua parte. A reação de Jesus foi inteligente e sua resposta foi ironicamente mais longe ao pedir que lhe mostrasse a moeda e nela a inscrição gravada para, em seguida, como resposta, arrematar: “dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Ou seja, o que é de César? Os impostos, suas próprias ambições que oprimem e matam o povo, Israel; e o que é de Deus? A vida, o próprio povo, o direito de ir e vir e de decidir seus próprios destinos. O povo é de Deus, não pertence a César, mas o projeto de antivida é de César e por isso se deve devolvê-lo a César.
Com tal resposta, Jesus provoca reações, mas o fato é que, por fina ironia, Jesus põe seus interlocutores diante de uma situação que eles mesmos prepararam para Jesus: são sabotadores da vida, aliciadores do povo a favor do projeto cesariano, e quando se trata do sagrado, também eles, são “cesares” sobre o povo. A resposta de Jesus os denunciam a todos: César, os religiosos e políticos judeus como usurpadores daquilo que é de Deus.
Que mensagem podemos tirar desse evangelho de hoje?
Falamos, no início desta reflexão, de situações e de pessoas, forças promotoras da vida; são parecidas e se identificam com o ser e o agir de Jesus: cuidam, salvam vidas! É disso que hoje precisamos: de pessoas que como Jesus tenham coragem de se organizarem coletivamente em favor da vida, em favor das pessoas excluídas, que promovam a inclusão, o diálogo, o respeito, a empatia por causas e valores que salvaguardam a vida, as relações fraternas, tolerantes, acolhedoras, que cuidem das pessoas e do planeta, que dê a Deus o que é de Deus: seus filhos e filhas com dignidade e segurança de saírem e poderem viver numa sociedade empoderada sem medo de que lá na rua, na esquina, sofram violência de toda sorte, seja de um olhar, uma palavra ou um gesto.
Precisamos, como Jesus, devolver a Deus o que é de Deus, um mundo melhor, com pessoas melhores; e para isso, precisamos confrontar-nos com os “Cesares” e seus representantes dentro de cada um de nós mesmos, também dentro de nossos grupos, dentro de nosso convívio social, familiar, religioso. E confronto aqui não seja entendido como de um ato violento como César faz com Jesus, com o povo e com cada um de nós hoje, mas, seja, sim, esse confronto entendido como uma reeducação, um novo olhar, um novo sentir e um novo chegar junto, para experienciar esse outro lado, que é o que pertence a Deus: seus filhos e filhas unidos fraternalmente imbuídos de vida e santidade a cantar a vida e o amor como um grande hino de louvor a Deus e de serviço à vida e aos irmãos e irmãs. É possível? Demos a Deus o que é de Deus, a César o que é de César!
Sebastião Catequista
CEBI-PE