Quando eu escrevi pela primeira vez sobre este texto era um domingo de páscoa. Aquele dia amanheceu sob um brilho intenso de sol nos céus de Campina Grande, a cidade onde moro. Enquanto escrevia, me lembrava daquele dia nos arredores de Jerusalém. Também era domingo. As Marias que andaram com Jesus se dirigiram ao túmulo escavado na pedra. Embora as flores e as arvores cantassem embaladas pelo vento, as Marias e suas companheiras estavam tristes e chorosas. Seus corações protestavam contra o brilho do sol que teimava em pintar esculturas angelicais usando as nuvens como tela. A natureza explodia em louvores Àquele que escreveu a poesia divina no DNA da vida…nossas amigas, alheias ao anúncio da vida, chegaram ao sepulcro para ungir o corpo do cristo morto e também chorar a sua ausência.
Entristecidas que estavam, foram tomadas pelo desespero ao perceberem que o sepulcro estava vazio…
– Roubaram o corpo do nosso Rabi! Gritou Marta, a irmã de Lázaro, em soluço incontido. Atônitas e sem saber o que fazer não percebiam o clarão que vinha de fora. Maria Madalena encontrou forças para uma prece. Fechou os olhos em oração e, enquanto falava com Deus, sentiu uma briza suave que vinha da entrada do sepulcro. Chamou suas companheiras para irem em busca de ajuda. Precisavam encontrar o corpo do Nazareno…
Ao saírem, perceberam que havia uma luz diferente iluminando o dia. Confusas que estavam, não viram os homens de branco em pé ao lado do túmulo. Só se deram conta da presença deles quando suas vestes começaram a brilhar. As mulheres atônitas com a luz curvaram-se com o rosto em terra. Um dos mensageiros de Deus com voz firme, porém suave, lhes perguntava pela razão da sua busca:
“– Por que é que vocês estão procurando entre os mortos aquele que vive? Ele não está aqui. [Ele] ressuscitou!” (Lucas 24:5).
O anjo lhes relembrou tudo o que o próprio Cristo havia previsto sobre aqueles dias de cruz e calvário. Lembrou a elas que o Caminho do Nazareno não poderia ter outro final diferente da cruz e do martírio. Relembrou também o custo de escolher o amor e a justiça como fontes de valores para permanecer do lado dos que foram abandonados pelo Estado e desprezados pela religião, que eram descartáveis e matáveis pela ação perversa daqueles que se julgavam mestres do direito civil e doutores nas tradições religiosas. Leis e tradições usadas para justificar suas riquezas indevidas e as suas maldades articuladas contra o povo a quem, mentindo, dizem servir.
Lembrou-lhes também, o anjo, do sentido histórico da ressurreição, mostrando que jamais morrerá aquele vive na memória dos que lutam movidos pelo amor e pela justiça. Assim como o sentido transcendental da Páscoa apontando a vitória da vida sobre o poder destrutivo da morte! Dessa maneira, o mensageiro o de Deus despertou, uma vez mais, a fé que alimentou as esperanças daquelas Marias e suas companheiras enquanto caminhavam com Jesus de Nazaré, ainda que, no horizonte da caminhada, a cruz se apresentasse como destino final. Só que, agora, elas percebiam, com clareza solar, que existia vida além da cruz! Seu entendimento foi aberto para contemplarem a unidade entre a vida histórica, aqui e agora, e a vida pascal, que rasga a eternidade repleta de luz e plena de sentido.
De repente tudo fez sentido para elas. Suas mentes foram tomadas pela certeza da ressurreição! A tristeza deu lugar à alegria e ao desejo de anunciar a todos que Jesus Cristo estava vivo! Aquelas que jamais o abandonaram, nem mesmo no evento da crucificação, saíram daquele sepulcro como apóstolas do evangelho da vitória da vida sobre as forças da morte! A elas dedico esta reflexão porque são profetizas de um mundo novo, em que a força da vida, que flui do Senhor ressurreto, é capaz vencer todas as estruturas caducas dos patriarcados geradores de morte, onde quer que seus aguilhões se manifestem.
Nestes tempos de mentiras travestidas de verdades, de ódios e injustiças, celebramos a pascoa do Senhor como fontes de amor e justiça para o acolhimento da a vida em todos os lugares onde o espírito e a alegria das Marias estejam presentes. Que seja sempre assim! Amém, amém e amém.
Texto adaptado de uma das crônicas do livro Café Com Esperança – para deixar a vida mais leve, lançado por este autor, pela Editora CEBI.
Pr. Lenon Andrade