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Tempo da Criação

Entre os dias 1 de setembro a 04 de outubro, o movimento ecumênico global celebra o tempo da Criação. Instituído em 1989 pelo Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Dimitrius I, a proposta foi acolhida pelo Conselho Mundial de Igrejas e pela Igreja Católica Romana.  Mais do que ser uma data oficial para que pessoas cristãs do mundo todo celebrem a Criação como expressão do amor de Deus, o Tempo da Criação tem como objetivo responsabilizar pessoas de fé para o cuidado da Casa Comum.

Este ano, o tema do Tempo da Criação é “Esperançar e agir com a Criação”.  Este tema nos provoca a olhar para os eventos climáticos e para as consequências dos crimes ambientais em nosso país.  Nas últimas semanas, o Brasil tem sido encoberto por nuvens de fumaça em consequência de queimadas, que, ao que tudo indica, são criminosas. Aproximadamente 60% do país está encoberto por nuvens de fumaça toxicas.  Como consequência das queimadas, as chuvas que caíram nas regiões sul e sudeste foram “chuvas preta”, carregadas de toxicidade.

Enquanto a natureza nos comunica o seu esgotamento causado pelo modelo econômico baseado na exploração ilimitada dos recursos naturais, acompanhávamos os relatos das violências contra comunidades indígenas. A perseguição aos povos indígenas tem relação com o Marco Temporal. O agro não suporta a ideia de os povos indígenas terem suas terras demarcadas.

A aniquilação dos povos originários e das florestas revelam muito das escolhas econômicas e políticas feitas pelo Brasil. Os povos originários são os guardiões das florestas e das águas. Há muito tempo eles alertam os não indígenas sobre a urgência de estabelecermos relações de não exploração e agressão com o planeta. Ao invés de ouvir este chamado, escolhemos ignorar e aprofundar as agressões, retirando dos indígenas o seu direito ao território e negando aos biomas o seu direito de existir.

Substituímos a diversidade das matas e dos rios pela monocultura e mudamos o curso dos rios para a irrigação. Aos poucos, matamos a terra com o uso intensivo de veneno, contaminamos e destruímos rios. Com isso, seguimos com o projeto colonialista de extermínio dos povos indígenas e de aniquilação do planeta.

A Terra, conforme anunciado pelos cientistas do clima, atingiu seu ponto de não retorno. A floresta Amazônica e, com ela, os demais biomas estão sucumbindo.

A reação do governo diante das queimadas é tímida, talvez por causa do processo eleitoral em curso. Agir em favor dos biomas exige que olhemos para a mineração e a monocultura. Talvez isso não seja interessante neste momento.

Neste Tempo da Criação, resta-nos a escolha entre garantir que gerações futuras tenham o direito a um planeta ou seguir colocando o lucro acima das diferentes formas de vida? A escolha por um ou outro caminho determinará nossa chance de futuro.


Romi Bencke é pastora da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, graduada em Teologia pelas Faculdades EST (São Leopoldo), mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da UFJF. Em 2013 recebeu o prêmio de Direitos Humanos na categoria Promoção e Respeito à Diversidade Religiosa. Atualmente ocupa a função de secretária geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) e integra o grupo coordenador do Fórum Ecumênico ACT Brasil.

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