Este é o tema da Semana dos Povos Indígenas que o CIMI – Conselho Indigenista Missionário propõe para todo o Brasil, a ser celebrada nesses dias em torno do 19 de abril, que é consagrado, em todo o continente, como Dia interamericano dos Povos Indígenas.
Como tem ocorrido anteriormente, também nesse ano, a Semana dos Povos Indígenas concretiza para a inserção amorosa com os povos indígenas o tema e os elementos principais da Campanha da Fraternidade da CNBB que, em 2024, é sobre “Fraternidade e Amizade Social”. Por isso, o CIMI propõe como tema “Todas e Todos Parentes” e escolheu como lema a palavra do Novo Testamento: “Razão da nossa esperança” (Cf. 1 Pd 3, 15).
De fato, os/as indígenas costumam chamar uns aos outros de “parente`’. Parente significa ser ao mesmo tempo igual e diferente. Todos se reconhecem como uma só família de irmãs e irmãos, ao mesmo tempo, que cada povo é diferente. Tem uma identidade própria e única. Neste sentido, podemos dizer que os povos indígenas vivenciam a Amizade Social como fraternidade aberta a todos, onde se entende o outro, se ama e cuida do outro.
O lema insiste na esperança, não como otimismo natural de quem pensa que as coisas andam bem, mas sim como opção de fé e de amor que fundamenta a presença solidária, seja das pessoas que trabalham na Pastoral que consiste na inserção amorosa e gratuita, sem nenhum proselitismo religioso, seja nos companheiros e companheiras da sociedade civil que queiram se unir a essa caminhada dos povos originários na busca do que Ailton Krenak tem chamado de “futuro ancestral”, ou seja, uma realidade nova que retoma as raízes do passado e avança para a utopia possível da convivência respeitosa e intercultural em uma sociedade baseada no diálogo, na solidariedade e na Justiça ecossocial.
Anualmente, no Brasil, é publicado um Relatório de Violência contra os Povos Indígenas. Ali encontramos citados vários casos de violências que comprovam as ações e tentativas da elite financeira e agrária, inclusive por meio de seus representantes no Congresso Nacional, em deslegitimar e extinguir os direitos dos povos indígenas. Um exemplo disso é a Lei 14.701/2023, conhecida como “lei do marco temporal”, mais uma investida para negar o direito dos indígenas de existir.
Se todos e todas são parentes, essa Semana dos Povos Indígenas deve ser a ocasião propícia para nos questionar: Como podemos viver melhor o parentesco com os povos indígenas no espaço da Casa Comum, que é a Mãe-Terra e no cuidado com o universo que nos cerca.
Em 2018, ao visitar o Peru, o papa Francisco afirmou que, nunca antes como em nossos dias, os povos indígenas têm sua existência ameaçada. No Brasil, a cada dia, sofremos com as notícias de violência contra os povos originários e o direito a suas terras ancestrais e a viver as suas culturas próprias. Nesses dias, em Roma, o papa Francisco recebeu em audiência particular o nosso irmão e companheiro David Kopenawa, Xamã do povo Yanomami e manifestou assim a sua solidariedade ao sofrimentos dos povos indígenas na Amazônia.
“Graças a Deus, mesmo em meio a tantas violências e ao contínuo desrespeito aos direitos dos povos indígenas, percebemos sinais de esperança. Sem dúvida, na sociedade civil e nas Igrejas, crescem setores solidários com a causa indígena que, como afirmava o querido profeta Pedro Casaldáliga: “é uma causa que parece perdida, mas, para o mundo inteiro, é necessária e invencível, ou seja, ninguém conseguirá vencê-la”.
Irmão Marcelo Barros