Fazendo ecoar o dia da Consciência Negra, partilhamos o artigo de Silvia Souza sobre o racismo estrutural à luz da Bíblia. Além desta reflexão, indicamos os vídeos abaixo como subsidios para aprofundamento no tema.
Racismo Estrutural
- A leitura Popular e Libertadora da Bíblia (LPB) como instrumento questionador das justificações bíblicas para o racismo.
- O Ecumenismo como decorrência da leitura popular e libertadora da Bíblia
- O diálogo interreligioso como prática antirracista
Racismo Estrutural – Iluminação Bíblica
A leitura Popular e Libertadora da Bíblia (como instrumento questionador da justificação do racismo, realizada a partir de leituras literais e fundamentalistas da Bíblia
Concepções de Racismo:
Estrutural: ESTATAIS – ECONOMICAS – JURÍDICAS – IDEOLÓGICAS
Institucional: PODER, POLÍTICAS, CLASSES, GÊNEROS
Individual: HERANÇA FAMILIAR – CULTURAIS – CRENÇAS
A leitura Popular e Libertadora da Bíblia (LPB) como instrumento questionador da justificação do racismo, realizada apartir deleituras literais e fundamentalistas da Bíblia.
Manifestações:
- Preconceito: É o resultado de um modo de capitar o imaginário social e transferir para aspectos da realidade, trabalhando com estereótipos.
- Discriminação: É um ato de poder, que diferencia e hierarquiza.
Tomemos alguns textos bíblicos:
- “Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e mais branco do que a neve serei.” Salmos 51:7
- “Quando a nuvem se afastou da Tenda, Miriã estava leprosa; sua aparência era como a da neve. Arão voltou-se para ela, viu que ela estava com lepra.” Números 12:10
Qual a razão da gente exaltar com músicas o Salmo 51 e não considerar, por exemplo, a passagem de Números 12:10, entre tantas outras?
Muito possivelmente, por que nos aproximamos dos textos bíblicos com um olhar preconceituoso (estereotipado) e com discriminação (poder para diferenciar e hierarquizar).
“Mas o Senhor lhe respondeu: “Não será assim se alguém matar Caim, sofrerá sete vezes a vingança” E o Senhor colocou em Caim um sinal, para que ninguém que viesse a encontra-lo o matasse.” Gênesis 4,15
O texto não diz que o sinal é a pele escura, e, mesmo se dissesse, era um sinal de proteção, a maldição era para quem fizesse mal ao Caim Por que as interpretações que ouvimos nas nossas igrejas são de maldição contra o povo negro?
Gênesis 10,15-18 diz quem são os canaanitas: Canaã gerou Sidom seu primogênito, e Hete, e os jebuseus os amorreus, os girgaseus os heveus, os arqueus, os sineus os arvadeus os zemareus e os hamateus. Depois as famílias dos cananeus se espalharam. “Estes povos foram subjugados pelos israelitas, na conquista de Canaã prometida (no êxodo), começando por Jericó e terminando na monarquia, por meio de guerras de expansão Assim, Canaã não ficava na África, mas na Ásia (se alguma maldição pode ser lida na narrativa, ela não se refere ao povo africano”. (Prof Paulo Proença)
Chaves para uma leitura antirracista da Bíblia:
GENEALOGIA
Palavra do Senhor que veio a Sofonias, filho de Cuchi, neto de Gedalias, bisneto de Amarias e trineto de Ezequias, durante o reinado de Josias, filho de Amom, rei de Judá. Sofonias 1,1.
Outros personagens que trazem a referência de países de África na Bíblia são o mensageiro cuchita de 2Sm18,31-32; Zerá, o poderoso general antíope de 2Cr14,9-14, o próprio Ismael, filho primogênito de Abrão com sua segunda esposa Hagar, a Egípcia (Gn16). Estas genealogias demonstram os grupos de pessoas africanas compondo o chamado povo de Israel.
GEOGRAFIA
A história do povo da Bíblia está a permanente inda e vinda para o Continente Africano, de forma especial para o Egito, porém não exclusivamente. Em Gn 12,10-20, Abrão e Saraí descem ao Egito fugindo da fome e ficam ricos, estas idas ao Egito vão se repetindo em Gênesis 20 e 26.
A memória da África como lugar de origem e refúgio para o povo da Bíblia é tão marcante, que a Comunidade de Mateus vai relatar a fuga da família de Jesus para o Egito, onde garantem a vida do menino (Mt2,13-23).
ANTROPOLOGIA
Olhando desde os mitos originários, como nos propôs Fatinha Castelan no seu livro “Cosmovisão Africana e o Povo de Israel, vamos perceber uma aproximação significativa entre o mito da criação Iorubá, criação egípcia e a criação como é apresentada na Bíblia.
TEOLOGIA
Fatinha Castelan nos apresenta alguns valores da Cosmovisão Africana: Força Vital, Ancestralidade, Circularidade do Tempo, Oralidade e práticas religiosas. Diante deste quadro de valores, é possível arbitrar que a forma como se estabeleceu a narrativa teológica sobre a Divindade Bíblica, segue, significativamente, os princípios da Cosmovisão africana.
Para nos aproximarmos de um texto numa postura afrocentrada, podemos tomar a novela de Rute, Noemi e Orfa na perspectiva apresentada por Maricel Mena Lopes em um texto da Série Mosaicos, organizado pela Koinonia, chamado: A força da solidariedade – O livro de Rute numa perspectiva negra e feminista. Este texto vai situar estas mulheres em uma situação de pobreza, chefiada família, sem presença masculina, realidade bem comum para as mulheres negras no Brasil e em boa parte do mundo. Já aqui, podemos ver as mulheres construindo suas relações pessoais com a Divindade, isto é, fazendo teologia.
O Ecumenismo decorrente da Leitura Popular e Libertadora da Bíblia
“Mestre”, disse João, “vimos um homem expulsando demônios em teu nome e procuramos impedi-lo, porque ele não era um dos nossos. “Não o impeçam”, disse Jesus. “Ninguém que faça um milagre em meu nome, pode falar mal de mim logo em seguida, pois quem não é contra nós está a nosso favor.” Marcos 9:38-40.
Denominar de religião as vivências espirituais e culturais das pessoas que cultuam Orixás e demais entidades advindas das matrizes africanas, assim como o senso comum de sincretismo religioso é um preconceito do colonizador, segundo as pesquisas e experiências do historiador e filho de Santo João Monteiro.
https://drive.google.com/file/d/1HyUYCGIPMaSvfPaEQyuKWj9yRmbjgiSV/view?usp=sharing
Considerações finais
Nesta breve conversa, desejei partilhar algumas de minhas inquietações, que também são a de outras companheiras e companheiros, em busca de relações mais justas, pacíficas e amorosas ou no dizer do profeta Isaias um caminho para aprender a fazer o bem e procurar a justiça.
Silvia Souza
CEBI-PE
Fontes:
Roteiro para analisar textos da
Biblia João Luiz Correia Jr e Sebastião A. Gameleira Soares
Cosmovisão Africana e o Povo de Israel
Maria de Fátima Castelan
O que é Teologia?
Ivone Gebara
Relendo Raça. Bíblia e Religião
Peter T. Nash
A força da solidariedade
O livro de Rute numa perspectiva negra e feminista. Maricel Mena Lopes
O que é Teologia?
Ivone Gebara
Eu mulher… Por uma nova Visão do Mundo
Paulian Chiziane
No Roda Viva, a jornalista Vera Magalhães recebe a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi
Adichie.https ://br.video.search.yahoo. search video?fr mcafee&ei =UTF
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