Reflexão do Evangelho

A Natalidade como fundamento da promessa – Lucas. 3,10-18

Leituras:

1ª. Sofonias 3, 14-18a.

Cântico: Isaías. 12,2-3.4bcd.5-6.

2ª. Filipenses. 4,4-7. (8-9).

Evangelho: Lucas. 3,10-18.

Ante todas as situações pelas que se encontra passando o mundo e ante os próprios infortúnios a dúvida nos interpela, a desilusão, o desânimo e até a vontade de deixar de lado tudo. Perguntamos: que sentido tem vivermos esta história tão carregada de conflitos, guerras e mortes? Até chegamos a questionar se é Deus mesmo quem a conduz?

Mesmo, Sofonias anunciando o “Dia de Yahweh”, que poderá vir como cobrança de todos os males, como castigo pelos pecados cometidos pessoal e coletivamente contra o Deus Vivo, este dia pode se manifestar como realização da Promessa de salvação realizada a um resto humilde, modesto; porém, fiel ao projeto de Deus de uma comunidade justa, fraterna, solidária e igualitária; ainda que, o profeta denuncie as injustiças e pecados, políticos e religiosos, cometidos pelo povo e seus governantes, ele não perdeu a esperança e menos a confiança no reinar de Deus no meio do seu povo, pois, sua promessa está viva.

Todos sabemos das advertências que são feitas pelas pessoas que se relacionam com o mundo e seus habitantes com amor e cuidado, sentindo-se responsáveis com a casa comum, sejam estas cientistas, ecologistas, indígenas, quilombolas, homens e mulheres, líderes de movimentos de todo tipo, que ainda julgando povos, nações e governantes conhecem a promessa, a possiblidade de restauração. O “Dia do Senhor”, é o dia da transformação, da recriação do Povo de Deus e de suas relações de irmandade, igualdade e liberdade. O novo Povo de Deus nasce da alegria do perdão, do fim do medo e sobretudo da presença de Deus na

comunidade revolucionada pelas novas formas de organização política, econômica, cultural e sua ética social.

Une-se Isaías à celebração dos exilados da terra com seu cântico de ação de graças; pois, do Senhor veem a promessa, o poder revolucionário da salvação que cria homens e mulheres, pares livres e iguais, que dão sentido e objetivo a suas existências com práticas e valores novos, frutos do poder coletivo do acordo, do encontro e de ideais que perpassam o humano em sua diversidade e pluralidade; como felizmente manifesta-o Paulo ao enaltecer os valores dos gregos, dos diferentes (Evódia = acordo; Síntique = encontro; Sízigo = companheiro [Fl. 4, 2-3]), que fundaram sua virtude na verdade, nobreza, justiça, pureza, honra e amor (Fl. 4, 8-9); assim, nos dá a conhecer Paulo que a promessa, não é um bem particular de um povo, uma classe política, religiosa ou econômica exclusiva.

Destarte, o que devemos fazer? Pergunta Lucas e, a resposta está numa ação só conversão, desenvolver uma práxis comunitária diferenciada daqueles que perderam sua responsabilidade pelo cuidado do mundo comum, aqueles que alicerçaram seu agir na exploração, violência e morte; em uma palavra em aqueles que gastaram sua vida em fazer o mal.

Neste tempo de espera, de advento, conversão é desenvolver um agir social, político, econômico e religioso na partilha, justiça, equidade e fraternidade, ninguém pode ficar de fora sob nenhum pretexto ou condição; na espera do messias os pastores, os pobres, os anjos e os céus anunciam: “Um menino vos há nascido” (Lc. 2, 8-12).

Assim, a promessa do messias dada ao resto, ao Novo Povo de Deus, não está no poder dos impérios, dos poderosos, dos exércitos estes são soberanos pela força das suas armas, dos instrumentos de violência, do domínio e da exploração, ou seja, da morte; nenhuma sociedade se consolida no poder dos instrumentos de morte; muito pelo contrário é na natalidade, na vida nova que chega, que nasce a promessa e se realiza o novo no mundo: “nascemos para viver, não para a morte” (Jo. 10, 10).

Antonio Enrique Fonseca Romero – Teólogo, filósofo e Biblista do CEBI Amazonas
Instagram: @cebi.am [email protected]

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