
Fazendo ecoar a Campanha da Fraternidade 2025, partilhamos o artigo do irmão Marcelo Barros, que nos inspira a pensar sobre a relação entre fé e cuidado com a criação. Saiba mais no site da CF 2025: https://www.cnbb.org.br/campanha-da-fraternidade-2025-conheca-o-tema-a-identidade-visual-e-a-oracao/
Na Quaresma que se inicia nessa Quarta-feira de Cinzas, 05 de março, a Conferência dos Bispos Católicos do Brasil (CNBB) propõe como tema da Campanha da Fraternidade 2025 o desafio da Ecologia Integral. O objetivo é, dentro do espírito quaresmal, promover um processo de conversão integral que leve as comunidades eclesiais e toda a ação pastoral da Igreja, assim como a sociedade civil a maior cuidado com a Mãe-Terra, com a natureza e com a vida, sabendo que tudo está interligado.
Atualmente, na caminhada em comum para salvar a Terra e a natureza, as Igrejas e religiões se dão conta de que não basta proclamar que a natureza é sacramento do Mistério Divino ou que a criação é contínua e que, por trás de cada ser vivo, podemos sempre encontrar o olhar amoroso de Deus, fonte de tudo o que existe. É preciso, além disso, se organizar e se articular para defender a Vida contra esse sistema social e econômico, essencialmente depredador.
Para deter o processo de destruição da natureza e salvar o ambiente que nos envolve, é fundamental mudar o sistema social e econômico que provoca desigualdades sociais monstruosas e lida com as pessoas, com os animais e com a própria terra, como se tudo fosse mercadoria. Dentro desse sistema, nenhuma medida ecológica atingirá a eficácia necessária. O Papa Francisco já tinha deixado claro que o maior culpado pela crise ambiental é o sistema econômico mundial e a única solução é uma Ecologia integral que integre o cuidado ambiental, a justiça social e a conversão de cada pessoa (Laudatum si, cap. IV, n. 137 ss).
Para salvar a integridade da vida no planeta, é urgente deter esse modelo de desenvolvimento, essencialmente, antiecológico e, ao mesmo tempo, garantir à toda população pobre o acesso “à Terra, ao trabalho e ao teto” , como o Papa reconheceu nos seus encontros com os movimentos sociais. Esse assunto é tema de Quaresma porque o cuidado com a justiça socioambiental depende também de uma conversão interior e espiritual, sem qual o ser humano não transforma o modo de se relacionar com os outros, com a natureza e com o Amor Maior, fonte de todo amor.
Essa Campanha da Fraternidade nos propõe celebrar esse retiro pascal da Quaresma sabendo que o esforço da conversão pessoal e comunitária precisa ir além de nós mesmos e abranger a extensão do universo. O nosso olhar sobre o Cristo Ressuscitado não pode separar o Cristo do mundo por ele redimido. A ressurreição de Jesus inicia a restauração de todo o universo, a reconciliação de todas as coisas no corpo ressuscitado do Cristo, que vai além de todas as fronteiras de tempo e espaço e se torna cósmico. Há mais de 70 anos, o padre Theillard de Chardin escreveu: “O cosmos é fundamental e primordialmente vivo. (…) Cristo, através de sua encarnação, é inerente ao mundo, enraizado no mundo, no próprio âmago do mais diminuto de todos os átomos. (…) Para mim, nada se afigura mais vital, do ponto de vista da energia humana, do que o aparecimento e, eventualmente, o cultivo sistemático, de uma consciência cósmica que una o ser humano, o universo e o Amor Divino presente em nós e em tudo o que existe”.
Autor: Marcelo Barros