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CEBI na Minha Vida – Ildo Bohn Gass

Eu sou Ildo Bohn Gass e nasci há 67 anos no interior de Santo Cristo/RS. Hoje moro em São Leopoldo/RS com Tiago e Lucas, meus filhos.

Desde jovem, nunca encontrei respostas para minhas buscas de fé nas instituições eclesiais da tradição. Em 1975, quando eu já tinha 18 anos e morava em Canoas/RS, tive o primeiro contato com a leitura popular da Bíblia (LPB), que foi na leitura do livro “Deus, onde estás?”. Quem é o autor desse livro publicado pela Vozes em 1972? Frei Carlos Mesters é seu nome. No livro, frei Carlos descreve a busca de Deus feita por personagens da Bíblia. Eles buscam e encontram respostas. A leitura desse livro jogou luzes sobre minhas perguntas de fé. Essa interpretação das Escrituras por frei Carlos ajudou-me a fazer a experiência com um Deus libertador e pleno de ternura. E logo passei a participar de comunidades eclesiais de base (CEBs), em que a teologia da libertação era a luz dessa nova forma de ser igreja. Foi esse contato com os escritos de frei Carlos que me fez descobrir a LPB, já antes do nascimento do CEBI.

Em 1980, quando residia em Porto Alegre e fazia o segundo ano do curso de teologia, aconteceram três momentos que estão muito vivos em minha memória. O primeiro foi em Porto Alegre. No centro acadêmico do qual eu fazia parte, organizamos a semana teológica daquele ano sobre as CEBs. E, além de Leonardo Boff, outro conferencista convidado foi o pastor luterano Milton Schwantes, professor de Bíblia na escola superior de teologia (EST) de São Leopoldo. Sua reflexão teve como ponto de partida uma leitura sociológica da narrativa sobre a cidade e a torre de Babel (Gn 11,1-9). Com Milton, encontrei uma segunda resposta para minhas buscas. Agora, além da LPB, encontrei também a perspectiva política da leitura bíblica. Por isso, quando hoje me perguntam quais as principais fontes em que bebi a água viva para a leitura da Bíblia, não penso duas vezes para responder. São frei Carlos Mesters e o pastor Milton Schwantes.

O segundo momento teve lugar em São Leopoldo. Naquele ano, o tema da semana teológica da EST foi LPB. E frei Carlos foi o convidado para orientar o estudo junto aos estudantes de teologia daquela instituição. Em uma das noites da semana, organizaram uma palestra aberta de frei Carlos para um público interessado no tema. E, junto com colegas da teologia, saímos de Porto Alegre para participar dessa conferência. Esse foi meu primeiro contato pessoal com frei Carlos. Milton também estava presente.

E a terceira memória que marcou minha caminhada no ano de 1980 foi em Caxias do Sul/RS, num encontro do CEBI para a região sul do Brasil. Ali, Milton Schwantes orientou o estudo sobre o Evangelho segundo Marcos. Na ocasião, também conheci um padre que, junto com o pastor Milton e outras lideranças, foi protagonista na articulação do CEBI no sul do Brasil. É o padre Orestes João Stragliotto. Tanto Milton como Orestes, de saudosa memória, já se encontram no “lugar que Jesus lhes preparou” (Jo 14,3). Esse foi meu primeiro contato com o CEBI propriamente dito.

Os anos foram passando e fui morar em São Leopoldo no ano de 1983, onde atuei na coordenação de grupos de reflexão e estudo bíblico nas comunidades da paróquia presidida pelo padre Orestes. Entre 1984 e 1987, integrei a equipe de coordenação do CEBI no sul do Brasil, região que abrangia os estados do Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (Obs.: as regiões do CEBI, como as temos hoje, somente foram organizadas no início dos anos 90). Padre Orestes e pastor Milton integravam essa coordenação. Vários programas de formação foram organizados. Um deles foi um curso para padres e pastores. Lembro, por exemplo, que o padre Adriano Van de Ven, da diocese de Dourados/MS, participou das etapas desse curso. E a presença de Milton na equipe também significa que a parceria ecumênica entre EST e CEBI já vem de longa data. Mais recentemente, entre 2003 e 2018, essa parceria se tornou visível na realização de oito cursos de especialização em Bíblia, conhecidos como DABAR.

Na primeira metade dos anos 80, o CEBI nacional propôs três processos de formação bíblica. A metodologia dos três projetos foi a LPB. E o objetivo final de todos eles foi contribuir na leitura libertadora da Bíblia feita pelas comunidades, de modo que a “Palavra fosse sempre mais luz no seu caminho” (cf. Sl 119,105). Frei Carlos coordenava o Projeto de Aprofundamento, mais voltado para as lideranças nas comunidades de base. Sebastião Armando Gameleira Soares era responsável pelo Projeto Extensivo de formação de biblistas. Desse projeto, tive a alegria de participar do grupo da região metropolitana de Porto Alegre. E quem teve uma presença significativa na assessoria sobre os livros do Antigo Testamento, foi o pastor luterano Carlos Arthur Dreher que, na primeira metade dos anos 90, viria a coordenar os programas de formação do CEBI nacional. 

O terceiro Projeto de formação foi o Curso Intensivo de Bíblia. E o pastor Milton assumiu a coordenação desse projeto. Ele me convidou para assumir a secretaria desse curso. Por isso, Rosângela e eu fomos morar em São Bernardo do Campo/SP, uma vez que o CEBI realizou ali três desses cursos junto à Universidade Metodista entre 1988 e 1990. Era um curso intensivo de seis meses, destinado não somente a lideranças vindas do Brasil, mas também de outros países latino-americanos. Esses anos de trabalho junto com o Milton foram para mim anos de graça. A partir de 1991, esse curso foi assumido pelo Programa Común de Biblia de Red Latinoamericana (REDLA), uma articulação de centros ecumênicos da AL, do qual o CEBI fazia parte. Aliás, a coordenação do Programa Común de Bíblia estava sob a responsabilidade do CEBI na pessoa de Mercedes Brancher. Foi na REDLA que se decidiu, por exemplo, a produção da Revista de Interpretação Bíblica Latino-americana (RIBLA), cujo primeiro número foi publicado em 1988. Pelo CEBI, ainda segui, junto com o pastor Milton, na coordenação dos Cursos Intensivos de Bíblia até 1995. Depois de três anos em outros países, realizamos mais um Intensivo em Salvador/BA no primeiro semestre de 1994.

Essas são algumas das memórias que recordo nos 45 anos de caminhada do CEBI. São experiências que marcam profundamente minha vida. Por isso, sempre é bom colocá-las de novo no coração, isto é, fazer recordação.

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