Domingo XVII do Tempo Comum
Lucas 11,1-13
Humberto Maiztegui Gonçalves – CEBI RS
- A oração que emerge do profetismo.
Tanto o Evangelho da comunidade de Lucas quanto Atos dos Apóstolos são dedicados a “Teófilo” (cf. Lc 1,1-3 e Atos 1,1). Este destinatário mais do que uma pessoa é uma “personalidade corporativa”, muito comum nos textos bíblicos, onde uma referência aparentemente individual representa um grupo. Neste caso, Teófilo, representa as pessoas provenientes das tradições religiosas greco-romanas que aderiram, ou se converteram ao cristianismo.
Lucas apresenta para estas pessoas, não tão habituadas ao profetismo bíblico, a didática da oração, através de um pedido do grupo de discípulos e discípulas:”Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou aos discípulos dele” (Lc 11,1). Este pedido e referência não aparecem na versão de Mateus (cf. Mt 6, 9a). Lucas toma como fonte João Batista, isto é, uma oração que emerge da profecia (cf. Lc 11,1). A oração, no lugar de ser feita de forma reservada, parece mais um grito profético: “Pai que estás nos céus” (como um grito que pede socorro). Não coloca “nosso” que aparece na versão de Mateus (6,9b). Logo depois, exemplifica o sentido da oração, através de uma situação emergencial que provoca um incômodo. Essa ênfase faz lembrar a música de Chico Buarque de Holanda, “Cálice”: “Pai afasta de mim esse cálice”. Um jeito de orar que grita para incomodar e alcançar o acolhimento e a justiça.
- A centralidade do pão.
A estrutura da oração profética de João e Jesus tem como centro o pão!
A – Pai! Santificado seja teu nome, venha o teu reino (11,2b)
B – O pão nosso de cada dia no dá hoje (11,3)
A – Perdoa nossos pecados, como também nos perdoamos, não nos deixes cair em tentação e livra-nos do mal (11,4).
O projeto profético de João e de Jesus é o que garante o pão. Participar deste projeto exige que as pessoas perdoem assim como são perdoadas (sem se acharem superiores às outras), que não caiam na tentação de abandonar o projeto libertador e que o “mal”, ao qual a profecia se opõe não lhes atinja, para seguir profetizando. Aqui outra música latino-americana vem à tona, de Maria Helena Wlash, “La Cigarra”: “E na hora do naufrágio e na da escuridão, alguém me resgatará para seguir cantando”.
- A profecia inoportuna e o exemplo do amigo que pede pão (11,5-8).
Para enfatizar ainda mais a centralidade do pão, apresenta uma pessoa que recorre no meio da noite a um amigo pedindo três pães (Lc 11,5). Será que estes três pães não se referem às três partes da oração? 1. Santificar o nome e desejar o reinado; 2. Abraçar o projeto do pão para todas as pessoas; 3. Perdoar os pecados e livrar-se da tentação e do mal? A espiritualidade profecia emerge da sensibilidade em relação à necessidade das outras pessoas (“meu amigo chegou de viagem e não tenho o que lhe oferecer”; Lc 11,6). Por ser sempre urgente é sempre inoportuna e por isso a tendência de ser rejeitada. Por isso se desenvolve na insistência (Lc 11,7). É a importunação que constrói o ativismo profético (Lc 11.8, se ligando com ensinamento da “viúva pobre e do juiz injusto” em 18,6).
- O poder transformador da espiritualidade profética (11,9-12).
Deus responde a quem vive a espiritualidade profética da centralidade do pão! Quando se bate nas portas elas se abrem! O Deus da profecia é “Pai” de quem luta por justiça, assim como um Pai ou Mãe de amor não daria para a filha ou filho uma cobra (o mal) a quando lhe pede peixe (símbolo de Jesus), nem um escorpião (símbolo da traição) a quando lhe pede ovo (símbolo da ressurreição).
- Acreditar na profecia empoderada pelo Espírito (11,13).
O pão, neste último versículo é trocado pelo Espírito Profético. Para que se faça realidade o tempo em que todas as pessoas tenham pão, é necessário que todas as pessoas tenham o Espírito da profecia.


