Um Jesus Ressuscitado é um Povo com seus territórios livres

No princípio estava a Palavra, e a Palavra estava com Deus e a Palavra era Deus (João 1,1); para os povos indígenas a Palavra é Sagrada têm a força e dignidade que carrega cada povo e guarda a memória do seus Ancestrais, a Palavra mantem viva sua espiritualidade de onde nasce a resistência para permanecer no seu território cuidando do bem viver de tudo e de todos os seres em gestação que dão harmonia ao sentido da existência da Mãe terra em comunhão com as vidas,  criaturas saídas das mãos do único Criador.

Nela havia vida, e a vida era luz dos homens.  E a Luz brilha nas trevas, e as trevas não a dominaram (João 1,4-5); passaram vários séculos e os diferentes povos não deixaram apagar a luz, a luz que mantem viva as diversas vidas todas elas guardadas cuidadosamente na Memória e Sabedoria em cada líder espiritual, e vão passando seus ensinamentos de geração em geração, mantendo seus costumes e tradições as mesmas que até hoje são inspiração da Palavra e da Luz, reveladas na alegria, esperança, sua organização no cuidado da paz e da justiça.

Escrever sobre a realidade dos povos indígenas em Mato Grosso do Sul é mostrar como ainda o colonialismo impera, assim como nos tempos de Jesus, o poder social e institucional religioso controlam as diferentes sociedades, colonizadas pelo poder Romano; toda a multidão e levou Jesus a Pilatos. Começaram então a acusá-lo, dizendo: Achamos este homem fazendo subversão entre o nosso povo, proibindo pagar impostos a César e afirmando ser ele mesmo o Cristo, o rei. Lc. 23, 1-3; este fato judiciário que Jesus sofreu também aqui em nosso estado do MS os povos indígenas sofrem sendo julgados, interrogados e sendo condenados pelos poderes do estado, onde são condenados com leis que amparam aos fazendeiros e pecuaristas, porque eles geram emprego e progresso para a nação brasileira.

No silêncio de cada reserva, aldeia e retomada, onde moram os povos Guarani, Kaiowa, Ñandeba e Terena, todos no Sul do estado do MS, sofrem muita violência, essa dor é indescritível até as vezes parece absurda, só pelo fato de ter uma comunhão tão intima com sua Mãe Terra que gera vida e essa vida é ferida a cada dia pelos grandes mono-cultivos que existem na região.

Também na parte norte na região Pantanal os povos, Guató, Kambá, Kinikinau, Kadiweo, Layiano, Atikum e Terena, sofrem indiferença, invisibilidade por parte das autoridades responsáveis em promover políticas públicas diferenciadas e voltadas desde um envolvimento à diversidade de cada povo.

O poder judiciário está anulando nossa existência indígena no estado brasileiro.

Todos os territórios ainda estão esperando os processos de demarcação, só que as falsas soluções por parte do sistema jurídico têm dado força ao projeto de lei do dia 28 de dezembro de 2023: Senado Federal promulga a Lei 14.701/2023 Com a promulgação da lei, o Congresso Nacional reafirmou sua postura anti-indígena e agiu com desrespeito à autoridade do STF e à própria Constituição. É o STF, como Corte constitucional, que possui a atribuição de resguardar e interpretar a Constituição Federal. Essa função não cabe ao Congresso – menos ainda quando se está diante de artigos que gozam de proteção especial, como é o caso dos artigos 231 e 232 da Constituição. Os direitos indígenas são entendidos como cláusulas pétreas. Isso significa que são direitos fundamentais, essenciais à sobrevivência desses povos, e que não podem ser alterados nem mesmo por Propostas de Emenda à Constituição (PECs) – muito menos por leis comuns, como é o caso da Lei 14.701. Apesar de todos estes absurdos, a lei segue em vigor e o poder público fica obrigado a respeitá-la. Uma verdadeira aberração legal que gera insegurança, neste momento, para todos os povos indígenas do Brasil. Principais pontos da Lei 14.701 A lei 14.701 ainda está em vigor. Entre os ataques contra os direitos indígenas que ela reúne, os principais pontos são os seguintes:

  • Marco temporal: a tese, declarada inconstitucional pelo STF, é usada como critério não só para a demarcação de todas as terras indígenas, mas também para as terras já regularizadas, que podem ter sua demarcação anulada com base na Lei. (CIMI – Direitos Indigenas)

“Para existir temos que resistir” este slogan acompanha todas as manifestações, retomadas, incidências, enfrentamento aos diferentes ataques recebidos por parte do sistema capitalista representados pelos diferentes instancias:  fazendeiros, agropecuaristas e sistema de desenvolvimento

Um Jesus Ressuscitado é um Povo com seus territórios livres

“A Memória é o toque que conecta ao ancestral nossa organização, nossa união e nossa voz são as ferramentas que garantem que esse legado siga vivo.  Porque onde houver indígena em pé, haverá resistência” ATL 2025

Fazer uma relação desde a vivencia do Mistério em Jesus Cristo nosso Salvador e Redentor podemos resumir com as palavras de João “Deus é amor” (1Jo 4,16); o amor não se contenta consigo mesmo por causa disso envia o filho no Espírito Santo em missão para anunciar a Boa-nova, esta certeza acompanha ao nosso povo que acredita na luta para gerar esperança, nos cantos, nas danças, nas celebrações onde sua essência de Seres Coletivos afirmam sua existência no meio da invisibilidade da sociedade.

No primeiro dia da semana, bem de madrugada, as mulheres foram ao túmulo de Jesus, levando os perfumes que haviam preparado. Elas encontraram a pedra do túmulo removida”.  Os territórios têm vida por causa das mulheres são elas que mantêm viva a existência de cada povo, são elas que sabem zelar suas tradições, sua sabedoria saberes e sabores, sua língua, são elas que mantêm a esperança em cada encontro com a própria espiritualidade, são elas que não deixam morrer os sonhos de suas aldeias e comunidades, por elas há ainda a diversidade e riqueza em cada cultura. Por elas permanece o coletivo vivo, elas aceitam a vida e aceitam a morte dinamizando a existência. “O filho do homem deve ser entregue nas mãos dos pecadores, ser crucificado e ressuscitar ao terceiro dia. Então as mulheres se lembraram das palavras de Jesus” (Lc. 24 ,1- 2; 7-9), assim como as mulheres do encontro com o Ressuscitado lembraram das palavras de Jesus, assim a palavra dos ancestrais é lembrada pelas mulheres.

As mulheres indígenas cuidam da vida em cada partilha a um encontro e comunhão com o Anúncio da Palavra, passando desde sua oralidade de geração em geração fecundando esperança e certeza de ter seu território demarcado!


Ir. Elsa Aules Chinchero mml
Missionárias de Maria Imaculada e Santa Catarina de Sena. Missionárias Lauritas e também como membro do CIMI regional MS

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