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Relações Econômicas e Socioambientais

Em alusão ao dia Mundial do Consumo Responsável, o CEBI partilha o artigo da engenheira agrônoma Heloísa do Amaral sobre Relações Econômicas e Socioambientais. Boa leitura!


“Javé Deus tomou o homem
e o colocou no Jardim do Éden,
para que o cultivasse e guardasse.”
Gn 2:15

Na narrativa da criação, o presente de viver em meio às maravilhas do Jardim do Éden, vem acompanhado do compromisso de cultivar e da responsabilidade de guardar. E por vários séculos, podemos dizer milênios – pois se calcula que a agricultura seja praticada pela Humanidade a cerca de 10.000 anos – assim aconteceu. Os povos ao redor do mundo iam cultivando e deixando terras em repouso para que pudessem se recuperar, até que fossem novamente cultivadas, os rebanhos iam sendo deslocados para novos pastos, e os pastos antigos tinham seu tempo de recuperação.

Porém, à medida que as ditas “civilizações” começaram a se desenvolver, avançaram inicialmente sobre as árvores, pois a madeira era necessária para a construção de casas e barcos, assim como para o aquecimento, nas regiões mais frias. A História nos traz o registro de civilizações que desmataram suas florestas com tal voracidade que geraram erosões e salinização de rios, fazendo com que a agricultura fosse definhando, ao ponto de levar ao declínio dessas mesmas “civilizações”.

A Europa é um exemplo do que foi a devastação, nos inúmeros impérios e sucessivas guerras, que precisavam de madeira para os barcos que enfrentavam os inimigos, e muita, muita madeira para reconstruir cidades arrasadas. Na atualidade as árvores existentes são fruto de reflorestamento, na tentativa de recuperar o que foi perdido.

Para além dos impérios e das guerras, a vida continua acontecendo em todos os lugares, com a devastação ou com a paz, a agricultura e a pecuária são atividades econômicas que servem de base a qualquer sistema, pois além da alimentação, que garante a existência, essas atividades também produzem infinitas matérias primas que servem a outros setores da economia.

Durante muito tempo as relações entre a Humanidade e a Terra seguiam, como dizem as sábias palavras do Papa Francisco, compreendendo que “tudo está interligado”, não existe uma Natureza separada do ser humano, assim como o ser humano não pode existir sem a Natureza. Muitos povos ainda vivem reconhecendo essa relação, e são esses povos que têm garantido a biodiversidade, cada vez mais oprimida diante do atual império do capitalismo.

Trazendo para a realidade do território brasileiro, nossos povos originários têm garantido a resistência das nossas florestas, que tiveram também sua história de desmatamento, quando a “civilização” aqui chegou e devastou nossa Mata Atlântica, fazendo com que as madeiras brasileiras atravessassem o oceano para construir e embelezar Portugal e quem mais tivesse relações comerciais com esse império.

Enquanto isso os povos do campo seguiram produzindo alimentos e outros produtos, até que a 2ª Guerra Mundial acabou e a grande indústria bélica, construída para estruturar o gigantesco conflito, ficou sem ter para quem vender seus produtos. Foi nesse tempo que tanques de guerra viraram tratores e insumos diversos foram sendo transformados em adubos químicos e venenos a serem aplicados nas terras. Surge então a chamada “Revolução Verde” nos idos anos 50 e 60, alardeando que só seria possível avançar a produção no campo com uso de máquinas pesadas e muitos produtos químicos. Esse foi um discurso assumido pelo Estado Brasileiro, através de seus serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural.

Porém, assim como Jesus pregou na contramão, dizendo “e quem de vocês quiser ser o primeiro, deverá tornar-se servo de vocês” (Mt 20:27), assim também muitas agricultoras e muitos agricultores também caminharam (e ainda caminham) na contramão desse discurso devastador das grandes máquinas e dos produtos químicos. Vivendo o princípio de que “tudo está interligado” produzem em seus territórios, observando e aprendendo a cada dia com a Natureza, e trabalhando em tudo o que possa potencializar os resultados observados.

Essa caminhada do povo do campo se chama AGROECOLOGIA.

Numa definição mais livre a Agroecologia não é uma ciência, mas agrega conhecimentos diversos, sejam acadêmicos ou populares, buscando uma vivência e uma produção economicamente viável, ecologicamente sustentável e socialmente justa.

Nessa caminhada, um dos passos mais importantes se refere ao cuidado com as sementes, sendo elas a fonte primordial da vida. As grandes empresas transnacionais de sementes avançam com o melhoramento genético, com as grandes cargas de fungicidas para garantir a esterilidade das sementes e o transporte para mais longas distâncias e, mais recentemente, avançam para a transgenia, cujos efeitos antes desconhecidos, agora, através de pesquisas já se sabe que causam grandes transtornos aos organismos que os ingerem, tais como tumores. Já as pessoas que praticam a Agroecologia buscam resgatar as sementes crioulas, de origem local, pois são melhor adaptadas às condições locais, além de garantir a biodiversidade em cada bioma. Produzidas e compartilhadas entre as pessoas que as produzem.

Outra questão bastante discutida pela Agroecologia é a questão da alimentação, pois existem cerca de 300 mil espécies vegetais comestíveis e a Humanidade tem baseado suas fontes de alimentação a 10 plantas: milho, trigo, arroz, batatas, mandioca, soja, batata-doce, sorgo, inhame e banana. Um assunto que tem ganho espaço entre nutricionistas, mas também entre pessoas em geral que se preocupam com a alimentação são as PANCs – Plantas Alimentícias Não Convencionais, que apresenta as diversas plantas e seus múltiplos modos de preparo para consumo.

Além dessas questões, que podemos tratar como mais técnicas, voltadas para questões ambientais e econômicas, a Agroecologia traz com muita força a questão da importância do Feminismo, tendo inclusive uma palavra de ordem que diz “Sem Feminismo, não há Agroecologia”. Na busca por relações sociais mais justas, espaços onde as pessoas possam ter oportunidades iguais, sejam homens ou mulheres, compreendendo que em um mundo de desigualdades, sempre haverão pessoas marginalizadas. No campo, muitas vezes as mulheres trabalham dividindo com os homens o trabalho da roça e arcando com todo o trabalho da casa, e na maioria das vezes sem poder usufruir da renda gerada pelos seus trabalhos. Nesse sentido a Agroecologia busca um mundo inclusivo, onde cada pessoa pode encontrar seu espaço e trabalhar suas habilidades, sendo reconhecida por isso.

De uma forma muito resumida a Agroecologia é a aproximação entre agricultores e agricultoras que vão fazendo feiras, trocando sementes, aprendizados, receitas, e que se juntam com gente da academia que vai conhecendo os produtos, provando as receitas, compartilhando técnicas, promovendo pesquisas, que vão desvendando quais daqueles aprendizados vão gerar mais e melhores produções, e esses resultados, comprovados nas terras do povo do campo, vão conquistar novas agricultoras e agricultores que vão ampliando essa ciranda de gente, pessoas que querem “reconstruir o Jardim do Éden”, com a responsabilidade e o compromisso de cultivar e guardar, fazendo do mundo inteiro um lugar bom de se viver, onde possamos reviver o sexto dia da criação onde “Deus viu tudo que havia feito e viu que tudo era muito bom” Gn 1:31ª

Heloísa Muniz do Amaral, engenheira agrônoma e membra da Igreja Batista do Pinheiro em Maceió-AL

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