A Vida acima do Lucro

Apresentação:

Simone Furquim Guimarães, do Cebi Planalto Central.

Neste domingo, o Evangelho de Lucas 16,1-13, nos convida a refletir sobre a parábola que Jesus fala a seus discípulos, conhecida como “parábola do administrador desonesto. Vamos à parábola…

Texto:

Naquele tempo, 1 Jesus dizia aos discípulos: “Um homem rico tinha um administrador que foi acusado de esbanjar os seus bens. 2 Ele o chamou e lhe disse: ‘Que é isto que ouço a teu respeito? Presta contas da tua administração, pois já não podes mais administrar meus bens’. 3 O administrador então começou a refletir: ‘O senhor vai me tirar a administração. Que vou fazer? Para cavar, não tenho forças; de mendigar, tenho vergonha. 4 Ah! Já sei o que fazer, para que alguém me receba em sua casa quando eu for afastado da administração’. 5 Então ele chamou cada um dos que estavam devendo ao seu patrão. E perguntou ao primeiro: ‘Quanto deves ao meu patrão?’ 6 Ele respondeu: ‘Cem barris de óleo!’ O administrador disse: ‘Pega a tua conta, senta-te, depressa, e escreve cinquenta!’ 7 Depois ele perguntou a outro: ‘E tu, quanto deves?’ Ele respondeu: ‘Cem medidas de trigo’. O administrador disse: ‘Pega tua conta e escreve oitenta’. 8 E o senhor elogiou o administrador desonesto, porque ele agiu com esperteza. Com efeito, os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz. 9 E eu vos digo: Usai o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas. 10 [Quem é fiel nas pequenas coisas também é fiel nas grandes, e quem é injusto nas pequenas também é injusto nas grandes. 11 Por isso, se vós não sois fiéis no uso do dinheiro injusto, quem vos confiará o verdadeiro bem? 12 E se não sois fiéis no que é dos outros, quem vos dará aquilo que é vosso? 13 Ninguém pode servir a dois senhores. porque ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao Dinheiro”.]

Comentário:

Num primeiro momento, nos causa estranheza e impacto o teor da parábola. Parece que Jesus apoia a corrupção e prega a injustiça. Mas, devemos compreender que se trata de uma parábola. A finalidade da parábola é de compreender o profundo por trás da narrativa. É no final do texto que Jesus mostra o que pensa: “Vós não podeis servir a Deus e ao Dinheiro”.

É uma conclusão crítica que Jesus faz sobre o administrador desonesto, que furtou o dinheiro do patrão para garantir seu futuro. Jesus também nos provoca a refletir sobre como lidamos com o dinheiro ou como vivemos na lógica do acúmulo de bens materiais e da exploração.

Jesus critica aquele que vive do dinheiro injusto/iníquo, critica também aquele que valoriza mais o dinheiro do que as pessoas. O dinheiro passa a ser o “senhor” de sua vida. A palavra Dinheiro está com a inicial maiúscula, entendido como deus. Ou seja, quem adora o deus dinheiro vive a lógica do acúmulo, do lucro pela exploração.

Na encíclica Evangelii Gaudium, nº 55, o Papa Francisco faz a mesma crítica. Ele diz que nós criamos novos ídolos quando aceitamos que o dinheiro domine sobre nós e as nossas sociedades: “A crise financeira que atravessamos nos faz esquecer que, na sua origem, há uma crise antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano”.

Jesus critica a lógica do sistema que prega que para ser feliz, realizado, a pessoa tem de “ter” os bens materiais e passa a adorar o “deus mercado”. O mercado tem até sentimento. Quantas vezes ouvimos nos noticiários que “o mercado está nervoso”. Quem é esse mercado? “Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro” (v.13).

É preciso ler também os versículos 14 e 15, pois o evangelista fala que os fariseus são amigos do dinheiro e zombam do ensinamento de Jesus. Por causa disto, Jesus foi mais enfático com eles: “Vós sois os que passam por justos diante dos homens, mas Deus conhece os corações; o que é elevado para os homens é abominável diante de Deus” (v.15).

Deus sabe bem a origem do dinheiro da falsa “caridade” que está sendo feita para se passar por “justo”. Esse dinheiro é abominável para Deus porque foi adquirido a partir da exploração das pessoas, gerando pobreza e miséria no mundo. Quem tem o dinheiro de origem iníqua, não está preocupado com a justiça socioambiental, com as desigualdades econômicas, com a fome e a miséria, com os genocídios que acontecem para expandir terras e bens materiais, como o exemplo o que está acontecendo hoje na faixa de Gaza.

Que aprendamos com o Evangelho a servir a Deus e não ao “Dinheiro”; aprendamos a viver a lógica do Reino: que é a partilha, a solidariedade, o amor com o próximo, a fraternidade; e não reproduzimos a lógica do sistema consumista e individualista, que explora os seres humanos e o meio ambiente. Amém!

Carrinho de compras
Rolar para cima