Domingo XXIV do Tempo Comum
Reflexão sobre Lucas 15,1-10
Ana Valéria – CEBI/CE
Nós que somos pessoas do século XXI, somos extremamente metódicos em nossos modos, isso porque como a ciência tem se desenvolvido muito nos últimos tempos, estamos acostumados com a lógica e a coerência em tudo. Por exemplo, sabemos que virando a chave de uma ignição de um carro é natural que ela acione o motor, ou, ligando um interruptor de uma lâmpada, que ele acenda uma luz, ou ainda, que olhando para o céu através de um telescópio que uma imagem aumentada de um astro surja… E vários outros exemplos poderiam ser citados. Esse tipo de percepção do mundo nos torna bastante pragmáticos e certeiros em nossas expectativas. Mas, por que estou falando disso? Para comentar sobre a falta de lógica que o Reino de Deus muitas vezes aparenta para nós.
Na parábola de Lc 15:1-10, Jesus lança mão de uma ilustração que escapole à nossa visão de causa e efeito natural. Ora, quem em sã consciência, tendo cem ovelhas consigo, no meio da secura do deserto, percebendo a falta de uma, larga as demais para ir procurar essa fujona? Não é dito que essas estavam a salvo em um redil, ou que alguém as tenha ficado vigiando enquanto o pastor preocupado sai em busca de apenas uma. Não, o que está bem claro é que essas podem ter ficado sujeitas ao ataque de saqueadores ou de lobos até o tempo do retorno de seu cuidador. Isso tem lógica para você? Não seria melhor garantir a integridade física dessas que obedeceram e ficaram com ele, deixando que a outra sofresse as consequências de sua ação irresponsável? Pois bem, seria! Mas não é assim que “a banda toca” quando diz respeito ao Reino de Deus, contrariando todas as nossas expectativas.
Essa parábola, ainda que sem lógica para os nossos padrões, grita a plenos pulmões que o verdadeiro valor não está naquilo que acreditamos ser o óbvio, mas no resgate de quem se perdeu. Foi com aquela que Ele se preocupou mais por conta das circunstâncias. Entenda: é Ele quem estabelece o valor e a prioridade por ver o que não conseguimos ver, daí a ideia aqui não é enfatizar o “abandono” das 99, mas o quanto Ele está disposto a ir aos confins da terra por causa de uma, é abandonar tudo por causa daquela que está perdida. Que alegria deve ter sido para o pastor encontrá-la, ainda que tirando a inconsequente da boca de um predador, e levá-la de volta.
Não devemos esperar uma lógica cartesiana das ações de Deus, isso é coisa de humanos. Devemos esperar, sim, amor e misericórdia sem fim, ainda que contrarie a nossa ciência.


